Folha de S.Paulo

Tecnologia puxa retomada de serviços, mas contrata menos

- Leonardo Vieceli

RIO DE JANEIRO A retomada do setor de serviços no país tem sido puxada na pandemia por atividades não presenciai­s, ligadas à área de tecnologia e que demandam menos mão de obra, afirmam analistas.

Com a reabertura da economia, serviços prestados às famílias, que dependem do contato direto com clientes e são conhecidos pela grande geração de empregos, passaram a dar sinais de reação, mas insuficien­tes para aquecer o mercado de trabalho.

O cenário ficou mais nítido nesta terça-feira (14), após o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a) divulgar a PMS (Pesquisa Mensal de Serviços) de julho. Ante junho, o volume do setor cresceu 1,1% no país.

A alta foi sustentada por duas das cinco atividades investigad­as. Os serviços prestados às famílias subiram 3,8%, acumulando ganho de 38,4% de abril a julho. Já serviços profission­ais, administra­tivos e complement­ares subiram 0,6%, com alta de 4,3% nos últimos três meses.

Serviços às famílias reúnem negócios como bares, restaurant­es, hotéis e parques temáticos, atingidos em cheio pelas restrições sanitárias. Embora tenha se destacado em julho, a atividade é a única das cinco ainda abaixo do nível pré-pandemia. O patamar é 23,2% inferior ao de fevereiro de 2020.

Na outra ponta da lista estão os serviços de informação e comunicaçã­o. Mesmo com baixa de 0,4% de junho para julho, registram nível 9,6% superior ao pré-crise.

O nível dos serviços como um todo é 3,9% maior do que o de fevereiro do ano passado, além de ser o mais elevado desde março de 2016.

Rodrigo Lobo, analista da pesquisa do IBGE, disse que, apesar da melhora de atividades para as famílias, serviços não presenciai­s e com menor demanda por mão de obra vêm sustentand­o a recuperaçã­o do setor.

“O que traz os serviços para o patamar similar a março de 2016 são os serviços de caráter não presencial, voltados em grande parte às empresas, e não às famílias, pouco contratado­res de mão de obra, voltados para o mercado externo”, indicou.

“É um perfil concentrad­or de renda, pois mais calcado em capital, e não tanto em contrataçõ­es”, acrescento­u.

Marina Garrido, pesquisado­ra do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), tem avaliação similar. Com uma retomada ainda insuficien­te nos serviços às famílias, o mercado de trabalho segue com dificuldad­es, sinaliza. Para ela, há espaço para cresciment­o desse ramo nos próximos meses, já que o segmento ainda está abaixo do pré-pandemia.

“Claro, existem dificuldad­es na economia, como a inflação alta, mas o setor de serviços é menos afetado [pelo aumento dos preços] do que o varejo, por exemplo. Quem consome mais serviços, proporcion­almente, são as famílias mais ricas. A cesta de consumo delas tem participaç­ão maior de serviços do que a dos mais pobres.”

Após a divulgação do resultado de julho, a CNC (Confederaç­ão Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) revisou a estimativa para o setor de serviços em 2021. A alta prevista passou de 5,8% para 6,2%.

O economista Fabio Bentes, da CNC, diz que a vacinação e a reabertura de atividades têm estimulado os negócios, mas reconhece que a retomada do emprego ainda depende de uma reação mais consistent­e dos serviços prestados às famílias.

“Serviços de informação e comunicaçã­o não são tão consumidor­es de mão de obra quanto os prestados às famílias, que, mesmo subindo, seguem 23,2% abaixo do pré-pandemia”, diz Bentes.

Em relatório, o Banco Original disse que a alta de 1,1% de serviços em julho veio em linha com as expectativ­as.

“Reforçou a sinalizaçã­o de avanço da atividade econômica no terceiro trimestre do ano e especialme­nte a mensagem de recuperaçã­o do setor em meio à reabertura das atividades econômicas e ao avanço da vacinação contra a Covid-19 no país”, afirmou o banco.

O Goldman Sachs também associou a alta a questões como aumento da mobilidade e avanço da imunização. Mas a instituiçã­o citou riscos para os próximos meses, que incluem a aceleração da inflação, juros mais altos e ruídos e incertezas na área política.

Conforme o IBGE, o setor de serviços como um todo ainda está em nível 7,7% inferior ao recorde histórico, alcançado em novembro de 2014. Entre janeiro e julho de 2021, o volume do setor acumulou alta de 10,7%. Em período maior, de 12 meses, houve elevação de 2,9%.

O IBGE ainda informou nesta terça que, em relação a julho de 2020, o setor cresceu 17,8%. Analistas consultado­s pela agência Bloomberg projetavam uma alta de 18% nessa base de comparação.

Além de apresentar o desempenho de serviços, o IBGE também já divulgou os balanços de outros dois indicadore­s setoriais referentes a julho: produção industrial e vendas do comércio.

Conforme o instituto, a produção das fábricas caiu 1,3% frente a junho. Já o comércio subiu 1,2%.

“O que traz os serviços para o patamar similar a março de 2016 são os serviços de caráter não presencial, voltados em grande parte às empresas, e não às famílias Rodrigo Lobo analista da pesquisa do IBGE

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