Folha de S.Paulo

Piora na popularida­de de Bolsonaro persiste após 7/9

Em novo recorde, reprovação do presidente chega a 53%, aponta Datafolha; aprovação cai para 22%

- Igor Gielow

Após pregar golpismo nos atos do 7 de Setembro, Jair Bolsonaro continua com reprovação em alta. O índice dos que o veem como ruim ou péssimo chegou a 53%, o pior já registrado no mandato, aponta o Datafolha.

Embora dentro da margem de erro de dois pontos, a oscilação em relação ao recorde verificado em levantamen­to feito em julho, de 51% de desaprovaç­ão, dá sequência à curva ascendente desde dezembro de 2020.

O instituto ouviu 3.667 pessoas, nos dias 13 a 15.

Bolsonaro é avaliado como bom ou ótimo por 22%, ante 24% da rodada anterior, que já era sua marca mais baixa; a fatia dos que o consideram regular se manteve em 24%.

Nesta pesquisa, foi identifica­do um aumento mais expressivo de rejeição entre quem ganha de 5 a 10 salários mínimos (41% para 50%, de julho para cá) e entre aqueles com mais de 60 anos (45% para 51%).

Bolsonaro passou a ser mais rejeitado no agregado das regiões Norte e CentroOest­e (16% ), onde costuma ter mais apoio. Em sua live semanal, ele afirmou que “Datafolha não é parâmetro para nada”.

SÃO PAULO Após a semana mais tensa de seu mandato, na qual pregou golpismo para multidões no 7 de Setembro, o presidente Jair Bolsonaro segue com sua reprovação em tendência de alta. Ela chegou a 53%, pior índice já registrado em seu mandato.

Foi oque aferiu o Data folha nos dias 13 a 15 de setembro, quando o instituto ouviu presencial­mente 3.667 pessoas com mais de 16 anos, em 190 municípios de todo o país. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.

A oscilação positiva dentro da margem de erro em relação ao recorde apontado em levantamen­to feito em julho, de 51% de reprovação, dá sequência à curva ascendente desde dezembro de 2020.

O presidente é avaliado como bom ou ótimo por 22%, oscilação negativa dos 24% da pesquisa anterior, que já indicava o pior índice de seu mandato. O consideram regular 24%, mesmo índice de julho.

Isso sugere que as cenas do 7 de Setembro, coma avenida Paulista cheia por exemplo, reproduzem uma fotografia do nicho decrescent­e do bolsonaris­mo entre a população. Se queria fazer algo além de magnetizar fiéis, Bolsonaro fracassou.

Por outro lado, o recuo do presidente após apressão institucio­nal contra a retórica golpista mirando o Supremo Tribunal Federal, também não trouxe impacto perceptíve­l, como queda abrupta de apoio ao presidente na sua base —o que havia sido aferido nas interações de rede social.

Essa tendência de rejeição segue constante neste ano, após um 2019 marcado pelo racha em três partes iguais da opinião da população sobre o presidente e um 2020 que o viu se recuperar da resposta errática à pandemia d aC ovid-19c oma primeira fase do auxílio emergencia­l aos afetados pela crise.

Neste ano, coma ajuda menor, não hou vereação. A agudização da crise política após a cooptação final do centrão como um seguro contra impeachmen­t, por opção exclusiva de Bolsonaro, se mostra uma aposta insuficien­te em termos do conjunto da população.

Também não houve uma mudança que possa ser atribuída aos esvaziado atos convocados por entidades de direita no domingo passado (12).

Não faltaram crises desde o mais recente levantamen­to do Datafolha. Bolsonaro fez desfilar tanques e blindados em Brasília, sem sucesso na tentativa de intimidar o Congresso que não aceitou a volta do voto impresso.

A economia registra problemas em série, a começar pela alta da inflação e da ameaça de crise energética no horizonte próximo.

O estouro do teto de gastos é uma hipótese cada vez mais comentada, e há pouca margem de manobra orçamentár­ia para apostar numa recuperaçã­o de popularida­de amparada em pacotes populistas.

Isso tem levado ao desembarqu­e de setores usualmente simpáticos ao Planalto, como parte do agronegóci­o e do mercado financeiro. Fora a contínua crise sanitária que já levou quase 590 mil vidas no país e apercepção de corrupção federal evidenciad­a na CPI da Covid.

Nesta rodada, o Datafolha identifico­u um aumento mais expressivo de rejeição entre quem ganha de 5 a 10 salários mínimos (41% para 50%, de julho para cá) e entre as pessoas com mais de 60 anos (de 45% para 51%).

Significat­ivamente, Bolsonaro passou a ser mais rejeitado no agregado das regiões Norte e Centro-Oeste (16% ), onde costuma ter mais apoio e de onde saíram muitos dos caminhonei­ros que ameaçaram invadir o Supremo após o 7 de Setembro.

Sob muitos protestos, eles depois foram demovidos pelo pressionad­o presidente.

Lá, sua rejeição subiu de 41% para 48%, ainda que esteja marginalme­nte abaixo da média nacional.

O perfil de quem rejeita o presidente segue semelhante ao já registrado. Péssima notícia eleitoral, já que perfazem 51% da população na amostra, 56% daqueles que ganham até 2 salários mínimos o acham ruim ou péssimo, assim como 61% com curso superior (21% da amostra).

Aqui, nas camadas menos ricas e escolariza­das, há um lento espraiamen­to das visões negativas sobre o presidente. Na já citada camada de quem ganha até 2 mínimos, em julho eram 54% os que o rejeitavam. Na daqueles que recebem de 2 a 5 mínimos, a rejeição foi de 47% para 51%, oscilação positiva no limite da margem de erro.

Ambos os grupos somam 86% da população na amostragem do Datafolha. Outro grupo importante, o daqueles com ensino fundamenta­l (33% da amostra) viu uma subida ainda maior, de 49% para 55%, enquanto houve estabilida­de (49% para 48%) entre quem cursou o nível médio (46% dos brasileiro­s).

Em nichos, há rejeições bastante expressiva­s entre os gays ou bissexuais (6% dos ouvidos), de 73%, e entre estudantes (4%): 63%.

Na mão contrária, os mais ricos são o grupo em que a reprovação mais caiu de julho para cá, de 58% para 46%, retomando pontualmen­te correlação que remonta à campanha que levou o capitão reformado à Presidênci­a.

Entre eles, 36% o consideram ótimo e bom. Integram esse contingent­e 3% da população pesquisada. O Sul (15% da amostra), bastião do presidente desde 2018, segue avaliando ele melhor do que outras regiões: 28%.

Pormenoriz­ando, os empresário­s (2% dos ouvidos) permanecem com os mais fiéis bolsonaris­tas, com 47% de aprovação. É o único grupo em que o ótimo e bom supera o ruim e péssimo (34%).

No segmento evangélico (26% da amostra), outra base de apoio do presidente, as notícias não são muito boas para Bolsonaro.

Desde janeiro, a reprovação já subiu 11 pontos, e está superior (41%) à sua aprovação (29%). Na rodada anterior, havia empate técnico (34% a 37%, respectiva­mente).

Isso ocorre em meio à campanha por ora frustrada de emplacar o ex-advogado-geral da União André Mendonça, que é pastor, para o STF.

A tensão institucio­nal foi das maiores de um governo já acostumado a bater recordes no setor. Igualmente, Bolsonaro só perde para Fernando Collor de Mello (então no PRN) em impopulari­dade a esta altura do mandato, contando aqui apenas presidente­s eleitos para um primeiro mandato.

O hoje senador tinha neste ponto de seu governo, à beira da abertura do processo de impeachmen­t que levou à sua renúncia, 68% de rejeição, ante 21% de avaliação regular e só 9% de aprovação.

Fernando Henrique Cardoso (PSDB) registrava 16% de ruim e péssimo, 42% de regular e 39% de aprovação.

O petista Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, marcava 23%, 40% e 35%, respectiva­mente, e sua sucessora Dilma Rousseff (PT), semelhante­s 22%, 42% e 36%.

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