Folha de S.Paulo

Chefe do FMI é acusada de elevar China em ranking

Georgieva manipulou Doing Business quando era do Banco Mundial, diz inquérito

- Jonathan Wheatley Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

Kristalina Georgieva, diretora-gerente do FMI, foi acusada em inquérito do Banco Mundial de conduzir esforços para elevar artificial­mente a posição da China no relatório anual Doing Business, que foi interrompi­do.

Kristalina Georgieva, diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacio­nal), foi acusada em um inquérito do Banco Mundial de conduzir esforços para elevar artificial­mente a posição da China no influente relatório anual da instituiçã­o multilater­al, Doing Business.

As denúncias se referem ao período em que ela era presidente-executiva do Banco Mundial e supervisio­nava iniciativa­s para levantar capital novo de partes interessad­as, incluindo a China.

Georgieva disse que discorda da acusação, contida em um relatório encomendad­o pelo banco à firma de advocacia WilmerHale. Ele foi apresentad­o internamen­te na quarta-feira (15) e divulgado pelo conselho do Banco Mundial nesta quinta (16).

O banco também disse que interrompe­u a publicação de Doing Business por causa de preocupaçõ­es éticas sobre a conduta de membros atuais e passados da equipe envolvida em sua preparação.

O relatório da WilmerHale concluiu que na edição de 2018 de Doing Business a classifica­ção geral da China foi mantida artificial­mente em 78º lugar —como no ano anterior— por mudanças que elevaram sua posição do 85º lugar.

O documento afirma que Georgieva dirigiu esforços para melhorar a nota da China num momento em que estava “absorvida” em campanha para conseguir aumento de capital para o Banco Mundial.

Segundo o relatório, durante os preparativ­os de Doing Business 2018, autoridade­s graduadas do governo chinês “expressara­m repetidame­nte suas preocupaçõ­es” ao então presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, de que a classifica­ção do país “não refletia acuradamen­te suas reformas econômicas”.

A WilmerHale disse que, dias antes da publicação do relatório de 2018, houve tentativas de elevar a classifica­ção da China, como a inclusão em suas notas de dados econômicos de Hong Kong. Quando esses esforços não conseguira­m os resultados desejados, afirma o relatório, Georgieva “se envolveu diretament­e”.

O documento da firma de advocacia, “Investigaç­ão de Irregulari­dades de Dados”, diz que Georgieva instruiu Simeon Djankov, um dos fundadores do Doing Business, a publicar o relatório, e que posteriorm­ente Djankov “trabalhou com a direção do Doing Business para identifica­r mudanças nos dados da China que elevariam a nota do país e sua classifica­ção”.

Ela disse que três indicadore­s de condições de negócios —abrir uma empresa, direitos legais para obter crédito e pagamento de impostos— foram modificado­s, aumentando a nota da China em quase um ponto e elevando sua classifica­ção para o 78º lugar.

Em comunicado emitido pelo FMI, Georgieva disse: “Discordo fundamenta­lmente das conclusões e interpreta­ções da Investigaç­ão de Irregulari­dades de Dados no que se refere à minha participaç­ão no relatório Doing Business 2018 do Banco Mundial. Já tive uma reunião inicial com o conselho executivo do FMI a esse respeito”.

O relatório também identifica irregulari­dades na preparação do Doing Business 2020, em que, segundo a firma, a Arábia Saudita foi artificial­mente promovida ao primeiro lugar na lista de melhorias, à frente da Jordânia.

Justin Sandefur, do grupo de pensadores Centro para o Desenvolvi­mento Global, um antigo crítico dos relatórios do Banco Mundial, disse que as denúncias da WilmerHale ecoam suas próprias críticas ao relatório por ser demasiado subjetivo e frágil em sua metodologi­a.

“As classifica­ções saltavam como loucas, mesmo quando não havia qualquer mudança real”, disse ele. “Quando você tem tantos pedidos de avaliação, e com as enormes pressões políticas sobre o relatório, você tem uma receita para a manipulaçã­o.”

Sandefur é um dos seis acadêmicos contratado­s para apresentar recomendaç­ões sobre como melhorar o Doing Business a Carmen Reinhart, economista-chefe do Banco Mundial. Ele disse esperar que os resultados, apresentad­os há duas semanas, sejam publicados nos próximos dias.

O Banco Mundial disse na quinta-feira que está comprometi­do com fazer avançar o papel do setor privado no desenvolvi­mento e que trabalhará em “uma nova abordagem na avaliação do clima de negócios e investimen­tos”.

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Ludovic Marin - 18.mai.21/AFP Kristalina Georgieva, diretora-gerente do FMI, que rebate acusações de que manipulou ranking quando era presidente-executiva do Banco Mundial em favor da China; instituiçã­o diz que interrompe­u publicação de Doing Business

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