Chefe do FMI é acusada de elevar China em ranking
Georgieva manipulou Doing Business quando era do Banco Mundial, diz inquérito
Kristalina Georgieva, diretora-gerente do FMI, foi acusada em inquérito do Banco Mundial de conduzir esforços para elevar artificialmente a posição da China no relatório anual Doing Business, que foi interrompido.
Kristalina Georgieva, diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), foi acusada em um inquérito do Banco Mundial de conduzir esforços para elevar artificialmente a posição da China no influente relatório anual da instituição multilateral, Doing Business.
As denúncias se referem ao período em que ela era presidente-executiva do Banco Mundial e supervisionava iniciativas para levantar capital novo de partes interessadas, incluindo a China.
Georgieva disse que discorda da acusação, contida em um relatório encomendado pelo banco à firma de advocacia WilmerHale. Ele foi apresentado internamente na quarta-feira (15) e divulgado pelo conselho do Banco Mundial nesta quinta (16).
O banco também disse que interrompeu a publicação de Doing Business por causa de preocupações éticas sobre a conduta de membros atuais e passados da equipe envolvida em sua preparação.
O relatório da WilmerHale concluiu que na edição de 2018 de Doing Business a classificação geral da China foi mantida artificialmente em 78º lugar —como no ano anterior— por mudanças que elevaram sua posição do 85º lugar.
O documento afirma que Georgieva dirigiu esforços para melhorar a nota da China num momento em que estava “absorvida” em campanha para conseguir aumento de capital para o Banco Mundial.
Segundo o relatório, durante os preparativos de Doing Business 2018, autoridades graduadas do governo chinês “expressaram repetidamente suas preocupações” ao então presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, de que a classificação do país “não refletia acuradamente suas reformas econômicas”.
A WilmerHale disse que, dias antes da publicação do relatório de 2018, houve tentativas de elevar a classificação da China, como a inclusão em suas notas de dados econômicos de Hong Kong. Quando esses esforços não conseguiram os resultados desejados, afirma o relatório, Georgieva “se envolveu diretamente”.
O documento da firma de advocacia, “Investigação de Irregularidades de Dados”, diz que Georgieva instruiu Simeon Djankov, um dos fundadores do Doing Business, a publicar o relatório, e que posteriormente Djankov “trabalhou com a direção do Doing Business para identificar mudanças nos dados da China que elevariam a nota do país e sua classificação”.
Ela disse que três indicadores de condições de negócios —abrir uma empresa, direitos legais para obter crédito e pagamento de impostos— foram modificados, aumentando a nota da China em quase um ponto e elevando sua classificação para o 78º lugar.
Em comunicado emitido pelo FMI, Georgieva disse: “Discordo fundamentalmente das conclusões e interpretações da Investigação de Irregularidades de Dados no que se refere à minha participação no relatório Doing Business 2018 do Banco Mundial. Já tive uma reunião inicial com o conselho executivo do FMI a esse respeito”.
O relatório também identifica irregularidades na preparação do Doing Business 2020, em que, segundo a firma, a Arábia Saudita foi artificialmente promovida ao primeiro lugar na lista de melhorias, à frente da Jordânia.
Justin Sandefur, do grupo de pensadores Centro para o Desenvolvimento Global, um antigo crítico dos relatórios do Banco Mundial, disse que as denúncias da WilmerHale ecoam suas próprias críticas ao relatório por ser demasiado subjetivo e frágil em sua metodologia.
“As classificações saltavam como loucas, mesmo quando não havia qualquer mudança real”, disse ele. “Quando você tem tantos pedidos de avaliação, e com as enormes pressões políticas sobre o relatório, você tem uma receita para a manipulação.”
Sandefur é um dos seis acadêmicos contratados para apresentar recomendações sobre como melhorar o Doing Business a Carmen Reinhart, economista-chefe do Banco Mundial. Ele disse esperar que os resultados, apresentados há duas semanas, sejam publicados nos próximos dias.
O Banco Mundial disse na quinta-feira que está comprometido com fazer avançar o papel do setor privado no desenvolvimento e que trabalhará em “uma nova abordagem na avaliação do clima de negócios e investimentos”.