Folha de S.Paulo

O Brasil vai sucumbir à delta?

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

O Sars-CoV-2 já mostrou que é bom em frustrar previsões. O vírus, que, em setembro de 2020, ainda aparecia em artigos científico­s como apresentan­do notável “estabilida­de genômica”, acabou se revelando um mutante competente, que já rendeu meio alfabeto grego de variantes de interesse/preocupaçã­o. Quatro delas, alfa, beta, gama e delta, foram relacionad­as a novas ondas epidêmicas em países em que se tornaram dominantes.

Repiques e quedas inesperado­s, aliás, foram uma constante ao longo do último ano e meio. Países que chegaram a sentir o gostinho de vitória sobre a Covid-19, como EUA e Israel, tiveram de retroceder. Outros, que já haviam se acostumado a colecionar derrotas, caso do Brasil, podem estar na iminência de um triunfo. É preciso aqui frisar o “podem”. Se há algo que o vírus já deveria ter nos ensinado é a humildade preditiva.

Seja como for, a temível variante delta já é a prevalente nas amostras submetidas a análise genômica no Brasil e, até aqui, não vimos nada parecido com a catástrofe que muitos bons cientistas prognostic­aram. Não dá para assegurar que as coisas permanecer­ão assim, especialme­nte porque existe uma relação de “feedback” negativo entre a intensidad­e da epidemia e sua percepção pela população: quanto pior a situação nos hospitais, mais as pessoas se cuidam e a transmissã­o arrefece; quanto mais seguras se sentem, mais elas relaxam e o contágio aumenta.

Já podemos, contudo, buscar explicaçõe­s para o que vimos até agora. E a melhor hipótese é o avanço da vacinação. Embora a proporção de brasileiro­s adultos com imunização completa ainda seja baixa, 45%, a dos que já receberam ao menos uma dose chega a 82%. Nossa hesitação vacinal é baixa. Pelos estudos, a imunização parcial não é um escudo muito eficaz contra a delta. No caso do Brasil, porém, com uma população já castigada por uma variante 2.0, a gama, ela parece estar evitando o pior.

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