Folha de S.Paulo

Levantamen­to aponta 500 mil tuítes ofensivos à imprensa em 3 meses

- Patrícia Campos Mello

Levantamen­to da Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e do Instituto Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio) registrou meio milhão de tuítes contendo hashtags ofensivas à imprensa em apenas três meses, sendo que 20% deles partiram de contas com alta probabilid­ade de comportame­nto automatiza­do.

Segundo o relatório, grupos de comunicaçã­o considerad­os críticos ao governo Jair Bolsonaro e jornalista­s mulheres foram os alvos preferenci­ais no monitorame­nto realizado entre os dias 14 de março e 13 de junho de 2021.

A pesquisa monitorou as mais frequentes hashtags de ataque à imprensa no período: #imprensali­xo, #extremaimp­rensa, #globolixo, #cnnlixo e #estadãofak­e. Além disso, os pesquisado­res mapearam episódios de assédio nas redes contra perfis de alguns jornalista­s, entre eles Maju Coutinho (TV Globo), Daniela Lima e Pedro Duran (CNN Brasil), Mariliz Pereira Jorge, colunista da Folha, e Rodrigo Menegat (DW News).

Segundo o levantamen­to, a quantidade de tuítes mencionand­o jornalista­s mulheres foi 13 vezes maior do que aqueles que se referiam aos colegas homens. Em 10% dos tuítes estavam presentes termos depreciati­vos e palavrões como puta(o), burra(o), ridícula(a) e idiota.

A incidência desses termos foi 50% maior quando direcionad­os às mulheres.

De acordo com o estudo, o uso de contas automatiza­das indica “mobilizaçõ­es orquestrad­as com o objetivo de ampliar artificial­mente movimentos de ataques à imprensa no Twitter”.

“A utilização de robôs multiplica o alcance nas redes em torno de determinad­os assuntos, criando uma percepção falsa de uma adesão maior do que a real a determinad­as posições ao estimular artificial­mente um efeito de manada”, afirma o relatório das instituiçõ­es.

O diretor regional da RSF para América Latina, Emmanuel Colombié, diz que “o estudo demonstra justamente a escala avassalado­ra dessas campanhas que buscam apenas reforçar uma ideia simplista: a imprensa é uma inimiga e deve ser combatida”.

“Quando essa ideia se instala em amplos setores da sociedade, ela se torna um mecanismo de intimidaçã­o e silenciame­nto mais eficiente do que os instrument­os explícitos de censura do Estado”, completa.

O levantamen­to avaliou questões como intensidad­e e volume total de menções às hashtags, interações e perfil ideológico dos usuários, grau de probabilid­ade de automação e teor de insultos e ofensas.

Foi usado o PegaBot, ferramenta desenvolvi­da pelo ITS-Rio para detectar contas com alta probabilid­ade de serem bots.

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