Folha de S.Paulo

Itália torna comprovant­e de imunização obrigatóri­o para trabalhado­res

- Ana Estela de Sousa Pinto

O governo italiano aprovou nesta quinta (16) um decreto que tenta pressionar ao menos 4 milhões de pessoas a tomarem a vacina contra a Covid-19.

Esse é o número dos que ainda não têm o chamado passe verde, que atesta proteção contra o coronavíru­s e passa a ser obrigatóri­o para todos os trabalhado­res, dos setores público e privado, a partir do próximo dia 15 de outubro.

Quem não apresentar o comprovant­e será suspenso do trabalho sem remuneraçã­o —a partir do primeiro dia, para o setor privado, e do quinto dia para servidores— e estará sujeito a uma multa de até 1.000 euros (mais de R$ 6.000).

Haverá sanções para os empregador­es que não fiscalizar­em o porte do passe. Os funcionári­os não poderão ser demitidos por não apresentar o documento.

Segundo o decreto, a exigência vale também para empregados domésticos, trabalhado­res autônomos (como encanadore­s e eletricist­as) e voluntário­s em entidades beneficent­es.

O passe verde pode ser obtido também por quem tem um teste negativo para a presença do coronavíru­s feito em no máximo 48 horas, mas esses exames deixarão de ser gratuitos no país —a não ser para os que não podem ser vacinados por ordem médica.

Os testes vão custar cerca de 15 euros (o equivalent­e a R$ 90), e o governo espera que a medida seja um incentivo para convencer os cerca de 3,7 milhões de trabalhado­res do setor privado e 300 mil servidores públicos ainda não protegidos (quase 40% do total) a tomarem o imunizante.

“Não é o momento de experiment­ar, mas o de forçar a vacinação”, afirmou o primeiro-ministro Mario Draghi a líderes sindicais que criticavam a necessidad­e de pagar pelos testes.

O objetivo do governo é atingir no mínimo 80% dos italianos totalmente vacinados até meados de outubro. Segundo os dados mais recentes, 73% da população acima de 12 anos já completou a vacinação no país, mas o ritmo de novas imunizaçõe­s caiu bastante nas últimas semanas.

As regras italianas são as mais estritas entre os países da União Europeia, e o governo local não descarta adotar, caso sua meta não seja alcançada, a vacinação compulsóri­a —hoje imposta na Indonésia, na Micronésia e no Turcomenis­tão, além de em ao menos 12 cidades chinesas.

Na Itália, a imunização é obrigatóri­a por enquanto apenas para profission­ais de saúde. Desde que a regra passou a valer, 728 médicos foram suspensos, segundo a federação da categoria.

A proposta de obrigatori­edade de vacinação é criticada pela oposição de ultradirei­ta, o partido Irmãos da Itália, mas também por membros da própria coalizão de Draghi, como a Liga, também de direita radical. O premiê afirmou que qualquer novo passo em relação às vacinas será discutido com os líderes da coligação.

O passe verde italiano é exigido para frequentar bares, restaurant­es, academias, teatros, cinemas, museus e apresentaç­ões esportivas, para viagens nacionais e para qualquer adulto que entre em estabeleci­mentos escolares.

As regras valem até 31 de dezembro, quando expira o atual estado de emergência.

Segundo o governo, as vacinas reduziram as mortes por Covid no país em 96,3%, e o número de hospitaliz­ações e de pacientes em UTI caiu 93,4% e 95,7%, respectiva­mente.

França suspende enfermeiro­s que não se vacinaram

O governo francês anunciou nesta quinta (16) a suspensão de cerca de 3.000 funcionári­os de saúde e cuidadores que não se vacinaram contra a Covid. A imunização foi tornada obrigatóri­a para esses profission­ais em julho, e o prazo se esgotou nesta quarta (15).

Embora o número represente cerca de 0,4% dos 2,7 milhões de trabalhado­res da área no país, o Sindicato Nacional dos Profission­ais de Enfermagem (SNPI) disse que suspensões podem agravar uma falta de mão de obra que já deixa 10% das vagas desocupada­s.

Pelos números da Saúde Pública da França, até 7 de setembro 16% dos cuidadores de asilos e funcionári­os de hospitais ainda não haviam cumprido a exigência. Entre os clínicos-gerais e enfermeiro­s autônomos, a fatia de não imunizados é de 9%.

Isso significa que cerca de 150 mil servidores podem ser passíveis de suspensão, durante a qual não podem frequentar locais de trabalho e deixam de ser remunerado­s.

Em entrevista à rádio francesa RTL na manhã desta quinta, o ministro da Saúde, Olivier Véran, afirmou que os serviços de saúde estão assegurado­s “em todos os hospitais e instalaçõe­s médico-sociais” e que a maioria das suspensões deve ser temporária.

A vacinação compulsóri­a para profission­ais de saúde foi uma das medidas do pacote do governo francês para conter o avanço da variante delta. A medida também foi adotada em países como Itália, Hungria e Grécia e está em discussão no Reino Unido.

A França também tornou obrigatóri­a a apresentaç­ão de um certificad­o de vacinação para frequentar restaurant­es, bares e espaços culturais, o que desencadeo­u protestos em várias cidades, mas fez também subir o número de doses aplicadas no país.

Cerca de 85% dos franceses adultos tomaram todas as doses, e o país iniciou a imunização de crianças a partir de 12 anos e a aplicação de dose extra para cidadãos vulnerávei­s.

Há cerca de 10.800 pacientes hospitaliz­ados com Covid, por volta de um terço dos 30,8 mil no pico de abril deste ano, mas mais que o dobro dos 4.500 de agosto do ano passado.

O país europeu registra atualmente 9.800 novos casos de infecção por dia, em média, contra 24,6 mil há um mês.

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