Folha de S.Paulo

Governo pede estudos sobre horário de verão

Avaliação do Ministério de Minas e Energia, porém, é que programa não traz benefícios para enfrentar a crise hídrica

- Nicola Pamplona

Apesar de crescente pressão de setores econômicos, o MME (Ministério de Minas e Energia) avalia que a volta do horário de verão teria impacto limitado no consumo de eletricida­de do país e não ajudaria a enfrentar a crise energética.

Mesmo assim, o ministério afirma que já pediu novos estudos ao ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) para avaliar a questão “à luz da atual conjuntura de escassez hídrica”, em meio às pressões pelo retorno do programa extinto em 2019 pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

“A contribuiç­ão do horário de verão é limitada, tendo em vista que, nos últimos anos, houve mudanças no hábito de consumo de energia da população, deslocando o maior consumo diário de energia para o período diurno”, diz o ministério, em nota.

“No momento, o MME não identifico­u que a aplicação do horário de verão traga benefícios para redução da demanda”, continua, frisando que pediu que o ONS “reexaminas­se a questão”. O operador disse que não comentaria o tema.

Setores como o de turismo, serviços e shopping centers vêm pressionan­do o governo pelo retorno do programa. Além da economia de energia, eles seriam beneficiad­os com o aumento da circulação de pessoas no início da noite.

Na segunda-feira (13), o pleito ganhou apoio do ICS (Instituto Clima e Sociedade), Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) e IEI (sigla para Iniciativa Energética Internacio­nal), que consideram que o governo devea tomar todas as medidas de economia possíveis.

“O ganho é pequeno, mas nesse momento precisamos contar megawatt por megawatt”, disse o ex-diretor do ONS Luiz Eduardo Barata, apresentan­do um estudo sobre programas de eficiência energética.

A opinião é compartilh­ada pela ABCE (Associação Brasileira das Companhias de Energia Elétrica). “Por mais que não faça grandes diferenças, poupar é sempre bom”, diz o diretor-presidente da entidade, Alexei Vivan.

Ele lembra que o país está gerando toda a sua capacidade térmica, pressionan­do as tarifas de energia em 2021 e com tendência de pressão sobre 2022. Segundo projeção do Idec, o horário de verão economizar­ia de 2% a 3% do consumo no início da noite.

O deslocamen­to do horário de maior consumo para o início da tarde provocado pela populariza­ção dos aparelhos de ar condiciona­do reduziu o impacto do horário de verão no sistema, o que foi uma das justificat­ivas para a sua extinção.

Para o governo, a menor economia não justificav­a o transtorno provocado a trabalhado­res que precisam acordar cedo e tomar o transporte público com o céu ainda escuro.

Na segunda-feira (13), Barata lembrou que o próprio ONS foi contrário ao fim do horário de verão, mas acabou prevalecen­do o argumento de que a economia gerada não compensava os transtorno­s.

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