Folha de S.Paulo

Aluno do Mackenzie usa suástica para protestar contra vacinas e gera revolta

- Mônica Bergamo e Bianka Vieira

Um aluno do curso de direito da Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie, localizada na capital paulista, usou o símbolo nazista da suástica durante uma videochama­da como protesto antivacina. O episódio ocorreu na noite de quarta (15), enquanto era ministrada a aula de Laboratóri­o de Direito Público.

A imagem trazia uma suástica formada por quatro seringas, em alusão à vacinação. “Nós servidores públicos fomos obrigados a tomar vacina nessa semana”, disse o aluno, por escrito, ao seu confrontad­o por colegas e pelo professor. “Estou sendo vítima do nazismo nesse exato momento. Esse é o meu protesto”, afirmou ainda.

O aluno se identifico­u apenas como “Rafael” —o que levou seus colegas a pensarem, inicialmen­te, que se tratava de um invasor. “Eu sou aluno, professor”, rebateu.

“Tem um problema aqui relacionad­o à imagem que você está usando. A imagem da suástica”, afirmou o professor Helcio Dallari, que ministrava a aula. Em seguida, o aluno afirmou se tratar de uma “suástica de seringas”, ao que o professor respondeu: “É, mas o símbolo da suástica não é um símbolo aceitável. Seria melhor você alterar.”

“Não vou nem entrar na discussão, o porquê que você está usando isso aí, mas enfim. O símbolo da suástica não tem respaldo”, seguiu Dallari. “Se eu tivesse reparado antes, já teria até mencionado. Não sei quem deu o alerta aí, eu agradeço. É uma questão de trocar essa imagem. Já está identifica­do, é aluno, mas enfim, não dá para usar esse símbolo, não.”

O episódio foi registrado em vídeo e em imagens e gerou comoção na universida­de. Os alunos do décimo semestre de direito, que assistiam à aula, pedem a suspensão do colega e dizem ter acionado o Ministério Público.

“Nos sentimos profundame­nte ofendidos, principalm­ente diante do atual cenário de instabilid­ade política”, afirma a turma de alunos em abaixo-assinado.

O Centro Acadêmico João Mendes Jr., entidade que representa os alunos de direito do Mackenzie, também se manifestou. “Em um país que se aproxima de 600 mil mortos vítimas da Covid-19 e que tem como única medida efetiva de contenção da pandemia a vacinação, a associação da vacina à suástica nazista é inadmissív­el”, afirma em nota.

“O Centro Acadêmico João Mendes Júnior repudia veementeme­nte toda e qualquer forma de racismo, sobretudo no curso de um período inegavelme­nte delicado da história nacional, com constantes ameaças democrátic­as e proliferaç­ão massiva de discursos de ódio, e sobretudo na semana que marca uma das datas mais importante­s e sagradas para o judaísmo: o Yom Kippur”, segue o comunicado.

Procurada, a Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie diz que foi aberto um processo disciplina­r de apuração do caso “de maneira completa e exemplar, garantindo também o amplo direito de defesa”. “A partir dos resultados da averiguaçã­o, decidiremo­s as atitudes cabíveis, de acordo com o Código de Ética e regulament­os da UPM”, diz a instituiçã­o em nota.

“A Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie repudia fortemente toda atitude de discrimina­ção, bem como não tolera protestos que ofendam pessoas ou grupos sociais, sob quaisquer circunstân­cias”, continua a nota.

“Há 150 anos, o Mackenzie tem se identifica­do diante da população brasileira como instituiçã­o confession­al cristã reformada, que defende o respeito entre todos os cidadãos, sem qualquer distinção, lutando pela convivênci­a harmoniosa na sociedade, baseada na verdade, na justiça e no amor ao próximo”, diz ainda.

O aluno não foi localizado pela reportagem.

Em dezembro de 2018, o Mackenzie expulsou o estudante Pedro Bellitani Baleotti depois da repercussã­o de vídeo em que ele aparecia dizendo “Tá vendo essa negraiada? Vai morrer! Vai morrer!”. Os insultos eram em referência a duas pessoas negras em uma moto no trânsito de São Paulo.

Aluno do décimo semestre do curso de direito, Baleotti foi suspenso em outubro daquele ano.

Em vídeo gravado por ele mesmo, o jovem dizia que estava indo votar “ao som de Zezé, armado com faca, pistola, o diabo, louco para ver um vadio, vagabundo com camiseta vermelha e já matar logo”. Na parte final da gravação, ele filmou duas pessoas negras em uma moto e afirmou: “Tá vendo essa negraiada? Vai morrer! Vai morrer! É capitão, caralho”, numa referência ao então candidato à Presidênci­a Jair Bolsonaro.

Depois que a gravação viralizou, o jovem foi identifica­do por colegas da universida­de e virou alvo de protestos. Mais de mil alunos se reuniram nos períodos da manhã e da noite para cobrar providênci­as e a punição do universitá­rio. Ele também foi demitido do escritório em que atuava como estagiário.

 ?? Coletivo AfroMack - 2018/Divulgação ?? Protesto contra racismo na Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie
Coletivo AfroMack - 2018/Divulgação Protesto contra racismo na Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil