Folha de S.Paulo

O moscow mule teve Woody Allen como garoto-propaganda

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Woody Allen tinha menos preocupaçõ­es e um olhar decididame­nte jovial quando emprestou seu rosto para um anúncio de Smirnoff, em 1966. Ele aparece ao lado de uma torre de canecas de cobre que se equilibram sobre uma garrafa da bebida.

Nessa época, Allen era um escritor prolífico de gags para a TV e havia lançado alguns livros. Além disso, fazia shows de stand-up no Greenwich Village. Faltavam três anos para sua estreia como diretor de cinema. A campanha etílica tinha, portanto, grande potencial de piada pronta.

Não deu outra: entrou no cardápio de suas apresentaç­ões: “Tentaram chamar o Laurence Olivier, mas ele não estava disponível. Então me ligaram: você gostaria de ser o garoto-propaganda da nossa vodca? Eu respondi: não, sou um artista. Não faço comerciais. Nem elogios. E não bebo vodca. Se bebesse, não seria a sua vodca. Que pena, disseram. Pagamos cinquenta mil dólares. Eu falei: Espere, vou chamar o Sr. Allen.”

A propaganda tinha dois outros cartazes. Num deles, Woody está saindo de uma concha gigante numa praia cheia de drinques. No outro, o eterno noivo neurótico surge montado num comprido burrinho de pau, com pessoas festivas na garupa.

O jeitão de brincadeir­a para adultos servia para impulsiona­r a famosa marca com um dos coquetéis mais populares da época, o moscow mule, ou mula moscovita. A verdade é que de russa a mula não tinha nada e mesmo a Smirnoff já estava com seu green card havia tempos.

Era de fato moscovita, tendo surgido em 1864. Durante a revolução bolcheviqu­e, a família Smirnov, com v, fugiu para Istambul, levando consigo a marca. Não deu muito certo, e ela acabou passando para outro exilado russo, que foi para os EUA tentar fortuna com a poção eslava.

Só que os americanos nunca tinham ouvido falar naquela bebida “cristalina e inodora”. O negócio foi então repassado para um empresário local, que fez valer o capitalism­o agressivo a que estava acostumado. O uso da Polaroid, invento recente, foi uma de suas estratégia­s.

Em pouco tempo a Smirnoff ficou conhecida como o “uísque branco” que deixava a pessoa “breathless”. Nesse contexto, a palavra significa “muito impression­ada”, mas na versão literal, “sem fôlego”, também sugeria que a vodca não deixava hálito de álcool, lenda que se espalhou.

Mas e mula? O tal empresário era amigo de um produtor de ginger beer, cuja namorada herdara uma fábrica encalhada de canecas de cobre. Espremeram um limãozinho por cima da conversa e juntaram tudo numa receita de coquetel e de marketing. O novo drink teria o poder de um coice, daí a mula, que acabou virando mascote.

Com sua aura exótica, o coquetel conquistou Hollywood e também os mortais. Tomá-lo sem a canequinha era um sacrilégio. Além de Woody Allen, outros famosos dos anos 1960 venderam o coice, como as estonteant­es Eartha Kitt e Zsa Zsa Gabor. A vodca, mesmo associada aos soviéticos, foi ocupando o lugar dos outros destilados. Era tomada com tudo, chá, suco e até molho de carne.

Não à toa, em “Mad Men”, Roger Sterling começa o dia batizando o leite com vodca —ou vice-versa. É para o estômago, justifica. Entre os quase 40 coquetéis diferentes que aparecem na série —que os atores de fato bebiam, em muitas cenas— o moscow mule também faz uma ponta. Podiam ter dado um papel maior para a mulinha de Moscou.

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Guinness World Records 2022/Divulgação GUINNESS DIVULGA CÃO COM ORELHAS MAIS LONGAS DO MUNDO EM APRESENTAÇ­ÃO DAS NOVIDADES DA EDIÇÃO 2022 DO LIVRO DOS RECORDES Lou, cachorro americano de três anos, tem orelhas de 34 centímetro­s; segundo a dona, manutenção especial não é necessária, apenas protetores no inverno
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O comediante e diretor de cinema Woody Allen em propaganda­s de vodca de 1966
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Reprodução
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