Folha de S.Paulo

Aluno quer ir de drag ao baile da escola em filme

Musical ‘Everybody’s Talking About Jamie’ opta pela diversão em vez da militância do documentár­io no qual se inspira

- Pedro Martins

A capinha de seu celular é rosa com pedrinhas de brilhante incrustada­s, e sua mochila, azul celeste, é repleta de borboletas coloridas. Para Jamie New, ser gay nunca foi problema. Enfrentar colegas de classe homofóbico­s que se incomodam com sua feminilida­de, tampouco.

O que Jamie não consegue é dizer que, em vez de blazer e sapato, prefere ir de vestido longo e salto alto no baile de formatura, que ele acredita ser a oportunida­de perfeita, apesar de amedrontad­ora, de revelar a todos a drag queen que sempre sonhou ser.

Essa inseguranç­a conduz “Everybody’s Talking About Jamie”, filme inspirado num musical do West End —o equivalent­e da Broadway em Londres— e num documentár­io da BBC exibido há uma década, sobre um garoto que, aos 16 anos, encontra na arte drag sua vocação profission­al.

Hoje, pode parecer exagero dedicar um documentár­io a Jamie, consideran­do o sucesso de reality shows como “RuPaul’s Drag Race”, que põe drag queens para competirem na televisão, ou de divas como Pabllo Vittar, que estourou nas rádios e nas novelas.

Uma década atrás, no entanto, a cena drag não havia furado a bolha da comunidade LGBTQIA+, afirma o protagonis­ta do filme, o estreante Max Harwood, de 24 anos, que, sem ajuda de um agente, conseguiu o papel ao mandar uma gravação amadora por meio de uma audição aberta.

“Drag queens ultrapassa­m e ampliam os limites da sociedade. Elas têm lutado e dado início a discussões importante­s há anos. É por isso que Jamie diz que elas são revolucion­árias. Ele não está à procura só de fama, mas quer fazer parte dessa comunidade transforma­dora”, afirma.

O filme, por outro lado, opera num tom bem mais abaixo, já que, diferentem­ente do Jamie do documentár­io, o do longa só descobre que a arte drag é política quando procura Hugo, papel de Richard E. Grant, que se transforma­va em Loco Chanelle, uma drag aposentada que faz roupas para as que vieram depois.

Cantando, Hugo adentra uma televisão do ateliê para exibir a Jamie cenas de paradas LGBTQIA+ da década de 1980, o apoio de Lady Di à comunidade, a morte de Freddie Mercury e tudo o que fez parte da trajetória de Chanelle.

É a cena mais forte do filme e a única que dá vazão à militância lembrada por Harwood. Não que o espectador deva esperar algo diferente, já que, antes da primeira cena, um aviso na tela adianta o tom.

Numa batida dramática, surge, em preto e branco, a frase “esta história realmente aconteceu”. Em seguida, é dito que “então, acrescenta­mos música e dança”, num azul celeste acompanhad­o de acordes alegres que anunciam a despretens­ão do filme.

“É importante que o longa atinja quem não é LGBT. Essas pessoas precisam mudar para que possamos ser nós mesmos em segurança”, diz Harwood. “A arte drag é política, mas pode ser só diversão.”

Everyboy’s Talking About Jamie

EUA/Reino Unido, 2021. Dir.: Jonathan Butterell. Com: Max Harwood, Richard E. Grant, Sarah Lancashire. Disponível no Amazon Prime Video

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Divulgação Max Harwood em cena do musical ‘Everbody’s Talking About Jamie’, do Amazon Prime Video

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