Aluno quer ir de drag ao baile da escola em filme
Musical ‘Everybody’s Talking About Jamie’ opta pela diversão em vez da militância do documentário no qual se inspira
A capinha de seu celular é rosa com pedrinhas de brilhante incrustadas, e sua mochila, azul celeste, é repleta de borboletas coloridas. Para Jamie New, ser gay nunca foi problema. Enfrentar colegas de classe homofóbicos que se incomodam com sua feminilidade, tampouco.
O que Jamie não consegue é dizer que, em vez de blazer e sapato, prefere ir de vestido longo e salto alto no baile de formatura, que ele acredita ser a oportunidade perfeita, apesar de amedrontadora, de revelar a todos a drag queen que sempre sonhou ser.
Essa insegurança conduz “Everybody’s Talking About Jamie”, filme inspirado num musical do West End —o equivalente da Broadway em Londres— e num documentário da BBC exibido há uma década, sobre um garoto que, aos 16 anos, encontra na arte drag sua vocação profissional.
Hoje, pode parecer exagero dedicar um documentário a Jamie, considerando o sucesso de reality shows como “RuPaul’s Drag Race”, que põe drag queens para competirem na televisão, ou de divas como Pabllo Vittar, que estourou nas rádios e nas novelas.
Uma década atrás, no entanto, a cena drag não havia furado a bolha da comunidade LGBTQIA+, afirma o protagonista do filme, o estreante Max Harwood, de 24 anos, que, sem ajuda de um agente, conseguiu o papel ao mandar uma gravação amadora por meio de uma audição aberta.
“Drag queens ultrapassam e ampliam os limites da sociedade. Elas têm lutado e dado início a discussões importantes há anos. É por isso que Jamie diz que elas são revolucionárias. Ele não está à procura só de fama, mas quer fazer parte dessa comunidade transformadora”, afirma.
O filme, por outro lado, opera num tom bem mais abaixo, já que, diferentemente do Jamie do documentário, o do longa só descobre que a arte drag é política quando procura Hugo, papel de Richard E. Grant, que se transformava em Loco Chanelle, uma drag aposentada que faz roupas para as que vieram depois.
Cantando, Hugo adentra uma televisão do ateliê para exibir a Jamie cenas de paradas LGBTQIA+ da década de 1980, o apoio de Lady Di à comunidade, a morte de Freddie Mercury e tudo o que fez parte da trajetória de Chanelle.
É a cena mais forte do filme e a única que dá vazão à militância lembrada por Harwood. Não que o espectador deva esperar algo diferente, já que, antes da primeira cena, um aviso na tela adianta o tom.
Numa batida dramática, surge, em preto e branco, a frase “esta história realmente aconteceu”. Em seguida, é dito que “então, acrescentamos música e dança”, num azul celeste acompanhado de acordes alegres que anunciam a despretensão do filme.
“É importante que o longa atinja quem não é LGBT. Essas pessoas precisam mudar para que possamos ser nós mesmos em segurança”, diz Harwood. “A arte drag é política, mas pode ser só diversão.”
Everyboy’s Talking About Jamie
EUA/Reino Unido, 2021. Dir.: Jonathan Butterell. Com: Max Harwood, Richard E. Grant, Sarah Lancashire. Disponível no Amazon Prime Video