FALTA DE ÁGUA FAZ CIDADES DE SP MULTAREM QUEM LAVA CARRO E CALÇADA
Ideia é evitar desperdício e combater escassez decorrente da crise hídrica
Represa praticamente seca em Vinhedo, que estabeleceu multa de R$ 535 a quem for flagrado desperdiçando água; estiagem severa levou vários municípios do interior paulista a prever penalidades para enfrentar a escassez
ribeirão preto Para tentar conter o consumo de água, cidades do interior paulista adotaram penalidades para quem for flagrado utilizando irregularmente a água.
São Paulo tem mais de uma dezena de cidades que já decretaram a aplicação de multas, como Itu, onde fiscais estão nas ruas para monitorar desperdícios de água e multar moradores flagrados cometendo irregularidades.
A prefeitura considera desperdício lavar calçadas e veículos com mangueiras, mas também situações que configurem uso contínuo da água sem necessidade, como deixar torneiras abertas ou uma caixa-d’água eliminando água.
O valor é de R$ 489,68, custo de uma ligação de água na cidade. Segundo a CIS (Companhia Ituana de Saneamento) até o momento foram aplicadas 60 multas.
Devido ao aumento da temperatura, à alta do consumo em mais de 50% e à previsão de falta de chuvas significativas até outubro, a cidade implantou um rodízio desde 20 de agosto. A medida funciona no sistema 24 por 48, ou seja, um dia com abastecimento de água, seguido de dois sem. Até agosto, choveu 37% menos que a média histórica dos últimos dez anos.
Multas também estão sendo aplicadas em Valinhos, onde o Daev (departamento de água e esgoto) já flagrou 36 irregularidades até quarta-feira (15).
Em racionamento desde 27 de agosto, a cidade ampliou as fiscalizações em busca de uso inadequado da água tratada. A multa custa ao infrator R$ 441,21, valor que dobra em caso de reincidência.
O cenário no município é crítico —os mananciais internos são compostos por quatro barragens, das quais uma opera com 5% de sua capacidade. Já nos mananciais externos, a captação do rio Atibaia está 10,63% abaixo do esperado para setembro.
As chuvas praticamente inexistem neste mês: 6,6 milímetros até as 7h desta quarta, ou 10,4% do esperado para setembro. Por isso, o presidente do Daev, Ivair Nunes Pereira, prevê a adoção de medidas mais severas já na próxima semana se o quadro não mudar.
“Hoje operamos no sistema 3 por 1, com três regiões com água e uma sem, das 10h às 4h do dia seguinte. Se não houver mudança, poderemos ampliar. Estamos tirando três vezes o volume de água que entra no sistema”, afirma.
Em Vinhedo, que decretou restrições em junho, a prefeitura anunciou a prorrogação das medidas por quatro meses, até o último dia de 2021.
A Operação Estiagem manteve a proibição de usar água para regar jardins ou gramados. Também é proibido manter abertas indevidamente torneiras e mangueiras.
“A providência foi tomada considerando que a seca deste ano é uma das mais severas em décadas e está refletida diretamente na redução da disponibilidade hídrica e no volume dos reservatórios de várias regiões do país, e da cidade, podendo comprometer o abastecimento futuro”, diz a administração. A multa estabelecida é de R$ 535,83.
Já Araras flagrou em um mês 116 irregularidades que resultaram em multas. O valor inicial é R$ 349,08, que dobra em caso de reincidência.
A prefeitura apresentou na última semana um novo sistema de captação no rio Mogi Guaçu, para reduzir a dependência de represas. Até então, 70% da água era oriunda de represas, ante 30% do rio. Agora, os percentuais passaram a 45% e 55%, respectivamente.
Em Batatais, moradores chegaram a ficar quatro dias sem água, depois que incêndios atingiram a rede elétrica. Sem energia, as bombas de captação dos poços artesianos não funcionaram.
No último dia 30 a prefeitura decretou a aplicação de multa para quem desperdiçar água. O valor é equivalente a 50% da última fatura.
Amparo, Ourinhos, Águas de Lindóia e São José da Bela Vista também adotaram medidas semelhantes.