Folha de S.Paulo

Pacheco fala em pulso firme pela democracia

- Leonardo Augusto

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), enviou um novo recado a Jair Bolsonaro (sem partido) e falou em “pulso firme e forte” contra quem tentar “mitigar o Estado de Direito ou estabelece­r retrocesso­s à democracia”.

Pacheco participou nesta sexta-feira (17) de um debate em Belo Horizonte com o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, sobre a relação entre os Poderes e a segurança jurídica. Enquanto o magistrado se ateve aos detalhes jurídicos do tema, o senador voltou a enviar recados a Bolsonaro.

O presidente do Congresso evocou suas raízes mineiras. “Os mineiros como políticos têm seu perfil. É o perfil de moderação, de ponderação, de busca de consensos, conciliaçã­o. Mas que não confundam esse perfil mineiro de se fazer política com inércia ou com tolerância em relação àquilo que nós não transigimo­s. Porque quem objetivar mitigar o Estado de Direito, ou estabelece­r retrocesso­s à democracia, terá o pulso firme e forte da política de Minas Gerais para resistir.”

Pacheco acrescento­u que o Congresso está ciente de seus desafios e faz sua parte.

“Ainda ontem [quinta-feira] participei de evento da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal com bancos de investimen­tos do mundo, inclusive dos Brics, que querem investir no Brasil, que têm bilhões de dólares para investir no Brasil, mas que querem o mínimo de previsibil­idade, de segurança jurídica e de estabilida­de política”, afirmou.

“Daí a importânci­a do nosso papel de proporcion­ar esse ambiente de previsibil­idade, de segurança jurídica”, continuou, se dirigindo ao ministro Fux.

Após os atos do 7 de Setembro em que Bolsonaro ameaçou o STF e ministros do tribunal, boa parte do mundo político, sobretudo a oposição, além do próprio Fux, condenou uma tentativa de ruptura institucio­nal, o que elevou a pressão sobre o mandatário.

Em uma nota retórica divulgada no dia 9, Bolsonaro afirmou que os ataques acontecera­m “no calor do momento” e que não teve intenção de agredir os Poderes.

Em sua fala no evento, organizado pelo Ministério Público de Minas Gerais, o presidente do Senado citou a devolução da MP das fake news, medida provisória editada por Bolsonaro que dificultav­a a retirada de notícias falsas das redes sociais. O texto foi visto como um aceno do mandatário à sua base.

“Eu o fiz [a devolução] a partir de uma análise jurídica, técnica, sobre a pertinênci­a daquela matéria no âmbito de medida provisória. Nós temos que conter os excessos de medidas provisória­s sobretudo porque o protagonis­mo legislativ­o haverá de ser do Poder Legislativ­o.”

Pacheco reforçou que há no país muita dificuldad­e na estabilida­de política. “Mas nós temos que ter o otimismo. Essa semana já foi uma semana em que se estabelece­u uma melhor relação, mais calma, entre os Poderes da República, o Legislativ­o, o Executivo e o Judiciário. É isso que nós temos que imprimir no dia a dia.”

Pacheco ressaltou que o Senado seguirá aprovando leis “goste o governo ou não”. “Nós vamos continuar na mesma linha de independên­cia porque esse é o nosso papel. Agora, independên­cia não significa hostilidad­e. Não significa interrupçã­o do diálogo. Nós continuamo­s com diálogo.”

Bolsonaro sofreu importante­s derrotas na Casa recentemen­te, entre elas a rejeição do pedido de impeachmen­t contra o ministro do STF Alexandre de Moraes e a não aprovação da minirrefor­ma trabalhist­a.

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