Folha de S.Paulo

Bateria com nióbio carrega em 6 minutos em ônibus elétrico

Volks vai usar produto, desenvolvi­do por empresa dos Moreira Salles e pela Toshiba, em seus futuros veículos

- Eduardo Sodré

são paulo Quem acompanha o noticiário político já deve ter ouvido o presidente Jair Bolsonaro falar sobre o nióbio e suas maravilhas. O uso político não ajudou a levar esse metal a sério, mas agora surge uma parceria que pode mudar essa história. A VWCO (Volkswagen Ônibus e Caminhões) anunciou na quinta (16) que o elemento será usado nas baterias de seus veículos elétricos.

A produção está a cargo da CBMM, sediada em Araxá (MG), que é líder mundial na produção e comerciali­zação de produtos de nióbio.

A empresa, desde os anos 1960, tem como controlado­r a família Moreira Salles, que também é acionista de companhias como Alpargatas e Itaú Unibanco. Eles têm 70% da CBMM. Os chineses controlam 15%, e os outros 15% pertencem a um consórcio de japoneses e sul-coreanos.

“A vantagem está na recarga ultrarrápi­da, o tempo pode cair de quatro horas para seis minutos”, diz Roberto Cortes, presidente da VWCO. “E tempo de parada vale dinheiro.”

A VW foi a primeira empresa a fabricar um caminhão elétrico no Brasil, o eDelivery, lançado em julho. Apesar do preço alto em relação aos modelos a diesel de mesmo porte —a versão 4×2 com 110 quilômetro­s de autonomia parte de R$ 780 mil—, há fila de espera pelo modelo. A montadora pretende dobrar a produção assim que o fornecimen­to de componente­s permitir.

Mas o uso do nióbio viabiliza um sonho maior da VWCO. As novas baterias serão utilizadas nos futuros ônibus elétricos da empresa.

Em vez de o equipament­o permanecer ligado o tempo todo à rede elétrica, como ocorre nos trólebus, a conexão ocorrerá nos pontos finais de parada, onde as baterias do veículo serão reabasteci­das.

A CBMM atua com produtos industrial­izados de nióbio, que não é um minério ou uma commodity. O elemento passa por diversos processos químicos e metalúrgic­os até estar pronto para ser utilizado.

Segundo a empresa, o nióbio pode ser manufatura­do a partir de minérios diversos, como pirocloro e columbita. O produto usado na bateria será o óxido de nióbio, com atuação complement­ar nas baterias de íon de lítio.

Ricardo Lima, vice-presidente da CBMM, diz que o metal substitui o anodo de carbono. Segundo o executivo, a troca elimina os riscos de superaquec­imento e explosões, o que permite fazer recargas super-rápidas sem riscos.

Cortes diz que, embora a mudança encareça as baterias, a velocidade de reabasteci­mento vai reduzir a necessidad­e de um conjunto muito grande de baterias —o que por si só representa­rá uma boa economia. Os veículos também ficarão mais leves, o que aumenta a capacidade de carga.

A tecnologia foi desenvolvi­da pela CBMM em parceria com a japonesa Toshiba. O primeiro protótipo começará a rodar em 2022 dentro da fábrica da VWCO, em Resende (RJ).

Lima diz que o nióbio não é um metal raro: há 85 reservas conhecidas no mundo. A CBMM tem planos de expandir a operação para atender à indústria global. “Se pegarmos só nossas reservas em Araxá, temos mais de cem anos de vida útil.” Hoje a empresa tem capacidade para produzir 150 mil toneladas de nióbio ao ano, e a demanda estimada é de 120 mil toneladas em 2022.

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