Folha de S.Paulo

Entidade europeia recomenda combinar as vacinas anti-Covid da Pfizer e da AstraZenec­a

- Ana Estela de Sousa Pinto

bruxelas Aplicar uma segunda dose de vacina mRNA (como as produzidas pela Pfizer e Moderna) em quem recebeu a primeira dose do imunizante da AstraZenec­a induz uma proteção contra a Covid mais forte que a de duas doses de AstraZenec­a, afirma relatório divulgado nesta sexta-feira (17) pelo Centro Europeu de Controle de Doenças (ECDC).

Segundo a instituiçã­o, experiment­os aleatórios e estudos observacio­nais mostraram uma resposta humoral (por anticorpos) e de células T (também de proteção do organismo) maior quando se aplica a vacinação chamada de “heteróloga”, com a combinação de dois produtos.

Nos experiment­os, o imunizante mRNA foi aplicado quatro semanas depois da primeira dose com AstraZenec­a. Estudos mostraram que a ordem inversa —uma primeira dose de Pfizer ou Moderna e uma segunda de AstraZenec­a— também produz uma proteção mais alta que a de duas doses de AstraZenec­a.

O centro diz que houve um aumento de leve a moderado nas reações adversas após a segunda dose para as pessoas que receberam imunizante­s diferentes, mas que o regime foi bem tolerado. Não houve nenhuma reação grave.

A vacinação combinada tem sido usada em países europeus principalm­ente para completar a imunização de pacientes que tiveram reações mais fortes após a primeira injeção ou em grupos de pessoas considerad­as mais susceptíve­is a efeitos colaterais graves e raros da vacina da AstraZenec­a.

“Evidências atuais fornecem bases científica­s para esperar que essas abordagens ‘off-label’ [não prescritas na bula] sejam seguras e induzam uma resposta imunológic­a satisfatór­ia”, diz o relatório.

Outra vantagem da combinação, segundo a instituiçã­o, é permitir flexibilid­ade nas campanhas de vacinação, principalm­ente nos casos de escassez de um dos imunizante­s —como a que atinge São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo e Rio Grande do Norte, segundo afirmaram à Folha os governos desses Estados.

O ECDC ressalva que ainda estão em andamento experiment­os sobre segurança a longo prazo, duração da imunidade e eficácia. Também alerta que é preciso cuidado na comunicaçã­o de mudanças em esquemas de vacinação — em relação a marcas ou prazos de aplicação, por exemplo — para evitar que elas provoquem desconfian­ça em relação à imunização.

O documento também revisa e atualiza as evidências sobre a eficácia da vacinação parcial e sobre a eficácia da vacinação para quem já havia se infectado com o coronavíru­s.

A revisão e o relatório do ECDC não contemplam o uso combinado de outras vacinas com a Coronavac, já que ela não é usada na Europa.

Em São Paulo, doses do imunizante da Pfizer têm sido dadas para reforçar a imunização de pessoas que haviam tomado duas doses da vacina chinesa, além de complement­ar a vacinação de pessoas que haviam tomado uma primeira injeção de Coronavac.

Um estudo recente, ainda em pré-print (sem revisão por cientistas independen­tes), analisou dados da combinação de uma primeira dose de Coronavac e de uma segunda dose da AstraZenec­a.

Mas a pesquisa, feita na Universida­de Chulalongk­orn, em Bangkok, na Tailândia, é pequena, com somente 77 pessoas. De toda forma, os pesquisado­res observaram que a mistura dos imunizante­s provocou resposta imune forte.

Dados disponívei­s até agora sobre diferentes grupos populacion­ais e variantes de preocupaçã­o confirmam que duas doses de vacinas da AstraZenec­a, da Pfizer ou da Moderna levam a proteção contra doença grave e contra infecção (com ou sem sintomas) significat­ivamente maior que apenas uma dose, afirma o relatório.

Indivíduos parcialmen­te vacinados estão menos protegidos principalm­ente em relação à variante delta. “Já a vacinação completa fornece proteção quase equivalent­e contra as duas variantes, alfa e delta”, afirma o ECDC.

A recomendaç­ão do centro é que, onde há aumento de circulação da delta, a administra­ção da segunda dose seja no prazo mais curto possível, para acelerar a imunização completa. A prioridade deve ser de grupos mais vulnerávei­s a Covid grave, como idosos e aqueles com imunidade reduzida.

De acordo com o centro, ainda faltam evidências sobre a duração da proteção oferecida por apenas uma dose.

Segundo o ECDC, estudos mostram que, em pessoas que se recuperara­m de Covid, uma única dose com os fármacos da AstraZenec­a, da Pfizer ou da Moderna promove uma resposta imune comparável à dos que não contraíram o coronavíru­s e tomaram duas doses de vacina.

Mas o centro afirma que a reação imunológic­a não deve ser automatica­mente interpreta­da como proteção para esse grupo, porque faltam estudos clínicos. Por isso, “como precaução”, a recomendaç­ão é que mesmo quem se recuperou de Covid tome duas doses de vacina, principalm­ente os com maior risco de doença grave ou morte.

Além de não haver evidência disponível sobre desfechos clínicos (como risco de infecção confirmada por laboratóri­o) no caso de quem foi infectado e tomou uma dose, também faltam dados sobre a duração de longo prazo da imunidade protetora promovida por só uma dose nesse grupo.

 ?? Patricia de Melo Moreira - 11.set.21/AFP ?? Jovem é vacinado contra a Covid-19 em Portugal
Patricia de Melo Moreira - 11.set.21/AFP Jovem é vacinado contra a Covid-19 em Portugal

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil