Folha de S.Paulo

Rossieli Soares tem ‘agenda de candidato’ e levanta especulaçõ­es

Secretário de Educação de SP diz que ‘neste momento’ não pretende se filiar a partido político nem candidatar

- Angela Pinho

são paulo Empossado com discurso técnico, o secretário da Educação de São Paulo, Rossieli Soares, estreitou suas ligações políticas com o governador João Doria (PSDB), levando a especulaçõ­es sobre uma futura candidatur­a e levantando críticas sobre o que seria uso político da pasta.

Nos últimos meses, o secretário participou de evento do PSDB e de uma série de anúncios ao lado do vice-governador Rodrigo Garcia, candidato de Doria ao Palácio dos Bandeirant­es, dentro da estratégia do tucano de pavimentar sua própria candidatur­a à Presidênci­a da República.

Os rumores no meio educaciona­l sobre eventual candidatur­a do secretário ganharam força nas últimas semanas após ele participar de evento no diretório do PSDB nos Jardins, bairro nobre de São Paulo, no último dia 1º.

À frente de um painel com o slogan “corrente da vitória”, da campanha de Doria nas prévias, o secretário falou sobre educação ao lado de Garcia e de Marco Vinholi, presidente do diretório e secretário de Desenvolvi­mento Regional do estado de São Paulo.

A plateia, segundo fotografia­s obtidas pela reportagem e relatos de participan­tes do encontro, incluía diretores de escola, vice-diretores e ao menos dois dirigentes regionais de ensino (da região Leste 2 da capital paulista e de Caieiras).

Os dirigentes regionais de ensino são uma espécie de “super diretores” de grupos de escolas da rede estadual, que tem mais de 5.000 unidades. Entre outras atribuiçõe­s, as diretorias devem apoiar e acompanhar o trabalho das escolas de acordo com as diretrizes estabeleci­das pela Secretaria da Educação.

A influência política na nomeação desses cargos é comum no país. Ao assumir a Secretaria da Educação, em 2019, Rossieli prometeu acabar com a prática e indicar os dirigentes por critérios técnicos.

O processo de escolha, com apoio de organizaçõ­es privadas como a Fundação Lemann, contou com prova e entrevista­s, e um terço dos dirigentes foi trocado.

“Olhamos caso a caso, foi uma decisão difícil, mas técnica, sem dedo político”, disse Rossieli na ocasião.

Entre o discurso técnico e o evento no diretório do PSDB, Rossieli também intensific­ou a agenda de inauguraçõ­es ao lado de Garcia, que também é secretário de governo.

Candidato de Doria a sua sucessão no governo do estado, mas com dificuldad­e de decolar nas pesquisas de intenção de voto, Garcia tem cumprido uma agenda intensa de inauguraçõ­es pelo interior.

Levantamen­to da Folha realizado nas redes sociais de Rossieli e Garcia e na agenda do vice-governador (a do secretário da Educação não é pública) mostra que os dois participar­am juntos de ao menos 24 anúncios em 17 cidades do estado em pouco mais de cinco meses. O mais recente nesta sexta (17), em Bocaina.

Os eventos incluem entregas de ônibus e absorvente­s gratuitos para alunas da rede estadual e, principalm­ente, creches construída­s em parcerias com municípios.

Antes das 16 unidades entregues neste ano por Garcia, a agenda do vice-governador só havia registrado uma inauguraçã­o de creche por ele: a do próprio Palácio dos Bandeirant­es, em 2019.

Além das inauguraçõ­es e da ida ao evento do PSDB, também chamou a atenção nas escolas a mudança de postura de Rossieli nas redes sociais.

Desde junho do ano passado, ele mudou a hashtag das postagens em seus perfis de #educação para #rossieli. As inscrições acompanham vídeos gravados em visitas a escolas, muitas vezes com edição de qualidade profission­al.

O conteúdo é gerenciado por uma equipe própria, segundo ele contratada por ele mesmo como pessoa física.

Em nota, a Secretaria Estadual da Educação de São Paulo afirmou que o trabalho desenvolvi­do por Rossieli “tem caráter absolutame­nte técnico, perfil ressaltado por todas as equipes por onde ele já trabalhou, desde o Amazonas, no Ministério da Educação e atualmente, em São Paulo”.

A pasta diz que neste momento ele não pretende se filiar a nenhum partido nem se candidatar a cargos políticos.

Afirma ainda que, como qualquer servidor, Rossieli tem “plena liberdade de participar de reuniões e atos políticos, desde que não seja em horário de expediente”.

Segundo a secretaria, o dirigente regional de ensino de Caieiras, presente na reunião do diretório do PSDB, está no cargo desde 2005 e é filiado ao PSDB há cerca de 14 anos.

Já a dirigente da região Leste 2 foi selecionad­a pelo processo Líderes Públicos.

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Rivaldo Gomes - 15.out.2020/Folhapress O governador João Doria e o secretário Rossieli Soares

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