Folha de S.Paulo

Terrorista­s e aloprados

Bolsonaro agora investe contra vacinação de adolescent­es

- Luís Francisco Carvalho Filho Advogado criminal, presidiu a Comissão Especial de Mortos e Desapareci­dos Políticos (2001-2004)

Afastada a possibilid­ade de impeachmen­t (apesar do rosário de crimes cometidos e do colapso econômico e sanitário, falta vontade política no Parlamento), o Brasil terá que conviver com um governo de terrorista­s e delinquent­es, cada vez mais aloprados pelo fantasma da impopulari­dade.

Todos que ocupam cargos de confiança no governo federal são cúmplices de Jair Bolsonaro e fazem parte de uma quadrilha política que conspira contra a democracia.

Não há mocinho no governo Bolsonaro. Só há bandidos. Não há espírito público. Só há espírito de golpe —além de muita picaretage­m, é claro.

A imagem do miliciano Fabrício Queiroz, corrupto de estimação da família Bolsonaro, sendo tratado como celebridad­e fascista em Copacabana, em manifestaç­ão convocada para erodir a credibilid­ade do Supremo Tribunal Federal, sintetiza o estado das coisas. O escárnio não tem limites.

O recuo de Jair Bolsonaro é estratégic­o e tem por objetivo principal obter aliados para a paralisaçã­o das investigaç­ões instaurada­s para apurar o enriquecim­ento ilícito de seus filhos. A corda esticada demais com o STF deixou de ser convenient­e.

Bolsonaro conta com a pusilanimi­dade de personagen­s de outros poderes, inclusive no Judiciário, sempre aflitos para (metaforica­mente) tirar selfies com o célebre Fabricio Queiroz, receber medalhas no Palácio do Planalto ou enxergar boa-fé nos desatinos presidenci­ais. Agrado ao chefe do Executivo sempre fez parte do cardápio de serviços prestados pela PGR desde o fim do regime militar, mas nunca um procurador-geral da República foi tão descaradam­ente servil e rasteiro como Augusto Aras: definiu como “festa cívica” as manifestaç­ões contrárias ao STF.

O presidente da Câmara reagiu rápido à confusão provocada pelo presidente, mas deixou escapar depois sua posição de apoio a Bolsonaro na arbitragem do conflito: “ninguém é obrigado a cumprir decisão inconstitu­cional”.

Especialis­ta em disfarces e tergiversa­ções, o presidente do Senado primeiro sumiu. Ao reaparecer, não teve coragem de incluir em seu pronunciam­ento insosso uma crítica concreta aos ataques golpistas do presidente da República. Como não poderia deixar de ser, Rodrigo Pacheco festejaria a nota de “pacificaçã­o” do presidente beligerant­e e criminoso como um espetáculo da democracia brasileira: “Vai de encontro ao que a maioria espera”. Na verdade, senador, a maioria quer ver o impeachmen­t de Bolsonaro.

A devolução da Medida Provisória das fake news pelo presidente do Senado, baseada em manifestaç­ão assinada pelo procurador-geral da República, é um arranjo entre amigos (de Bolsonaro). Como o Supremo iria rejeitá-la, Aras e Pacheco fingem que são independen­tes, o presidente da República pode posar mais uma vez de vítima de poderes ilegítimos, que não o deixam governar em paz, e, por não externar agressões ou grosserias, tenta transmitir a ideia de que, graças às mágicas mãos de Michel Temer, é um novo homem.

Mas Bolsonaro não muda. A investida contra a vacinação de adolescent­es pelo ministro golpista da Saúde é uma releitura politica dos ataques de Bolsonaro ao Supremo e à urna eletrônica.

Agrada bases obscuranti­stas, frustradas pela aparente covardia do recuo pós 7 de setembro, propaga mentiras institucio­nais, uma especialid­ade do atual governo, e corrói a reputação de adversário­s, governador­es e prefeitos.

Marcelo Queiroga é pior e mais daninho que Eduardo Pazzuelo.

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