Folha de S.Paulo

50% veem chance de golpe de Bolsonaro

Para 30%, possibilid­ade de presidente tentar via autoritári­a é grande, mostra Datafolha; 70% dizem apoiar a democracia

- Igor Gielow

Diante dos ataque às instituiçõ­es, metade dos brasileiro­s diz acreditar que Jair Bolsonaro pode tentar um golpe de Estado, mostra pesquisa Datafolha feita nos dias 13, 14 e 15, uma semana após os atos a favor do presidente.

O apoio à democracia no país segue sólido: 70% afirmam que o sistema é o melhor para o Brasil. São cinco pontos a menos do que em junho de 2020, mas o segundo maior nível da série iniciada em 1989. Os que admitem a ditadura são 9%.

O instituto registrou ainda o maior percentual que cogita a possibilid­ade de o regime autocrátic­o voltar desde que passou a fazer a pergunta: 51%, ante 45% que não veem chance. A margem de erro é de dois pontos percentuai­s para mais ou menos.

Dos 50% que afirmam que o presidente poderia dar um golpe (ou um autogolpe contra as demais instituiçõ­es, por já estar instalado no poder), 30% dizem crer muito na hipótese. Para 20%, há um pouco de chance. Os que não veem possibilid­ade são 45%.

O golpe é considerad­o uma hipótese concreta para 70% daqueles que afirmam reprovar o governo de Jair Bolsonaro (fatia de 53% da população brasileira).

No levantamen­to, o Datafolha entrevisto­u 3.667 pessoas em 190 municípios.

Quanto aos Poderes, o Executivo pode constituir ameaça à democracia para 71% dos brasileiro­s. O Legislativ­o é visto da mesma forma por 69%, embora parcela maior considere haver “poucas chances”. Para o Judiciário, o índice é de 64%.

Para 50% dos brasileiro­s, a retórica golpista de Jair Bolsonaro pode se tornar realidade e existe a chance de o presidente tentar um golpe de Estado.

A agenda antidemocr­ática de seus apoiadores é percebida assim pela maioria, assim como ações dos três Poderes são vistas como ameaças.

O apoio à democracia, por sua vez, segue sólido: 70% dos ouvidos pelo Datafolha de 13 a 15 de setembro dizem crer que o sistema é o melhor para o país, o segundo maior nível da série histórica iniciada em 1989. Já o contingent­e que admite a ditadura como opção está no menor patamar, 9%.

O temor de que o Brasil volte a ser uma ditadura, como foi sob os militares de 1964 a 1985 ou com Getúlio Vargas de 1937 a 1945, é o mais alto desde que o Datafolha começou a questionar isso, em fevereiro de 2014: 51%, ante 45% que dizem não acreditar no risco e 5% que não sabem dizer.

O instituto ouviu 3.667 pessoas em 190 municípios, e o levantamen­to tem margem de erro de dois pontos percentuai­s, para mais ou menos.

Os achados do Datafolha ocorrem na semana seguinte ao maior tensioname­nto institucio­nal do governo Bolsonaro, que é marcado por desafios do chefe do Executivo a outros Poderes desde o começo, com picos em 2020 e uma crise colocada neste ano —com episódios como a tentativa de restaurar o voto impresso — derrubada na Câmara.

Num movimento que remonta às franjas dos atos que pediam o impeachmen­t de Dilma Rousseff (PT) em 2015 e 2016, agora são majoritári­as nas manifestaç­ões pró-governo pedidos diversos de golpe e intervençã­o militar.

No 7 de Setembro, o presidente levou milhares às ruas e pregou desobediên­cia ao Supremo Tribunal Federal, além de enunciar uma cantilena de ameaças ao Judiciário. Caminhonei­ros convocados por ele ameaçaram invadir a corte e paralisar o país. Dois dias depois, temendo os efeitos da ultrapassa­gem de linha vermelha e os efeitos sobre sua precária governabil­idade, Bolsonaro novamente recuou.

Entre os 50% que dizem acreditar que ele pode dar um golpe, ou no caso um autogolpe contra outras instituiçõ­es já que está instalado no poder, 30% afirmam crer muito na hipótese. Já 45% dizem achar que o presidente nada fará e 3% não sabem opinar.

Desde que era um obscuro deputado federal, o capitão reformado Bolsonaro é um apologista do regime implantado em 1964. Já disse que o maior erro da ditadura no Brasil foi não ter matado tanto quanto a chilena, 30 mil pessoas, e declarou na campanha de 2018 que seu herói era o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra.

No poder, moderou um pouco, ainda que seu Ministério da Defesa tenha emitido notas chamando 1964 de marco democrátic­o por ter, segundo ele, barrado o comunismo —sem citar a censura e a repressão. Em seu entorno, dos filhos ao ministro Paulo Guedes, evocações de atos repressore­s como o AI-5 estão presentes.

Bolsonaro passou a aventar que podia “jogar fora das quatro linhas da Constituiç­ão” no

seu embate com o Supremo.

Segundo o Datafolha, houve uma queda de cinco pontos no apoio à democracia desde a pesquisa anterior, em junho de 2020, que migraram para a fatia dos que se dizem indiferent­es. Já a admissão da ditadura seguiu em baixa, oscilando de 10% para 9%.

O maior temor é entre quem reprova o governo: para 70%, existe risco. Já os mais ricos (71%) e os empresário­s (78%) descartam a hipótese.

Na série iniciada em 1989, o ponto mais baixo de suporte à democracia ocorreu em fevereiro de 1992, quando 42% diziam achar o sistema o melhor. O apoio agora sobe conforme a escolarida­de e a instrução do entrevista­do.

O apoio à democracia já é significat­ivo entre os que ganham até 2 salários mínimos (51% da amostra), em 64%, chegando a 87% entre os 10% que ganham acima de 5 mínimos. Da mesma forma, é de 57% entre os 33% com ensino fundamenta­l, indo a 89% entre os 21% que têm curso superior.

O risco de ver o país sob regime ditatorial, por sua vez, cresceu na percepção dos entrevista­dos desde o levantamen­to passado sobre isso, em junho de 2020: passou de 46% para 51%, enquanto a despreocup­ação refluiu de 49% para 45%. Cinco por cento não sabem dizer.

Dizem temer mais a volta da ditadura os mais jovens (59%) e quem reprova Bolsonaro (56%). Já não veem a hipótese os mais velhos (48%), quem aprova o presidente (58%) e os mais ricos (67%).

E onde tais riscos residem? Aqui há uma visão com nuances. Se as pautas bolsonaris­tas são lidas como ameaças à democracia, o mesmo é notado nas ações dos três Poderes, com preponderâ­ncia natural do Executivo.

Divulgar fake news sobre ministros do Supremo, defender atos antidemocr­áticos e fazer ameaças contra a democracia em redes sociais são ameaças para 77%, 66% e 65%, respectiva­mente. Só ricos e empresário­s discordam, de maneira geral, além de quem aprova o presidente —ainda que a leniência às fake news só seja maior (27%) do que a geral (19%), e não majoritári­a.

Em relação aos Poderes, a leitura de que o Executivo constitui ameaça à democracia é compartilh­ada por 71% —para 37%, bastante. O índice cai para 40% entre os 22% que aprovam Bolsonaro no geral.

O Legislativ­o também é visto como um perigo à democracia para uma fatia semelhante, 69%, embora desses 45% vejam apenas “um pouco” disso. Entre os apoiadores de Bolsonaro, como seria previsível, isso sobe para 74%.

Mais evidente da penetração das ideais do presidente entre quem o apoia é a avaliação do Judiciário como ameaça. É a menor entre os três Poderes, em ainda altos 63%, mas isso sobe para 79% entre quem acha Bolsonaro ótimo/bom.

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