Folha de S.Paulo

Brasileiro registra menos trocas de técnicos em 2021

Com limite de demissões, torneio tem 3º menor índice de mudanças comparado a edições anteriores

- Adalberto Leister Filho, Daniel Mariani e Diana Yukari

A regra que limita a troca de treinadore­s no Campeonato Brasileiro parece já trazer efeitos na gestão dos clubes neste ano. Segundo levantamen­to da Folha, ao comparar o atual momento do torneio com as últimas dez edições, o Nacional de 2021 tem o terceiro menor índice de mudança de técnicos.

Caso um time demita o treinador que começou a competição, poderá contratar apenas mais um profission­al para o cargo. Se mandar um segundo técnico embora ao longo do campeonato, precisará pôr no lugar alguém que já seja funcionári­o do clube há pelo menos seis meses.

Houve 13 alterações de comando após 193 jogos da competição deste ano —contando os jogos até a última sexta (17). No comparativ­o, foram considerad­os todos os técnicos que dirigiram algum time por três jogos ou mais ou se o treinador iniciou ou terminou a competição no comando do clube.

O levantamen­to não fez a divisão por rodadas pelo grande número de partidas atrasadas em 2021 e em outras edições da competição.

Dos 20 times que disputam o Brasileiro, 12 já mudaram de treinador: América-MG, Athletico, Bahia, Ceará, Chapecoens­e, Cuiabá, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacio­nal, Santos e Sport.

O time do Mato Grosso iniciou o torneio com Alberto Valentim, que foi demitido na primeira rodada, depois foi treinado pelo auxiliar Luiz Fernando Iubel, interino por cinco jogos, e agora tem Jorginho como comandante. Para efeito estatístic­o, Iubel é contabiliz­ado por ter feito mais de três jogos, mas o clube não estoura o limite da regra com ele.

Com a mesma quantidade de jogos em 2020, 17 treinadore­s já haviam sido trocados. Até o Flamengo, que foi o bicampeão, substituiu seu comandante antes do fim do torneio: saiu o espanhol Domènec Torrent e entrou Rogério Ceni.

Para especialis­tas em gestão e negócios do esporte, a nova regra obriga os times a evoluir na questão administra­tiva.

“Vai forçar os clubes a planejarem melhor o tipo de treinador que querem”, analisa Ary Rocco Júnior, diretor de relações institucio­nais da Abragesp (Associação Brasileira de Gestão do Esporte) e professor da EEFE (Escola de Educação Física e Esporte da USP).

“Esse planejamen­to vai obrigar os clubes a contratar melhor. Ou vão ter que conviver com uma decisão errada por mais tempo”, acrescento­u.

De fato, o impacto maior da mudança deverá ser visto nas últimas rodadas, quando, por causa da ameaça de rebaixamen­to, os times tendem a trocar de comandante em busca de uma solução de emergência. Para este ano, mais da metade dos times não poderá mais usar essa estratégia.

A limitação das trocas pode trazer impactos importante­s inclusive nas finanças dos times brasileiro­s. Cesar Grafietti, consultor de finanças do esporte do Itaú BBA, lembra que os clubes, muitas vezes, usam um treinador, mas pagam salário de quatro.

“Como fazem muitas trocas, os times ficam pagando salário ou multa rescisória de mais dois ou três profission­ais. Usam um [técnico] e pagam quatro”, exemplific­a.

“Falta acreditar em um projeto. Quando o Liverpool contratou o Klopp, usou uma série de análises estatístic­as do Borussia Dortmund [antigo clube do treinador]. Tinham uma ideia do elenco que queriam montar. Mesmo assim, deram um tempo monstruoso para que ele aplicasse seus conceitos. No Brasil, isso é impensável”, afirma.

Rocco Júnior, por outro lado, critica a falta de planejamen­to dos clubes brasileiro­s na contrataçã­o do treinador.

“Em mesma temporada, contratam treinadore­s com perfis completame­nte diferentes. O Fernando Diniz tinha uma ideia de jogo. Aí o Santos o demite e contrata o Fábio Carille, que pensa diferente. Não são decisões pensadas. Buscam apenas dar uma resposta rápida ao torcedor”, comenta.

Quem assume no meio do campeonato admite o problema de pegar o bonde andando.

“Tenho uma forma de pensar futebol, de jogar. É claro que é muito pouco [tempo]. Como dia adia agente vai melhora rechegar mais perto do que penso”, afirmou Carille, logo após assumir o Santos.

Tiago Nunes, que estreou no Ceará com derrota de 2 a 0 para o Grêmio, tambémva in est alinha .“Oprincipal­pon toé encontrar um equilíbrio para darmos continuida­de a bons comportame­ntos que já existiam e aos poucos ir agregando algumas questões táticas e conceituai­s para que o Ceará possa ser mais competitiv­o”, analisou o técnico, que substituiu Guto Ferreira.

Mesmo coma quedanas demissões, o Brasileiro não se compara às grandes ligas europeias.

Na temporada 2020/21 da Premier League, houve apenas uma mudança de comando decorridos os primeiros 193 jogos do torneio (0,05 demissão por clube) —20 equipes disputam a competição.

O West Bromwich demitiu o croat aS laven Bilice contratou o britânico Sam Allardyce. O time ficou em penúltimo e foi rebaixado. Até o final do campeonato só mais três clubes trocaram de técnico: Chelsea, Sheffield United e Tottenham.

Nas outras ligas fortes da Europa, os números são semelhante­s. Até esse momento da competição, os campeonato­s alemão e francês tinham 0,3 troca de comando por clube. Já o Espanhole o Italiano estavam com 0,2. França, Espanha e Itália têm 20 clubes na primeira divisão. A Bundesliga alemã conta com 18 times.

“É uma questão cultural. Muitas vezes, o time está patinando na tabela e não mudam. No ano passado, o Paulo Fonseca não estava dando certo na Roma e foi até o fim da temporada. A diretoria já tinha contratado o Mourinho e não quis fazer uma troca no meio do campeonato”, exemplific­a Grafietti.

A exceção entreligas nacionais europeia sé a Turquia. Na última edição do campeonato nacional, após 193 jogos, 16 treinadore­s já haviam sido substituíd­os. O índice de 0,76 por equipe é superior inclusive ao do Brasileiro atual (0,65 mudança por time).

“O futebol turco é muito parecido com o brasileiro neste aspecto. Há muita paixão envolvida e dirigentes amadores”, afirma o Grafietti.

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