Folha de S.Paulo

Disputa no PSDB para 2022 se acirra entre Doria e Leite

Com prévias apertadas, tucanos atuam para tentar garantir apoio ao vencedor

- Carolina Linhares

Na véspera do prazo para inscrição de candidatos, as prévias presidenci­ais do PSDB são hoje uma disputa acirrada entre os governador­es João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) com o resultado em aberto, de acordo com tucanos de estados variados.

Aavaliação­é ad eque Leite reúne maior simpatia entre membros do partido, mas Doria tem diminuído a desvantage­m ao trabalhar de forma mais intensa que o adversário numa campanha interna para superara rejeição.

Além disso, o paulista tem aseu favor a estrutura e ope soda má quinado Palácio dos Bandeirant­es. Em contrapart­ida, Leite é apontado como o que mais tem capacidade de congregar partidos aliados.

Pens andoem 2022 enasc ons e quências das prévias comum ou outro vencedor, líderes do PSDB já atuam para manter a união interna, garantir apoio efetivo dos tucanos ao vitorioso e manter entendimen­tos compartido­s que podem vira formar uma coligação.

Neste mês, o processo de escolha do presidenci­ável tucano escancarou ainda uma contradiçã­o, minimizada por membros do partido. A bancada de parlamenta­res, que resiste a assumir-se oposição a Jair Bolsonaro e discutir seu impeachmen­t, terá que escolher entre dois adversário­s declarados do presidente, que foram a protestos no último domingo (12) pedir “fora, Bolsonaro”.

Nesta segunda (20), acaba o prazo para inscrição dos candidatos às prévias de dois turnos marcadas para 21 e 28 de novembro. O senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio também devem se inscrever, embora tucanos acreditem que eles desistirão até o final.

A renúncia mais provável é a de Tasso, que abriria mão para apoiar Leite. Em relação a Arthur Virgílio, há mais dúvidas se ele abandonará o pleito e a favor de quem. Questionad­o pela Folha, o ex-prefeito disse que irá concorrer.

O cenário de concorrênc­ia apertada aparece refletido na pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira (17). Tanto Doria quanto Leite marcam 4% das intenções de voto –bastante atrás do ex-presidente Lula (PT, com 44%) e de Bolsonaro (com 26%). Em cenários variados, Doria chega a 6%.

O gaúcho, que é menos conhecido da população, leva vantagem no índice de rejeição, que é de 18%, contra 37% de Doria.

Entre tucanos paulistas, o discurso é o de que Doria está na dianteira com folga e que Leite pode até desistir —mas o processo de conquista de votos segue intenso.

Em julho, o PSDB de São Paulo filiou 65 prefeitos e vice-prefeitos, embora o diretório nacional já houvesse determinad­o que apenas os filiados até 31 de maio têm direito a voto. Dirigentes paulistas argumentam que a regra vai contra o estatuto.

No fim do mês passado, o deputado estadual Gustavo Valadares (PSDB-MG) afirmou que o tesoureiro do partido e aliado de Doria, César Gontijo, esteve em Minas “procurando e pressionan­do prefeitos que tiveram acesso ao fundo eleitoral em 2020, e cobrando apoio a Doria”.

Doria também tem feito viagens nos fins de semana a estados das cinco regiões, sempre com eventos e reunião de apoiadores. O governador paulista conseguiu o apoio público do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

O principal apoio de Leite vem de Minas Gerais. Cacique mineiro, o deputado Aécio Neves é desafeto declarado de Doria.

O presidente do PSDB de Minas, deputado Paulo Abi-Ackel, afirma que a decisão de apoiar Leite “surgiu espontanea­mente na base do partido”.

“Se Eduardo ganhar, será com o entusiasmo dos mineiros. Se Doria ganhar, teremos que trabalhar dobrado em uma campanha presidenci­al para quebrar em Minas a resistênci­a que infelizmen­te existe”, completa.

Arthur Virgílio, por sua vez, defende seu programa presidenci­al de resgate da economia, da diplomacia e da política ambiental.

Internamen­te, os principais nomes do PSDB articulam para que a disputa não seja fratricida, embora haja sempre o risco de que a ala perdedora não se engaje na candidatur­a do rival interno.

Há ainda o componente do bolsonaris­mo. Dependente­s de recursos federais e com parte do eleitorado fiel a Bolsonaro, deputados tucanos, sobretudo do Norte e do Sul, se opuseram à ideia do presidente da sigla, Bruno Araújo, de convocar reunião para deliberar que o partido é de oposição.

Com Doria e Leite a favor do impeachmen­t, a situação enseja a preocupaçã­o de que o presidenci­ável tucano seja abandonado na campanha por deputados alinhados a Bolsonaro –experiênci­a vivenciada por Geraldo Alckmin em 2018, que terminou com 4,76%.

Tucanos afirmam, nos bastidores, que, em 2022, os deputados devem pular do barco bolsonaris­ta. Todos serão cobrados a pedir votos para o presidenci­ável do PSDB, seja Doria ou Leite, e aqueles mais descolados podem até acabar saindo do partido.

No momento, porém, esse desencontr­o é minimizado. A participaç­ão de Leite e Doria nos protestos não se tornou um problema relevante para a bancada. A leitura é a de que a oposição dos governador­es responde à hoje majoritári­a parcela da população que reprova o presidente e quer sua remoção.

Membros do partido não deixam de dizer, contudo, que Doria exagera ao chamar Bolsonaro de genocida e dançar no palanque do impeachmen­t. Isso, na opinião de parlamenta­res que não querem avançar para a oposição, afasta o eleitor tucano que se bolsonariz­ou e cria empecilhos com os deputados.

O senador Plínio Valério (AM) afirma que, devido à rejeição do PSDB em seu estado, fazer campanha para o presidenci­ável tucano traz “mais perda do que ganho”.

Os caciques tucanos já estão pensando no dia de amanhã ao levar em conta, na decisão do voto nas prévias, a viabilidad­e eleitoral de Doria ou Leite e sua capacidade de formar uma coligação.

Aécio, por exemplo, já defendeu que o partido abra mão da cabeça de chapa em prol de uma unidade na chamada terceira via. A posição é lida entre aliados de Doria como uma resistênci­a da bancada a perder parte do fundo eleitoral destinada à campanha presidenci­al. Já deputados argumentam que as siglas não têm chance eleitoral fragmentad­as.

Um dos fatores apontados por deputados ouvidos pela reportagem é a certeza de que Doria não abrirá mão de ser cabeça de chapa da terceira via. E, como a resistênci­a a ele é grande entre as siglas, o receio é o de que se torne candidato de si mesmo, contribuin­do para um segundo turno entre Lula e Bolsonaro.

Já Leite teria mais chances de aglutinar os aliados, ainda de acordo com tucanos. As conversas buscariam unir Luiz Henrique Mandetta (DEM), Simone Tebet (MDB), Rodrigo Pacheco (DEM) e Alessandro Vieira (Cidadania).

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Pedro Ladeira - 9.out.2018/Folhapress João Doria cumpriment­a Eduardo Leite durante reunião da executiva do PSDB em 2018

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