Folha de S.Paulo

Bernardo leva sua boiada

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Semanas depois da sessão de 23 de fevereiro, Bernardo Pereira de Vasconcelo­s refinou sua argumentaç­ão negreira. No dia 25 de abril afirmou: “A África tem civilizado a América”.

A frase chocou e nos dias seguintes ele a elaborou, valendo-se do exemplo dos Estados Unidos: “Os africanos têm contribuíd­o para o aumento, ou têm feito a riqueza da América; a riqueza é sinônimo de civilizaçã­o no século em que vivemos; logo a África tem civilizado a América, que ingrata não reconhece esse benefício”.

O fim do contraband­o de africanos escravizad­os só aconteceu em 1850, quando a frota inglesa começou a bloquear os portos brasileiro­s.

A escravidão só acabou em 1888. Os Estados Unidos tinham mais de 320 mil quilômetro­s de ferrovias.

E que rumo tomou Bernardo Pereira de Vasconcelo­s? Quebrou a perna em dezembro de 1843, continuou defendendo o contraband­o de escravizad­os e vivia bem.

Em abril de 1850 o Rio teve o que poderia ter-lhe parecido uma “febrezinha” e continuou indo ao Senado, onde discursou: “Eu também estou persuadido de que se tem apoderado da população do Rio de Janeiro um terror demasiado, que a epidemia não é tão danosa como se tem persuadido muitos; não é a febre amarela a que reina”.

A 1º de maio, morreu, de febre amarela.

O ministro inglês no Rio anotou: “Sua morte removerá um dos principais obstáculos para a supressão do comércio de escravos neste país”.

No dia 13 de agosto o Senado aprovou o projeto que proibia o contraband­o de escravizad­os.

Serviço: Bernardo vive

Os anais do Senado do Império estão na rede. Quem quiser pode ler todos os debates.

Vale a pena, até mesmo para se ver o tempo que os doutores perdiam discutindo pensões e prebendas para a turma do andar de cima.

Boa parte do tempo da sessão de 23 de fevereiro de 1843, quando Bernardo atirava contra a ferrovia de Cochrane foi consumido na discussão de pensões.

Às duas da tarde os senadores foram almoçar.

Saída de emergência

Mesmo que não tenha sido essa sua intenção, o ministro Paulo Guedes criou saída de emergência para Jair Bolsonaro ao dizer, com toda razão, que a instituiçã­o do mecanismo da reeleição foi “o maior erro político que já aconteceu no país”.

Durante a campanha de 2018, Bolsonaro condenou esse instituto e prometeu que não disputaria a reeleição.

Agora, com 53% de desaprovaç­ão no Datafolha, se quiser, pode sair do páreo. Poderá apresentar projeto de emenda constituci­onal acabando com a reeleição a partir de 2026.

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