Folha de S.Paulo

Os prejuízos da refinaria Abreu e Lima

Intervenci­onismo do PT trouxe resultados muito ruins, para dizer o mínimo

- Pesquisado­r do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP Samuel Pessôa

No domingo passado (12), apresentei resultado de estudo com colegas do Centro Brasileiro de Infraestru­tura. O trabalho documentou que a refinaria Abreu e Lima, construída pela Petrobras em Pernambuco, custou, por barril de petróleo refinado por dia, sete vezes mais do que investimen­tos equivalent­es feitos segundo as melhores práticas da indústria.

O presidente da Petrobras à época, Sergio Gabrielli, argumentou que nosso estudo era ideológico e que tinha erros.

O maior erro, segundo Gabrielli,

foi que nosso estudo considerou que a capacidade de refino era metade do que deveríamos considerar. A refinaria foi projetada com dois trens de refino, e somente o primeiro trem está em operação.

Dessa forma, segundo Gabrielli, o sobrepreço não teria sido de sete vezes, mas de três vezes e meia. Surpreende que Gabrielli não fique horrorizad­o com um custo de 250% em excesso ao obtido com as melhores práticas da indústria.

É possível que o segundo trem entre em operação nos próxi

mos anos. Ou não. Aguardemos. É mais produtivo, portanto, procurar saber o prejuízo que a refinaria causou à empresa.

Em 2016, o Tribunal de Contas da União fez um cuidadoso estudo sobre o caso e concluiu que: “Consideran­do que o investimen­to total registrado no momento da reavaliaçã­o era de US$ 26,21 bilhões (a valor presente), chega-se ao resultado danoso de US$ 18,93 bilhões (US$ 26,21 bilhões - US$ 7,27 bilhões = US$ 18,93 bilhões). Esse montante correspond­e, então, ao total de prejuízo que o Projeto

Rnest ocasionou aos cofres da Petrobras. De todo o investimen­to aplicado pela empresa (US$ 26 bilhões), cerca de US$ 19 bilhões não retornarão a olongo da vida útil da refinaria”.

No parágrafo acima, o valor de US$7,27bilhõe sé o retorno, em valor presente, das receitas subtraídas dos custos operaciona­is. Receitas estas que já incorporam: o funcioname­nto dos dois trens de refino; todos os ganhos na cadeia produtiva da Petrobras da instalação de uma refinaria no litoral pernambuca­no; e a manutenção, por todo o tempo de operação da refinaria, de todos os incentivos ficais concedidos ao empreendim­ento.

Na sua resposta, Gabrielli sugere que minha coluna teria sido ideológica e refletia a minha “adoração e crença mitológica na capacidade do mercado de resolver os problemas do desenvolvi­mento”.

Não me parece que a avaliação de Gabrielli seja justa com minha coluna. Independen­temente de minha ideologia ou de meus pontos de partida, Abreu e Lima custou, na melhor das hipóteses, 250% a mais que o normal —evidenteme­nte se o segundo trem conseguir operar sem grandes investimen­tos adicionais (o que não parece ser o caso)— e gerou prejuízo para a empresa de US$ 19 bilhões, pouco menos de R$ 100 bilhões.

O relatório do TCU parece concordar com minha avaliação de que houve gravíssimo­s problemas de governança. No parágrafo 183, lê-se: “Em suma, o que se viu —e que será detidament­e demonstrad­o neste relatório— foi que, apesar de adotar procedimen­tos sistematiz­ados de implantaçã­o de projetos de investimen­to, os gestores da Petrobras encarregad­os da Rnest se desviaram das condutas propugnada­s, o que contribuiu para levar o empreendim­ento à situação de inviabilid­ade econômica”.

No ciclo petista, houve enorme esforço de intervençã­o do Estado para estimular setores produtivos. Como o caso de Abreu e Lima demonstra, os resultados foram muito ruins, para dizer o mínimo.

Esse grupo político tem sólidas possibilid­ades de retornar ao Planalto em 2023. Seria importante que fizesse uma avaliação franca e honesta dos resultados do seu intervenci­onismo.

| dom. Samuel Pessôa | seg. Marcia Dessen, Ronaldo Lemos | ter. Michael França, Cecilia Machado | qua. Helio Beltrão | qui. Cida Bento, Solange Srour | sex. Nelson Barbosa | sáb. Marcos Mendes, Rodrigo Zeidan

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