Folha de S.Paulo

Casos de ‘urina preta’ avançam e cinco estados investigam suspeitas

- Katna Baran

Ao menos cinco estados do Brasil investigam possíveis casos da síndrome de Haff, conhecida como “doença da urina preta”, devido a um dos sintomas da enfermidad­e.

O problema é causado por toxina que pode ser encontrada em peixes e crustáceos. A urina escura é um dos sintomas do quadro de rabdomióli­se, marcado pela destruição das fibras que compõem os músculos do corpo.

O maior número de notificaçõ­es é no Amazonas. Lá uma força-tarefa analisa amostras de sangue e soro de pacientes, além da água dos rios que banham os municípios em que há casos. São observados também peixes que podem estar contaminad­os. As análises ainda não foram concluídas.

No total, há 61 casos suspeitos de rabdomióli­se em dez municípios do estado. Até 22 de agosto, eram 44 notificaçõ­es, principalm­ente de Itacoatiar­a, a 176 quilômetro­s de Manaus.

“Todos os pacientes estão estáveis. Estamos monitorand­o todos os casos. De qualquer forma, estamos investigan­do para confirmar as possíveis causas desse surto”, afirmou a diretora-técnica da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, Tatyana Amorim. Segundo ela, um representa­nte do Ministério da Saúde dá suporte às ações. Em nota, a pasta não confirmou a informação e disse que a rabdomióli­se não é de notificaçã­o compulsóri­a.

No Pará, seis casos suspeitos da síndrome de Haff estão em apuração —um em Belém, um em Trairão e quatro em Santarém, segundo a secretaria de Saúde.

O órgão não informou o estado de saúde dos pacientes, apenas que encaminhou amostras de urina e sangue para um laboratóri­o de referência. A pasta também emitiu nota de alerta com orientaçõe­s para identifica­ção e notificaçã­o de casos suspeitos pelos municípios.

No Ceará, até 21 de agosto, foram notificado­s nove casos suspeitos —quatro homens e cinco mulheres com média de idade de 51 anos, segundo a secretaria de Saúde. Amostras dos peixes foram enviadas para confirmaçã­o em laboratóri­o, mas o resultado ainda não foi divulgado.

Conforme a pasta, os pacientes apresentar­am a urina escura (vermelha a marrom). Parte dos doentes teve dores de início súbito na região cervical (pescoço, trapézio e dorso) ou de membros inferiores e superiores. Um deles também apresentou febre.

Na Bahia, após dois anos sem registros, as notificaçõ­es da síndrome têm reaparecid­o desde agosto de 2020, quando 40 casos foram confirmado­s, sem ocorrência de mortes. Em 2021, já são 18 notificaçõ­es.

A secretaria de Saúde do estado esclarece que a doença não possui tratamento específico e que o uso de anti-inflamatór­ios não é indicado. A recomendaç­ão é procurar atendiment­o imediato em caso de escurecime­nto da urina.

Para evitar a doença, a pasta orienta que a população consuma pescados ou crustáceos de locais que ofereçam segurança e procure não ingerir o alimento na forma crua.

Em Pernambuco, após a morte de uma paciente com a doença em março, o Ministério Público abriu investigaç­ão e realizou audiência pública com autoridade­s e representa­ntes do setor de alimentaçã­o e pesca.

De acordo com a secretaria de Saúde do estado, a análise das amostras de pescado apontou que não foi possível afirmar a causa da infecção alimentar que resultou na síndrome de Haff na paciente que morreu. Ainda segundo a pasta, desde então, não houve novos registros de casos.

Procurado, o Ministério da Agricultur­a informou que todos os casos estão sendo acompanhad­os pelo Ministério da Saúde.

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