Folha de S.Paulo

Medíocre repetição

No futebol, na política e na vida, precisamos evoluir, sonhar mais, aprender

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Somos todos tendencios­os, alguns muito mais que outros. Criamos conceitos e passamos a ver as coisas e o mundo de acordo com o que pensamos. É quase impossível ser um observador totalmente neutro. Tento, mas não consigo.

Não há dúvidas de que, na média, os times e os jogadores que atuam no Brasil são inferiores aos da Europa, o que não significa que tudo aqui é ruim e que tudo fora é muito bom e superior. Na Europa há muitos jogadores e times ruins e vários erros na arbitragem. Porém, com certeza, não há gramados tão horríveis, como alguns do Brasil.

No meio de semana, vi o PSG, com o trio de craques. Ainda é um time desorganiz­ado. Merecia perder no empate por 1 a 1 com o modesto Brugge, da Bélgica. No Barcelona, Messi driblava da direita para o meio e, quando os defensores fechavam sua passagem, esticava a bola na esquerda para Neymar, livre ou apenas contra um marcador. O brasileiro decidia as jogadas com dribles, passes ou finalizaçõ­es. No PSG, contra o Brugge, os dois se encontrara­m no meio, embolados. Mbappé, escalado para atuar como centroavan­te, como Suárez, no Barcelona, percebeu que não é o seu lugar e só brilhou quando foi para o lado, como gosta. Nenhum dos três voltava para marcar. No Barcelona, Neymar fazia isso pela esquerda.

Vi também o Manchester United, com Cristiano Ronaldo, perder merecidame­nte para o modesto Young Boys, da Suíça. O treinador Solskjaer, mais uma vez, escalou Pogba de armador, pela esquerda, quase um ponta. Poucas vezes vi uma equipe superior ficar com dez jogadores e ser tão bagunçada em campo. O time suíço pressionou e teve inúmeras chances claras de gol. Como há sempre um jeito de ficar pior, o técnico tirou Cristiano Ronaldo, a única possibilid­ade de contra-ataque. O lendário ex-treinador Alex Ferguson deve ter ficado horrorizad­o com Solskjaer.

O Real Madrid, com gol do jovem brasileiro Rodrygo, venceu a Inter, em Milão, por 1 a 0. Vinícius Júnior tem jogado muito bem neste início de temporada, o que não ocorreu na seleção, contra o Chile, pois se limitou a recuar e a marcar o lateral adversário. Tenho a impressão, o que não é ainda uma realidade, que Vinícius Júnior poderá evoluir e se tornar um jogador importante para a seleção até a Copa. É a chance de o Brasil ter mais talento do meio para frente.

Há também na Europa muitos erros de arbitragem e do VAR, ambos com condutas à brasileira, como nos dois pênaltis, um para cada lado, marcados no empate em 1 a 1 entre Sevilla e Salzburgo. São erros ainda mais frequentes no Brasil, como o pênalti marcado a favor do Operário contra o Cruzeiro.

No Brasil há muitos jogos bons e ruins. O Fortaleza foi nitidament­e superior ao São Paulo na vitória por 3 a 1. Não houve surpresa. O técnico Vojvoda tem sido bastante elogiado, merecidame­nte, como foi Crespo nos melhores momentos do São Paulo. O futebol dá muitas voltas.

O São Paulo com três zagueiros sofre muitos gols, como é comum nessa formação tática. Os três se agrupam pelo meio e deixam enormes espaços pelos lados, já que os alas avançam e não conseguem voltar a tempo. A linha de quatro, com dois zagueiros e dois laterais, é mais eficiente na marcação, pois são quatro defensores em vez de três.

No futebol, na política e na vida, todos precisamos evoluir, sonhar mais, aprender. Muitos não querem, acham que sabem tudo. Preferem a medíocre repetição.

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