Folha de S.Paulo

Paris separou e agora voltou a unir os amigos Neymar e Lionel Messi

Admiração do brasileiro pelo argentino foi início de história que contou com ajuda de Daniel Alves

- Alex Sabino

Santos e Barcelona estavam perfilados no túnel para entrar em campo. Lionel Messi puxava a fila do time espanhol. No sulamerica­no, Neymar estava mais atrás, mas não parava de olhar para o camisa 10 rival. Era a primeira vez que o encontrava em campo.

Um diretor santista viu a cena, espantou-se com a expressão de admiração do craque alvinegro ao ver o adversário minutos antes da final do Mundial de Clubes de 2011 e falou para quem estava ao seu lado: “Perdemos o jogo!” Não foi por causa do atacante, mas o cartola estava certo. Os europeus golearam por 4 a 0, no que o técnico Pep Guardiola depois definiria como a maior atuação daquele seu Barcelona. O resultado foi também a primeira cena daquela que começaria a ser uma das amizades mais famosas do futebol mundial: Messi e Neymar.

Eles atuaram pela primeira vez juntos pelo Paris SaintGerma­in (FRA) nesta quartafeir­a (15), no empate em 1 a 1 com o Club Brugge (BEL), pela Champions League. Isso deve acontecer para os torcedores franceses neste domingo (19), quando o PSG recebe o Lyon, no Parque dos Príncipes, pela liga nacional.

A partida, que começa às 15h45, terá transmissã­o ao vivo e exclusiva pela plataforma de streaming Star+, da Disney.

“Aprendia todos os dias com Messi, fora dos treinament­os ou jogando com ele ou, simplesmen­te, o vendo jogar. É o meu ídolo”, elogiou Neymar.

Esta não foi a única vez que reverencio­u em público o grande amigo.

Quando o Brasil perdeu a final da Copa América deste ano para a Argentina, o atacante escreveu odiar perder. “Mas fico feliz com o seu título”, completou, referindo-se ao camisa 10 adversário.

Se logo após o apito final ele chorava no gramado do Maracanã, minutos depois estava no vestiário da Argentina para parabeniza­r e passar alguns minutos ao lado de Lionel. As demonstraç­ões de Messi são mais privadas, dentro de sua personalid­ade reservada.

A Folha conversou nos últimos dias com dirigentes e jogadores que dividiram elenco com Neymar ou que conhecem ambos.

Em 2013, ao chegar no Barcelona após deixar a Vila Belmiro, o brasileiro mal conseguia esconder a preocupaçã­o dos primeiros jogos. Achava que tinha de render no mesmo nível da equipe que, dois anos depois, venceria a Champions League pela segunda vez na década.

“Não se preocupe. Você tem futebol para estar aqui. Eu vou te ajudar”, prometeu Messi.

Neymar depois contaria outra história de quando foi visto pelo amigo triste no vestiário por não ter jogado bem. Recebeu novo conselho. “Não se deixe intimidar [por estar no Barcelona]. Seja você”, foram as palavras do argentino.

“Mesmo que eu não quisesse que fosse assim, jogar com tantas estrelas te deixa retraído. Depois que ele começou a falar comigo, me soltei, mostrei meu futebol e tive confiança. Encontrei a felicidade graças a Leo. O melhor do mundo me deu seu carinho”, confessou Neymar.

Há dez anos, quando o Santos perdeu o Mundial, ele já tinha um pré-acordo assinado com o Barcelona e pelos dois anos seguintes teria conversas esporádica­s com Messi. Contatos intermedia­dos por Daniel Alves, às vezes por meio de partidas online de videogame.

Atuar ao lado “de Leo” sempre foi o projeto de Neymar. E como mesmo admitem pessoas que o conhecem desde criança, ele costuma conseguir o que deseja. No início de 2009, quando nem sequer era titular absoluto do Santos, havia prometido ao seu pai que naquele ano jogaria a final do Campeonato Paulista. Foi exatamente o que aconteceu.

Quase ao mesmo tempo, o argentino levava o Barcelona ao título europeu e abria caminho para ser eleito melhor do mundo pela primeira vez.

Neymar participou ativamente do lobby para que Messi fosse para o PSG. Pouco tempo antes, já havia dito que uma de suas prioridade­s era voltar a jogar ao lado do amigo. Assim como Messi tentou, sem sucesso, em 2017, impedir que o brasileiro deixasse Barcelona.

Uma transação em que, na época, o atacante acertou salário de 3,5 milhões de euros por mês (cerca de R$ 22,8 milhões em valores atuais, sem contar acordos publicitár­ios), mas que não foi fechada apenas por isso. Aconteceu também para Neymar poder brilhar sozinho em um time de ponta e ser, enfim, eleito melhor do planeta. Algo que não aconteceu até o momento.

Segundo pessoas ouvidas pela reportagem, ele balançou com o pedido de Messi, mas decidiu sair mesmo assim. Agora foi a vez de o argentino, depois de ver sua permanênci­a na Catalunha impossível, buscar rostos conhecidos. Transferiu-se para o PSG, clube em que jogam seus compatriot­as Ángel Di María e Leandro Paredes, e Neymar, companheir­o de todas as horas.

Em um gesto de generosida­de, o brasileiro lhe disse que cederia a camisa 10. Assim o recém-chegado se sentiria, na teoria, mais à vontade. A oferta foi recusada sob o argumento de que os novatos precisam se adaptar. Quando Neymar foi lembrado, meio na brincadeir­a, meio a sério, de que a chegada de Messi reduziria sua chance de ser escolhido melhor do mundo, não deu nenhuma importânci­a.

Pelo menos no papel, a probabilid­ade de o Paris SaintGerma­in conquistar seu título mais sonhado, a Champions League, cresceu. Desde a chegada de Neymar, a melhor campanha foi o vice de 2020.

Em quatro anos juntos no Barcelona, eles venceram duas ligas espanholas (2015 e 2016), três Copas do Rei (2014, 2015 e 2016), o título europeu e o Mundial de Clubes em 2015.

 ?? Kenzo Tribouilla­rd - 15.set.21/AFP ?? Neymar e Lionel Messi em aqueciment­o na primeira partida da dupla junta pelo Paris Saint-Germain na Champions League, contra o Club Brugge, que terminou empatada em 1 a 1 na última quarta-feira (15)
Kenzo Tribouilla­rd - 15.set.21/AFP Neymar e Lionel Messi em aqueciment­o na primeira partida da dupla junta pelo Paris Saint-Germain na Champions League, contra o Club Brugge, que terminou empatada em 1 a 1 na última quarta-feira (15)

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