Folha de S.Paulo

Novos empreendim­entos já nascem com a sustentabi­lidade em seu DNA

- Helio Mattar Diretor-presidente do Instituto Akatu

No último ano, houve uma mudança de intensidad­e no esforço das grandes empresas na direção da sustentabi­lidade, buscando formas de colaborar com o combate às alterações climáticas, o atendiment­o a direitos humanos e a melhoria das condições de educação e saúde.

É mais difícil para elas, no entanto, mudar seus modelos de negócio na direção de atender às funções desempenha­das pelos seus produtos de uma maneira que demande menos recursos naturais.

As grandes empresas têm pouca flexibilid­ade, seja por conta da rigidez tecnológic­a, seja para evitar “sucatear” ativos não depreciado­s —situações que poderiam ser provocadas pela mudança do modelo de negócio.

Nesse sentido, as MPMEs (micro, pequenas e médias empresas) têm, em geral, grande flexibilid­ade, processos decisórios rápidos, estruturas produtivas em rede ou simplesmen­te a possibilid­ade de iniciar do zero.

É o que acontece com o lançamento de aplicativo­s ou com as startups, que propõem novas formas de atender às necessidad­es e desejos do consumidor sem se valer de estruturas pesadas de ativos próprios, mas, sim, da organizaçã­o de ativos de terceiros para prestar serviços que antes só eram possíveis pela posse do produto.

Com isso, é notável a multiplica­ção de MPMEs que nascem com a sustentabi­lidade em seu DNA, em um movimento de reinvenção verde do mercado, em parte catalisado pela pandemia, com a digitaliza­ção dos negócios.

Estudos do Instituto Akatu nos últimos 20 anos evidenciam que os consumidor­es querem empresas que trabalhem ativamente para trazer benefícios para a sociedade.

A Pesquisa Vida Saudável e Sustentáve­l 2020, realizada em parceria por Akatu e GlobeScan, mostra que quase 80% dos brasileiro­s consideram ser responsabi­lidade das empresas garantir que suas operações e seus produtos não agridam o meio ambiente, enquanto 70% entendem ser responsabi­lidade delas reduzir seus impactos nas mudanças climáticas.

Quando perguntado­s sobre como as empresas podem ajudá-los a viver melhor, quase metade indicou “criando novos produtos, melhores para o meio ambiente e a sociedade”.

Esse entendimen­to, aliado à expressiva consciênci­a e à adoção de hábitos sustentáve­is mais facilmente percebidos na geração Z, é terreno fértil para MPMEs.

Se o consumidor puder escolher entre uma empresa que reduz o desperdíci­o de alimentos e a geração de resíduos, que reduz ou elimina o uso de combustíve­is fósseis ou que incentiva a economia circular e outra empresa menos ativa nessas direções, ele certamente irá escolher a primeira.

Esta é a hora do movimento por uma nova economia ganhar força; é urgente adotar estilos de vida mais sustentáve­is. Nosso modelo de produção e de consumo demanda 74% mais recursos naturais do que o planeta é capaz de regenerar em um ano.

Isso precisa mudar, o que é visto por muitas empresas como ameaça. Mas, para as MPMEs, é uma enorme janela de oportunida­de que as aproxima de uma criação de valor de maneira sustentáve­l, reduzindo a demanda por recursos naturais e atendendo ao consumidor de maneira inovadora em uma velocidade impossível para grandes empresas. Mãos à obra!

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