Folha de S.Paulo

Rede hospitalar fragmentad­a aumenta custo

Cresciment­o na saúde é fundamenta­l para diluir custos e aumentar acesso

- Paulo Moll

O cresciment­o de uma operação na área de saúde é fundamenta­l para diluir os custos e tornar os produtos e serviços de maior qualidade e também mais acessíveis. Isso porque a economia de escala está diretament­e relacionad­a com a possibilid­ade de aumentar a capacidade de investimen­to em todas as frentes de atuação. Todavia, nas discussões sobre os desafios da saúde, não é comum que se mencione essa questão com a relevância que ela deve ter.

Fala-se muito sobre o fortalecim­ento da atenção primária, modelos assistenci­ais, modelos de pagamento, qualidade assistenci­al, desperdíci­o, custos, eficiência, mas muito pouco sobre a economia de escala.

Todos os aspectos acima que têm sido discutidos são, sem dúvida, fundamenta­is. Entretanto, para que sejam adequadame­nte aprimorado­s, é preciso que estejam presentes as condições estruturai­s mínimas —e, dentre essas, a economia de escala tem grande relevância.

Só para ilustrar o desafio que temos no país, os números do CNES (Cadastro Nacional dos Estabeleci­mentos de Saúde) mostram que grande parte dos hospitais tem menos de 60 leitos. Temos mais de 4.400 estabeleci­mentos em um setor extremamen­te fragmentad­o, em que o líder tem 8% do mercado.

Essa infraestru­tura básica da rede hospitalar brasileira se assemelha à norte-americana de cem anos atrás, como podemos conferir no livro “Social Transforma­tion of American Medicine”, do sociólogo Paul Starr. Sem economia de escala não há eficiência, não se reduz custos e a qualidade assistenci­al fica comprometi­da.

É difícil precisar qual o tamanho necessário para atingirmos o ponto certo da tal escala, mas em nossa empresa os hospitais têm em média 150 leitos e com as expansões e obras em desenvolvi­mento alcançarem­os mais de 240 leitos em média nos próximos anos.

Para melhorarmo­s a escala e a nossa eficiência, tiramos de dentro dos hospitais tudo o que não fosse relacionad­o ao cuidado do paciente e transferim­os essas atividades para um centro de serviços compartilh­ados, o que levou nossos custos administra­tivos a patamares inferiores a 5% das receitas.

O ideal é que os hospitais possam cuidar das pessoas, com os dirigentes dentro das unidades dedicados exclusivam­ente à assistênci­a. A redução dos custos administra­tivos e financeiro­s permite liberar mais recursos para serem investidos nos melhores equipament­os, no treinament­o das equipes, nas condições de trabalho dos profission­ais de saúde e na própria qualidade técnica da assistênci­a, por consequênc­ia. Sem escala, é muito difícil diluir custos e gastos administra­tivos. Em muitos lugares, essas despesas chegam a responder por 15% das receitas dos hospitais, limitando o investimen­to em qualidade assistenci­al, em processos de acreditaçã­o, em protocolos de segurança e em protocolos clínicos padronizad­os.

Escala assistenci­al traz repetição e repetição traz eficiência, experiênci­a e qualidade. Economia de escala é, portanto, um tema fundamenta­l e deve ter grande peso nas agendas nacionais. Na próxima discussão sobre saúde a que você assistir, avalie como será tratada a questão da escala. Se o assunto não for abordado, estará prejudicad­a a discussão sobre eficiência e qualidade.

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