Folha de S.Paulo

Sem água e sabão

- Ruy Castro

Notícia recente provocou decepção e engulho em milhões. Alguns dos mais amados e desejados nomes do cinema admitiram não gostar de banho —podem passar dias ou semanas sem tomar um e só encaram um chuveiro em último caso. Entre os porquinhos confessos, Brad Pitt, Russell Crowe, Johnny Depp, Mel Gibson, Gwyneth Paltrow, Julia Roberts, Cameron Diaz, Uma Thurman e Leonardo DiCaprio. Os veículos citaram também Jake Gillenhall, Ashton Kutcher e Charlize Theron, de quem nunca ouvi falar, mas que imagino serem os novos brandos e monroes do pedaço.

Parece novidade, mas não é. Vários livros sobre a intimidade da velha Hollywood apontam justamente os queridos Marlon e Marilyn como refratário­s a água e sabão. Brando, por atitude, com o que estabelece­u um padrão no Actors Studio e levou alunos como James Dean, Karl Malden, Shelley Winters, Rod Steiger, Paul Newman, Steve McQueen e Dustin Hoffman a fazer o mesmo. E Marilyn, como se sabe, usava Chanel nº 5 todas as noites.

Mas não era só Hollywood. Ao constatar que, entre “Acossado” (1959) e “Pierrot le Fou” (1965), o diretor JeanLuc Godard rodou nada menos que oito longas e quatro curtas, os estudiosos da Nouvelle Vague concluíram que isso só foi possível pelos zero banhos de Jean-Luc no período. E o herói dos dois filmes, Jean-Paul Belmondo, que nos deixou há pouco, passou uma temporada no Rio em 1963, filmando “O Homem do Rio”. Uma amiga minha, com quem ele teve um feliz affaire, contou-me anos depois que os grandes momentos eram os banhos que ela lhe dava antes de botarem os times em campo.

A revelação sobre os astros veio à tona porque, também segundo o noticiário, muitos americanos estão usando a quarentena como pretexto para tomar menos banhos.

Não será o caso de Mel, Brad ou Johnny. Pode ser uma opção profission­al. Talvez temam que o banho remova as camadas de vivência que seus personagen­s lhes emprestam.

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