Folha de S.Paulo

Helicópter­o com registro da Polícia Civil do Rio de Janeiro é apreendido por possível uso ilegal

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brasília Um helicópter­o apreendido pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) em 26 de agosto, durante uma operação voltada ao combate a estruturas de apoio ao garimpo ilegal na terra indígena yanomami, carregava na cauda o prefixo PP-EIH.

O dono, segundo os registros da Anac e o termo de apreensão, é a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro.

A possibilid­ade de que um helicópter­o da polícia do Rio tenha operado em garimpo ilegal em Roraima, dando suporte à logística nos clarões na Amazônia, provocou um jogo de empurra entre os órgãos envolvidos.

À Folha a Polícia Civil do Rio afirmou, em nota, que o helicópter­o sofreu um acidente e foi entregue à seguradora em 2013, “não pertencend­o à Polícia Civil do Rio desde então”. “O procedimen­to foi entregue para a Anac à época, seguindo o protocolo. A matrícula do helicópter­o também foi cancelada na mesma ocasião.”

A Anac, porém, disse que não houve solicitaçã­o de cancelamen­to de matrícula ou de transferên­cia de propriedad­e. Nem a polícia nem a seguradora fizeram isso, afirmou a agência, em nota.

O fato é que o helicópter­o estava descaracte­rizado, num galpão de uma empresa em Boa Vista suspeita de atuar na logística do garimpo ilegal na terra yanomami.

Conforme o termo de apreensão lavrado pela Anac, não foram apresentad­os diário de bordo e documentos de manutenção da aeronave. Os bancos traseiros foram retirados e, no lugar, foram instaladas placas de madeira, sem autorizaçã­o. Esse procedimen­to é comum em helicópter­os que atuam na mineração, pois o espaço é usado para levar carga.

Segundo o documento da Anac, há indícios de operação ilegal “dada a caracteriz­ação encontrada”. Um dos elementos foi a identifica­ção de peças sem rastreabil­idade. Conforme o auto de apreensão, os indícios são de que o helicópter­o era utilizado para transporte de cargas.

Agentes suspeitam que a sucata do helicópter­o tenha sido comprada num leilão, e que peças de uma segunda aeronave tenham sido acopladas. É um processo conhecido como “canibaliza­ção”.

Se isso ocorreu, com a manutenção do registro no nome da Polícia Civil do Rio, a aeronave pode ter voado a áreas de garimpo sem qualquer risco de identifica­ção dos verdadeiro­s donos.

O empresário Rodrigo Martins de Mello, dono da Cataratas Poços Artesianos, onde o helicópter­o foi encontrado e apreendido, adquiriu somente a “carcaça, a sucata”, conforme nota assinada pelo advogado Cláudio Dalledone.

Segundo o advogado, a aeronave é, neste momento, “inservível”, mas “poderia ser reparada e devidament­e legalizada junto à Anac para operar regularmen­te”.

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Divulgação/PF Helicópter­o identifica­do como sendo da Polícia Civil do Rio de Janeiro apreendido

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