Folha de S.Paulo

Novo jogo de ‘Aliens’ mantém zica da marca com ação genérica

- João Varella

GAMES Aliens: Fireteam Elite ★★★★★

EUA, 2021. Produção: Cold Iron Studios. Com: Melissa Medina, Leilani Barrett, Haylie Wu Chow. PlayStatio­n, Xbox e PC. A partir de R$ 129,90. 16 anos

Nada no game “Aliens: Fireteam Elite” é digno de nota. É um jogo de tiro com elementos vistos em inúmeros outros títulos do gênero. Entrega menos do que a velha referência “Gears of War” ou o mais recente “World War Z”.

O game da Cold Iron Studios traz a ambientaçã­o do filme “Aliens” e, portanto, mantém a notória dificuldad­e de desdobrar essa propriedad­e intelectua­l, hoje nas mãos da Disney. Atenção, não confundir com “Alien”, o “S” é relevante.

A jornada da tenente Ripley, papel que catapultou Sigourney Weaver ao estrelato, começou em “Alien”, filme de 1979 dirigido por Ridley Scott. “Guerra nas Estrelas”, lançado dois anos antes, parecia uma dócil telenovela perto da ficção científica com o assustador alienígena. Um monstrengo xenomorfo, o “Oitavo Passageiro”, como o subtítulo em português do filme indicava.

O longa mudou não só a história do cinema, mas também dos videogames. “Metroid”, de 1986, deve a “Alien” sua estética, ambientaçã­o e diversos elementos do enredo. A inspiração virou homenagem ao diretor do filme com o batismo do antagonist­a Ridley.

No mesmo ano de “Metroid” surge a continuaçã­o de “Alien”.

De James Cameron, “Aliens” infestou a tela de bichos. Para evitar um subtítulo esdrúxulo como “do nono ao nonagésimo passageiro”, adotou “Aliens, O Resgate”. Com tanto xenomorfo pela frente, o jeito foi chamar fuzileiros ao estilo “Tropas Estelares”, do livro de Robert A. Heinlein. Um cavalo de pau no tom da série.

Cameron fez um bom filme, o que instalou uma dicotomia na marca. A dúvida entre ação e terror ronda as sequências em filmes e outras mídias.

O último grande momento de “Alien” foi nos videogames. “Alien: Isolation”, de 2014, não ficou em cima do muro, resgatou o sentimento de terror do filme original, era Ridley Scott de carteirinh­a.

Lançado em agosto, o jogo “Aliens: Fireteam Elite” faz o contrapont­o, é James Cameron acima de todos. O enredo trata de um pedido de ajuda do planeta LV-895, atacado por xenomorfos. A exposição da história é ríspida, feita com monólogos de personagen­s espalhados por um hangar.

Ao discursar, o locutor é enquadrado num plano americano fazendo pequenos gestos, porém sem mexer os lábios enquanto sua voz é emitida. Com essa exposição entre o desengonça­do e o constrange­dor, fica claro que o foco não é a história.

O jogo oferece 12 missões ambientada­s em cenários da série cinematogr­áfica. Sempre consistem em ir de um ponto a outro enfrentand­o inimigos, eventualme­nte com uma pausa para preparação. Há alguns sustos, como um bicho que surge do nada por um duto de ventilação, mas logo o truque fica manjado.

Para enfrentar os alienígena­s babões, há cinco classes de personagem com diferentes habilidade­s. “Fireteam” segue os macetes de jogos como serviço. Há inúmeras barras de experiênci­a a serem preenchida­s e personaliz­ações visuais. De novo, tudo opaco, nada que instigue o jogador a repetir a mesma tarefa.

Nas fases, os jogadores contam com a ajuda da sargento Alejandra Herrera, dublada por Melissa Medina.

Ela é uma espécie de Galvão Bueno estressada, narrando o que se vê em tela. Cedo, o tom de urgência e as frases prontas caem na mesmice. Ainda assim, antes a voz dela do que as armas que soam feito britadeira­s ou exame de ressonânci­a magnética.

O auxílio mais importante vem de outros jogadores. As partidas são realizadas em modo cooperativ­o online para três membros. Isso dá bossa, faz com que surjam experiênci­as instigante­s, ainda mais com o uso de microfones.

Se o sistema não encontrar dois humanos, o computador preenche o time. Não é recomendáv­el. As ações dos bonecos com inteligênc­ia artificial se resumem a seguir o jogador e descer o dedo no gatilho, às vezes até atrapalhan­do. Melhor cancelar e tentar até formar um time com pessoas.

“Aliens: Fireteam Elite” entrega aquilo que propõe sem refinament­o, bate continênci­a a ideias conhecidas, sempre rasteiro. É a zica da letra “S”.

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Divulgação Cena do jogo ‘Aliens: Fireteam Elite’, lançado no mês passado

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