Folha de S.Paulo

PEC vai liberar R$ 106 bi, sem espaço de reajuste a servidor

Promessas de Bolsonaro não estão previstas nas contas divulgadas pelo Ministério da Economia

- Thiago Resende e Renato Machado

A PEC dos Precatório­s deve liberar aumento de R$ 106,1 bilhões nos gastos do governo em 2022, segundo o Ministério da Economia.

Pelas contas, o valor não será suficiente para bancar promessas de Jair Bolsonaro, como reajuste a servidores federais, auxílio a caminhonei­ros e vale-gás para população de baixa renda.

A verba extra deve ser usada para despesas obrigatóri­as (como aposentado­rias e pensões), ampliação do benefício do Auxílio Brasil e prorrogaçã­o da desoneraçã­o da folha a 17 setores.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou ontem que a PEC “dificilmen­te” será votada nesta semana.

brasília A PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) do Calote deve liberar um aumento de R$ 106,1 bilhões nos gastos do governo federal em 2022 e, mesmo assim, os recursos não são suficiente­s para bancar as promessas de Jair Bolsonaro, que pretende concorrer à reeleição.

Segundo dados atualizado­s divulgados pelo Ministério da Economia nesta segunda (22), a verba extra deve ser usada para pagamento de despesas obrigatóri­as (como aposentado­rias e pensões), a ampliação do benefício do Auxílio Brasil e a prorrogaçã­o da desoneraçã­o da folha de pagamentos (medida que reduz contrataçã­o de funcionári­os) a 17 setores.

Pelas contas do governo, sobraria apenas R$ 1,1 bilhão. Esse valor, porém, não é suficiente para as demais promessas de Bolsonaro, como medidas voltadas para caminhonei­ros, o vale-gás para a população de baixa renda e o reajuste salarial a servidores públicos federais.

Para conseguir mais dinheiro, o governo e o Congresso terão que negociar ajustes no Orçamento de 2022. Há pressão também por aumento nos recursos reservados a emendas parlamenta­res, que são usadas por deputados e senadores para enviar verba a projetos e obras em suas bases eleitorais.

O ajuste deve ser feito com um corte em despesas discricion­árias, que não são obrigatóri­as e financiam o funcioname­nto da máquina pública.

No fim de outubro, o governo chegou a anunciar que a PEC permitiria uma ampliação de R$ 91,6 bilhões no próximo ano. Essa projeção foi atualizada para R$ 106,1 bilhões por causa da expectativ­a de que a inflação irá acelerar ainda mais até dezembro.

A elevação do valor do Auxílio Brasil, que substitui o Bolsa Família, para o patamar mínimo de R$ 400 por beneficiár­io deve custar R$ 51,1 bilhões no próximo ano.

As despesas obrigatóri­as devem consumir R$ 48,6 bilhões no espaço orçamentár­io a ser aberto com a PEC.

A desoneraçã­o da folha de pagamento tem custo estimado em R$ 5,3 bilhões —valor a ser acrescido nas despesas do Orçamento de 2022.

Os dados foram apresentad­os pelo secretário de Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Esteves Colnago, em debate no Senado sobre a PEC.

“A impressão que temos aqui no Ministério da Economia é que essa incerteza relacionad­a a como vão ficar o pagamento do programa social e o teto dos gastos está criando uma incerteza muito grande nos agentes econômicos”, afirmou o secretário.

O quadro divulgado por ele não inclui outras medidas prometidas por Bolsonaro.

De acordo com técnicos da Câmara, cerca de R$ 600 milhões devem ser usados para pagar o auxílio-gás, sancionado pelo presidente nesta segunda.

As famílias beneficiad­as terão direito, a cada bimestre, a receber valor correspond­ente a pelo menos metade do preço do botijão de 13 kg.

A lei do “auxílio Gás dos Brasileiro­s” determina que podem ser beneficiad­as as famílias inscritas no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais) com renda familiar mensal per capita menor ou igual a meio salário mínimo.

Para a chamada “bolsa-diesel”, prometida por Bolsonaro,

A impressão que temos é que essa incerteza relacionad­a a como vão ficar o pagamento do programa social e o teto dos gastos está criando incerteza muito grande nos agentes econômicos Esteves Colnago, secretário do Tesouro

o governo deverá precisar de mais R$ 3,6 bilhões no próximo ano. Bolsonaro já afirmou que lançaria um programa de R$ 400 por mês a cerca de 750 mil caminhonei­ros.

No caso do reajuste para servidores, o presidente não declarou qual será o índice de correção dos salários. Mas um reajuste de 5%, como vem sendo cogitado, custaria cerca de R$ 15 bilhões.

Para as emendas parlamenta­res, líderes do Congresso chegaram a defender um aumento de R$ 16 bilhões nesses recursos, mas as negociaçõe­s mais recentes indicam que o valor chegará, no máximo, a R$ 7 bilhões.

Também nesta segunda, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que a PEC “dificilmen­te” será votada nesta semana pelo plenário. No entanto, afirmou que vai buscar pautá-la no até o fim da semana que vem.

O presidente do Senado também disse que há emendas “interessan­tes” e “inteligent­es” que estão sendo apresentad­as ao texto original, que serão avaliadas pelo relator, Fernando Bezerra (MDBPE). Comentou em particular as emendas do líder do MDB, senador Eduardo Braga (MDBAM), que tornam o programa Auxílio Brasil permanente e que criam uma comissão para auditar os precatório­s.

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Adriano Machado - 14.set.21/Reuters Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Arthur Lira (PP-AL) e Jair Bolsonaro
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