Folha de S.Paulo

Gritos de Carnaval

- Alvaro Costa e Silva

O café Gaúcho ferve. Numa das esquinas mais movimentad­as do Centro do Rio —entre as ruas São José e Rodrigo Silva, palco de protestos e manifestaç­ões políticas, em frente à nova sede da Assembleia Legislativ­a—, o botequim resistiu ao extermínio que a pandemia impôs ao comércio da região e já trabalha no ritmo de antes: o chope e o cafezinho não param de sair, assim como o bolinho de carne e o cachorroqu­ente de linguiça.

Com os cotovelos encostados no balcão, o trabalhado­r informal tem um único assunto, fora a expectativ­a de receber a grana do auxílio governamen­tal: “Vai ter Carnaval em fevereiro? O Bolsonaro vai deixar?”.

Se depender só de Eduardo Paes, o prefeito-folião, o Rio terá o maior Carnaval de todos os tempos, capaz de superar a farra de 1920, que marcou o fim da gripe espanhola, estendendo-se do Réveillon até os idos de março. Não imagino como será feita a fiscalizaç­ão na hora de exigir o passaporte da vacina para pular na pipoca do cordão da Bola Preta, com mais de um milhão de pessoas nas ruas. Paes não abre mão de faturar e, de lambuja, tirar um sarro de Marcelo Crivella, o prefeito-pastor, que via em cada carioca um Zé Pelintra e fez de tudo para boicotar a festa.

Os sonhos de riqueza não são menores em São Paulo. Terceiriza­da, a folia na cidade funciona como um negócio que prevê a presença de 15 milhões de pessoas gastando e se divertindo em 900 blocos. Já se registrou o primeiro grito de Carnaval: a alegoria de um touro chifrudo e dourado, significan­do a força do povo brasileiro. No quesito cafonice, ganhou 10, nota dez.

Circula no Facebook uma publicação afirmando que Bolsonaro pode vetar o Carnaval se a OMS não tiver decretado o fim da pandemia. Mas até agora o governo não anunciou restrições. Se tentar impedir a festa, o presidente pela primeira vez ficará a favor do distanciam­ento social. Fique em casa e a economia a gente vê depois.

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