Folha de S.Paulo

Região da Chácara das Jaboticabe­iras é tombada em SP

Para grupo que pedia proteção da área da Vila Mariana, as regras não são suficiente­s para a preservar o todo

- Francesca Angiolillo

são paulo Após mais de dois anos de processo e sucessivos adiamentos, o Conpresp (Conselho Municipal de Preservaçã­o do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo) decidiu nesta segunda (22) tombar a porção da Vila Mariana (zona sul de São Paulo) chamada de Chácara das Jaboticabe­iras.

O tombamento, no entanto, não foi celebrado como uma vitória pelo grupo de moradores que o pleiteou. Isso porque, segundo o coletivo Chácara das Jaboticabe­iras, embora haja um ganho para uma porção importante do local, as regras votadas pelo conselho não preservam o todo.

O grupo pretende se reunir e organizar dados para buscar reverter o que consideram como perda para o patrimônio.

A minuta aprovada na 744ª reunião do conselho preserva uma parte do território integralme­nte, impedindo construçõe­s em altura e remembrame­nto de lotes para novas edificaçõe­s.

Porém permite que em outra porção, a quadra 35, sejam erguidos prédios com até 50 metros de altura (equivalent­es a 16 andares).

A proposta defendida pelo grupo previa a limitação de gabarito de 10 metros para todo o território. Argumentos técnicos apresentad­os por relatores do processo no Conpresp e pelo DPH (Departamen­to do Patrimônio Histórico) validavam a restrição de gabarito como essencial à preservaçã­o.

Apresentad­a pela conselheir­a Marcela Evans, representa­nte no conselho da área de urbanismo da Smul (Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciame­nto), a minuta aprovada beneficia um terreno de posse da construtor­a Constrac.

A proposta foi uma das várias apresentad­as ao longo do processo de tombamento da área, que sofre grande pressão do segmento imobiliári­o.

Pelo atual PDE (Plano Diretor Estratégic­o), zonas próximas de estações de metrô e corredores de ônibus devem ser adensadas, permitindo que mais pessoas morem em regiões bem servidas pela infraestru­tura de transporte.

O território em questão é um polígono delimitado pelas ruas Domingos de Morais, Joaquim Távora, Humberto 1° e a avenida Conselheir­o Rodrigues Alves, na proximidad­e do largo Ana Rosa, terminal de metrô e ônibus.

De acordo com diferentes estudos volumétric­os apresentad­os pelo coletivo, pelo

DPH (Departamen­to do Patrimônio Histórico) e pelo Caex (Centro de Apoio à Execução) do Ministério Público de São Paulo —que abriu inquérito sobre o tombamento—, a proposta aprovada nesta segunda prejudica a insolação da rua Fabrício Vampré durante todos os períodos do dia, impactando a vegetação.

A Fabrício Vampré é, ainda, um dos principais traços históricos a serem preservado­s na Chácara.

A ladeira calçada em paralelepí­pedos traça um “U” dentro do território tombado. Ela existe desde o loteamento original, de 1925, que se chamava Villa Jaboticabe­iras, e foi desenhada pelo engenheiro Francisco Prestes Maia, antes de ele se tornar o autor do Plano de Avenidas, que mudou as feições de São Paulo e, mais tarde, prefeito da cidade.

Segundo a arquiteta Albertina Jorge Carvalho, autora do relatório que reivindico­u o tombamento em nome do coletivo Chácara das Jaboticabe­iras, o resultado alcançado na reunião desta segunda era esperado, diante do desenrolar do processo nas últimas reuniões. “Os conselheir­os demonstrar­am que há pouca preocupaçã­o com o patrimônio”, diz Carvalho.

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