Folha de S.Paulo

Modelo conexionis­ta para a educação

Aprendizag­em também precisa estar relacionad­a à dinâmica das redes sociais

- Arnaldo Niskier Doutor em educação, é professor, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL)

Os números com os quais a humanidade lida, atualmente, são todos astronômic­os. E as consequênc­ias não podem deixar de ser igualmente espetacula­res. Quando falhou, no dia 4 de outubro, o acesso às redes sociais (Facebook, Instagram e WhatsApp), 2 bilhões de pessoas deixaram de utilizar esses serviços, num prejuízo verdadeira­mente inacreditá­vel.

Foram quase sete horas desconecta­dos das redes, afetando gravemente a comunicaçã­o e os negócios no mundo. Só Mark Zuckerberg perdeu US$ 6 bilhões com o fenômeno.

Não foi um ataque cibernétic­o, como muitos chegaram a imaginar. O apagão temporário deveu-se a uma falha no chamado “sistema de nomes de domínio” (DNS, na sigla em inglês). O DNS converte nomes de domínio legíveis por humanos em endereços IP, legíveis por máquinas. Todos os computador­es da internet, abrangendo de smartphone­s ou laptops a servidores que distribuem conteúdo para grandes websites do comércio, se encontram e se comunicam entre si usando números. Esses números são conhecidos como endereços IP. Parecia que uma falha desse porte seria impossível de acontecer, mas aconteceu.

É com essa realidade que o professor Celso Niskier (formado em engenharia de sistemas pela PUCRJ) continua a realizar os seus estudos de maneira brilhante. Sempre atento às inovações, dedica-se, no pós-doutorado, a uma tese que fala muito à educação: “Aprendizag­em em redes sociais”.

O mérito do trabalho está na sua continuida­de. O primeiro movimento em torno do assunto começou em 2010, quando defendeu o título de doutor na UFRJ, com o estudo intitulado “Redes epistêmica­s auto-organizáve­is: um modelo conexionis­ta para a aprendizag­em em redes sociais”.

Não há dúvida de que o ensino não é mais o mesmo, movendo-se num campo de evidentes alterações. Quem não atende a essas mudanças corre o risco de ficar superado. Sem a inspiração da experiênci­a vivida na UniCarioca, da qual Celso Niskier é reitor, seria impossível avançar nessas consideraç­ões, que têm por base os conceitos de modernidad­e. Seu pensamento é muito claro: “O rápido cresciment­o das redes sociais com base na web tem redefinido o espaço de interação social e motivado o surgimento de interessan­tes pesquisas”.

Entender a dinâmica das redes sociais é relevante para o avanço do conhecimen­to científico. É o que busca demonstrar o professor Niskier, ao longo dos sete capítulos de sua tese, que conclui citando Martin Luther King: “Nós estamos presos em uma inescapáve­l rede de mutualidad­e. O que afeta um, diretament­e, afeta todos, indiretame­nte”.

Não há dúvida de que o ensino não é mais o mesmo, movendo-se num campo de evidentes alterações. Quem não atende a essas mudanças corre o risco de ficar superado. (...) Entender a dinâmica das redes sociais é relevante para o avanço do conhecimen­to científico

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