Luz cara desafia comércio e afeta até decoração de Natal
Horário ampliado de funcionamento eleva consumo de energia e pressiona custo
rio de janeiro e são paulo Reflexo da crise hídrica, a conta de luz mais cara é um desafio adicional para o varejo no Natal deste ano, segundo analistas e empresários.
É que, além de elevar a inflação para o consumidor, as tarifas mais altas de energia elétrica aumentam os custos de operação para os lojistas, que apostam na data para aquecer as vendas.
Às vésperas do Natal, lojas e shoppings costumam funcionar com horário ampliado, o que exige um consumo maior de eletricidade.
“A pressão da energia traz dois impactos. O primeiro é a redução no poder de compra do consumidor com a energia mais cara e a subida da inflação”, diz o economista Fabio Bentes, da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
“O segundo efeito é de custo. A energia tem peso bastante significativo para determinados segmentos do comércio.”
Segundo Bentes, a luz representa, em média, 7,6% das despesas de operação no varejo.
Em hipermercados e supermercados, a marca sobe para 10,4%, devido ao uso de equipamentos para refrigeração de produtos. Esse percentual fica ainda maior e beira os 20% no caso de mercados e armazéns de pequeno porte, indica o economista.
Ao longo deste ano, a energia ficou mais cara em razão da crise hídrica no Brasil.
A escassez de chuva força o acionamento de usinas térmicas, o que aumenta os custos para geração de eletricidade. O reflexo é a conta mais alta para empresas e consumidores.
No cálculo do IPCA, a energia elétrica residencial acumula alta de 19,13% no ano, até outubro, e disparada de 30,27% em 12 meses.
A luz é uma das principais responsáveis pela escalada do índice oficial de inflação do Brasil. O IPCA chegou a 10,67% em 12 meses, até outubro, de acordo com o IBGE.
Em meio a esse cenário, até a montagem das tradicionais decorações com luzes natalinas, em centros comerciais ou em espaços abertos, tendem a ficar mais custosas.
O Natal Luz, no município de Gramado, na serra gaúcha, começa a sentir o efeito da luz mais cara, segundo a organização do evento, que começou no final de outubro e vai até janeiro.
A programação é composta por uma série de espetáculos natalinos, e pontos da cidade são decorados com luzes e enfeites da data.
“Sem dúvida nenhuma, teremos um impacto bastante expressivo em relação aos outros anos e, principalmente, em relação aos meses em que esses pontos de energia não são utilizados”, diz a arquiteta Tatiana Ferreira, chefe do departamento de infraestrutura e segurança da Gramadotur, autarquia responsável pelo Natal Luz.
“Ainda não conseguimos estabelecer um comparativo, pois não completamos um mês de evento, mas já se percebe o impacto financeiro.”
A pressão de custos não para por aí. É que, segundo Tatiana, o evento utiliza geradores para a realização dos espetáculos. Eles consomem óleo diesel, que também ficou mais caro neste ano.
O combustível subiu com a recuperação do petróleo no mercado internacional e o avanço do dólar, dois fatores levados em consideração pela política de preço da Petrobras. “Não conseguimos fugir do aumento de custos.”
Mesmo assim, ela vê um cenário mais positivo neste ano. É que, em 2020, o evento teve espetáculos cancelados devido à pandemia.
Os shoppings também preparam decorações e apostam no Natal para aquecer os negócios. Apesar da pressão de custos, os estabelecimentos não vão abandonar as luzes e os enfeites da data, relata o diretor institucional da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), Luís Augusto Ildefonso.
Segundo ele, a decoração de Natal é um investimento que funciona para levar mais público até os centros comerciais.
Em tempos de energia mais cara, o gasto com as luzes natalinas até deve ser maior, mas o principal impacto é o do consumo para manter as lojas abertas por mais tempo, relata o dirigente. “O Natal é a melhor época do ano para os shoppings. Então, o investimento em decoração tem retorno quase garantido”, diz.
“É claro que isso pode gerar um acréscimo na conta de luz, mas é menor, bem menos significativo, se comparado ao custo da energia para receber mais pessoas e deixar as lojas abertas por mais tempo”, acrescenta.
Empresas especializadas começaram, antes do Dia da Criança, a enviar decorações natalinas para centros de compras de todo o país. Empreendimentos na América Latina e na África chegaram a fazer encomendas.
A Cipolatti, criada em 1981 por Conceição Cipolatti e com fábrica em Jacareí (SP), tem 95% de suas vendas oriundas das decorações e atrações que fornece para 80 centros comerciais.
A empresa perdeu 60% das vendas em 2020, resultado da pandemia da Covid-19, conta Rita Cipolatti, diretora comercial da marca. Para este ano, Rita diz que carrosséis, playgrounds, rodas-gigantes e montanhas-russas estão recebendo alguma procura, mas que não voltarão com tudo, porque ainda há receio da Covid-19.
Outra atração que ganhou força nos shoppings com a pandemia são os robôs, controlados por um ator que interage com as crianças remotamente, relata a empresária. “Como neste ano ainda é preciso evitar o toque, terá muito pedido de urso, cachorro e esquilo que conversam com as crianças.”