Folha de S.Paulo

Júri popular começa a julgar dois filhos de Flordelis em Niterói

- Anna Virginia Balloussie­r

são paulo Sem a mãe por perto, presa sob acusação de mandar matar o marido, dois filhos da ex-deputada Flordelis dos Santos de Souza começaram a ser julgados nesta terça-feira (23) no Tribunal do Júri de Niterói.

Foi na cidade fluminense que Anderson do Carmo, pastor assim como a parlamenta­r cassada, morreu após ser perfurado por mais de 30 balas, como consta no laudo do Instituto Médico Legal.

Ele tinha 42 anos quando foi assassinad­o, em junho de 2019, na frente da casa onde morava com Flordelis e dezenas de filhos, a maioria adotada pela líder evangélica.

Dois desses filhos passarão agora pelo escrutínio de um júri popular. Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico da ex-deputada, é acusado de disparar os tiros que mataram Anderson. Ele responde pelo crime de homicídio triplament­e qualificad­o contra o padrasto e, também, por porte de arma de fogo de uso restrito.

Lucas Cézar dos Santos de Souza teria ajudado a comprar a arma utilizada no crime, segundo o Ministério Público do Estado do Rio.

Flordelis foi presa em 13 de agosto, dia seguinte à cassação de seu mandato, avalizada por seus pares da Câmara dos Deputados. A parlamenta­r, que em 2019 chegou a concorrer à presidênci­a da bancada evangélica, caiu em desgraça após a suspeita de que tramou o assassinat­o do marido.

Antes dela, que tinha imunidade parlamenta­r, sete filhos e uma neta foram encarcerad­os, também por suposta participaç­ão no homicídio de Anderson.

O pai do pastor, Jorge de Souza, disse a jornalista­s na porta do fórum que estava “arrasado” com tanta “maldade,

ganância”.

“Ela podia ter se separado dele. Ela estaria solta, e ele, vivo”, afirmou, antes do primeiro dia do julgamento começar, segundo o portal G1.

Flordelis conheceu Anderson na favela do Jacarezinh­o, uma das mais violentas da zona norte carioca.

Ele, 16 anos mais moço, ainda era um adolescent­e, evangélico como ela. O pastor era tido como arquiteto da carreira da mulher, tanto a política (foi a candidata à Câmara mais votada pelos conterrâne­os em 2018) quanto a musical (era uma cantora bem-sucedida no gospel).

Em abril, Flordelis disse à Folha que estava confiante em sua permanênci­a no Congresso. “Não acredito nesta cassação, sinceramen­te não acredito. Acredito muito que Deus vai trabalhar em Brasília.”

Em agosto, colegas aprovaram sua expulsão da Casa. A última publicação em seu perfil no Instagram, administra­do pela equipe da ex-deputada, é de 10 de novembro. Trata-se de uma foto da pastora acompanhad­a da legenda: “Ainda é mistério o que Deus irá fazer na sua história”.

Detida numa penitenciá­ria do Rio de Janeiro, Flordelis ainda não tem data para ser julgada. Outras nove pessoas ligadas à família também sentarão no banco do réu, por envolvimen­to com o homicídio do pastor Anderson.

Ela sempre negou ser mandante da execução do marido. Quando conversou com o jornal, sete meses atrás, no quarto onde ela e Anderson dormiam sob a guarda de um quadro do artista Romero Britto, declarou-se inocente.

A ex-deputada disse, à época, ser vítima de uma fábula criada pelos promotores do caso e os acusou de trabalhar pela “desconstru­ção da imagem de Flordelis como ser humano, como pastora”.

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