Folha de S.Paulo

Márion editou Ilustrada e lançou 1ª rede interna de computador­es da Folha

- Ivan Finotti

são paulo Formada em jornalismo, mas envolvida com música, literatura, editoração, artes visuais e teatro, Márion Strecker, 23, se inscreveu em um concurso de redatora para a Ilustrada em julho de 1984, meses após Otavio Frias Filho (1957-2018) assumir a Direção de Redação da Folha.

Entrevista­dapeloedit­orMarcos Augusto Gonçalves, ouviu um “Está ótimo, mas como a chefia é nova, eles querem conhecer todo mundo. Vou te apresentar para o secretário deRedação,oCaioTúlio­Costa.”

Deste, também ouviu uma aprovação e “como o chefe é novo, quero te levar para conhecer o diretor de Redação.”

Assim, Márion entrou na sala e colocou seu histórico nas mãos de Otavio. Ao ler atividades como balé, flauta e história da arte, o jornalista se surpreende­u. “Nossa, você tem um currículo renascenti­sta”, disse e a contratou.

Márion começou assim sua carreira na Folha, jornal que só deixou 12 anos depois, quando assumiu cargo de direção no UOL, empresa que tem participaç­ão acionária minoritári­a e indireta do Grupo Folha, que edita a Folha.

Nos anos 1980, logo se tornou editora-assistente da Ilustrada, foi coordenado­ra de reportagen­s especiais, ajudou a elaborar a segunda edição do Manual da Redação (lançada em 1987) e virou editora de suplemento­s.

“Minha missão nos suplemento­s era levar o Projeto Folha [pilares para um jornalismo crítico, moderno, apartidári­o e pluralista] para lá”, conta ela, que passou a dirigir uma equipe de cerca de 25 pessoas em cadernos como Folhinha, Folhetim, Classifica­dos, Informátic­a, Turismo, Imóveis e Veículos. “Naquela época, alguns desses cadernos ainda publicavam releases enviados pelas assessoria­s de imprensa”, lembra.

Em seguida, nesse período de cresciment­o da Redação e do número de páginas impressas, Márion voltou para a Ilustrada, desta vez como editora. “Tive total liberdade para fazer o que bem entendesse e me propus a ampliar os assuntos do caderno”. Abriu as páginas para psicanalis­tas, criou uma seção semanal de moda, passou a cobrir arquitetur­a e design e a encarar a TV como assunto de notícias.

Cadernos especiais de grandes eventos, como os da Bienal de São Paulo ou da Mostra de Cinema, tornaram-se comuns. Nomes como Josimar Melo, Zeca Camargo, Mario Cesar Carvalho, Mauricio Stycer, Erika Palomino e José Simão começaram a se destacar.

“Lembro de uma edição da Ilustrada com 36 páginas, mais ou menos o mesmo que todo o resto do jornal naquele dia”, lembra.

“Um dia, resolvi que não queria mais”, diz. “Havia muita pressão interna, todos tinham opinião sobre tudo. Como o Otavio me apoiava, sabia lidar bem com ela. Só que

a pressão externa era mais difícil. Me ligavam em casa até no sábado à noite. Não havia internet. Todo mundo queria aparecer na Ilustrada.”

Após uma temporada como repórter especial e como redatora da Primeira Página, Márion recebeu outra missão, levar o Projeto Folha para o Banco de Dados (BD).

No início dos anos 1990, entre as diversas funções do BD, estava a de fornecer subsídios para os jornalista­s escreverem seus textos. Num mundo não informatiz­ado, isso significav­a armazenar e alimentar arquivos de papel com recortes de jornais sobre quaisquer assuntos, inclusive sobre coisas que haviam sido publicadas há poucos dias.

Sob a direção de Márion, o BD criou a primeira rede interna de computador­es do jornal, que capturava matérias escritas nos computador­es e as disponibil­izava para consultas em qualquer outro terminal. Em 1994, novo avanço: foi instalado um computador com acesso pelo telefone para que os jornalista­s que trabalhass­em em outras cidades ou países pudessem pesquisar o arquivo do jornal.

Foi um momento de diversas mudanças tecnológic­as. As fotografia­s, agora digitais, também passaram a ser armazenada­s no sistema da Folha. A Agência Folha, também sob as rédeas dela, deixava o telex para trás. E o formato da internet, com seus sites, já começava a acontecer nos EUA, com sua própria revolução: a internet atendia a todos, não apenas a quem possuía softwares específico­s.

A primeira homepage do Universo Online entrou no ar em 28 de abril de 1996, inaugurand­o a nova empresa, da qual Márion seria a diretora de conteúdo por 15 anos, até 2011. Lá, com Caio Túlio como diretor geral, liderou equipes e ajudou a colocar no ar um conteúdo enorme, que incluiu rádios, TV, bate-papos e assuntos de milhares de sites parceiros, para todo o tipo de público. “Se a Folha era um jornal, o UOL era uma banca de revistas”, compara a jornalista.

Em 2010, Márion passou a assinar uma coluna de nova economia e comportame­nto no caderno Mercado, que manteve até 2015. E quando esse período terminou, ela voltou à vida profission­al no mundo artístico, passando por um canal cultural de TV, uma revista de artes visuais e, desde 2020, coordenand­o publicaçõe­s do Museu de Arte Moderna do Rio. Era o que se esperava de alguém com um currículo tão renascenti­sta.

 ?? Rubens Mano - 9.jun.1988/Folhapress ?? Márion Strecker na Redação da Folha, em 1988 quando era editora da Ilustrada
Rubens Mano - 9.jun.1988/Folhapress Márion Strecker na Redação da Folha, em 1988 quando era editora da Ilustrada

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