Longa é pura diversão, apesar dos sotaques ridículos do elenco
CINEMA Casa Gucci ★★★★★ Produção: EUA, Canadá, 2021. Direção: Ridley Scott. Com Lady Gaga, Adam Driver, Jared Leto, Jeremy Irons, Al Pacino e Salma Hayek. Estreia nesta quinta (25)
É meio ridículo quando um filme de Hollywood que se passa em um país de língua não inglesa opta por atores americanos ou ingleses e, em vez de o elenco aprender a língua do lugar ou falar inglês normalmente, adota uma terceira via, o inglês com sotaque.
É isso o que acontece em “Casa Gucci”, que tem os americanos Lady Gaga, Adam Driver, Al Pacino, Jared Leto, o britânico Jeremy Irons e a mexicana Salma Hayek no elenco.
Mas, uma vez que a estranheza do sotaque dos atores deixa de ser novidade, aquele jeito de falar meio surreal acaba contribuindo para a maneira algo burlesca que parece ter sido a opção do diretor Ridley Scott, de “Perdido em Marte”, “Gladiador” e “Thelma e Louise”, para contar essa história.
A saga da família Gucci é um dramalhão e a maioria das pessoas sabe como a história vai acabar, mas é impossível não se divertir assistindo. A direção de arte é marcante nesse filme. Os cenários são lindos, os figurinos, impecáveis, a trilha sonora, adorável.
Os diálogos é que deixam a desejar. As frases são algo simplórias, não têm sutileza alguma nas conversas, os personagens dizem exatamente o que qualquer pessoa diria se tivesse aquela intenção.
Outra coisa complicada de usar elenco majoritariamente americano é o tabu de mostrar os seios. Em “Casa Gucci” só há uma cena de sexo, que existe para provar que o amor do casal central é de verdade, pelo menos no começo.
E lá está Lady Gaga, vestida.
O longa coleciona elogios desde que fez uma première inaugural em Londres, duas semanas atrás. O filme, aliás, vem provocando tremeliques entre os devotos da cantora Lady Gaga há muito mais tempo.
Primeiro, quando ela foi escolhida para o papel, em 2019. Depois, quando surgiram as primeiras imagens dela de cabelo escuro e esculpido com laquê, no papel de Patrizia Reggiani, ou Patricia Gucci, como a personagem real prefere desde que se casou com o herdeiro da marca, Maurizio.
O filme começa antes do casamento, quando Patrizia trabalhavacomocontadoranafirma do padrasto. Ela conhece Maurizio, papel de Adam Driver, estudante tímido, herdeiro da grife, cuidada na época pelo pai, Rodolfo, vivido por Jeremy Irons, um tipo arrogante e solitário, e seu tio, Aldo, papel de Al Pacino, gregário e fanfarrão.
Maurizio não se interessa pelos negócios, mas Patrizia, sim. E como. Ela consegue embutir sua ambição no marido.
Por iniciativa dela, o casal se aproxima de Aldo, que bota Maurizio em um cargo executivo. Aldo tem uma grande tristeza na vida. Seu filho, Paolo, vivido por um irreconhecível Jared Leto, é um bufão que crê ter um talento não reconhecido como estilista.
Além de modificado por próteses e uma careca postiça, Jared Leto leva às últimas consequências o modo italianado de falar inglês. Ele meio canta meio recita suas falas.
A aproximação com o primo e a produção da coleção criada por ele fazem parte de um plano de Patrizia e Maurizio de tomar o controle da empresa. Mas, quando perde o controle sobre seu marido, que se transforma em um milionário cheio de idiossincrasias, Patrizia perde, também, o que parecia ser o sentido de sua vida. Ou algo assim.