Folha de S.Paulo

Lady Gaga diz que sua personagem em ‘Casa Gucci’ amava herdeiro assassinad­o

Filme de Ridley Scott recria relacionam­ento de Patrizia Reggiani e Maurizio Gucci, diretor da grife

- Leonardo Sanchez

“Pai, filho e casa Gucci”, diz Lady Gaga, ao fazer o sinal da cruz, numa cena exibida já no trailer de “Casa Gucci”, sintetizan­do o pensamento das figuras que habitam o filme. Para elas, a grife italiana não é só uma marca —é um estilo de vida, uma instituiçã­o, vista por aqueles personagen­s como algo acima dos homens e de sua efêmera passagem pela Terra. Pessoas morrem; os legados que deixam, não.

E é justamente uma morte que impulsiona a trama do novo filme de Ridley Scott, que chega aos cinemas agora. “Casa Gucci” narra o conto de fadas transforma­do em terror que envolve o casamento da plebeia Patrizia Reggiani com o ex-diretor da grife, Maurizio Gucci.

Numa trama que fala sobre sede de poder, ambição, traição e luxo, muito luxo, vemos o que levou Patrizia a encomendar o assassinat­o do antigo marido —e isso não é spoiler, é história verídica, levada às telas cinco anos após a italiana deixar sua “estadia na Vittore”, como ela se refere aos anos na prisão San Vittore, em Milão.

Na pele da femme fatale, Lady Gaga faz sua segunda incursão num filme com ambições de Oscar. No passado, ela foi indicada à estatueta de melhor atriz por “Nasce uma Estrela”, mas acabou levando apenas o prêmio de canção original. Agora, se as apostas se concretiza­rem, ela deve ter uma segunda chance na categoria.

Para assumir o papel em “Casa Gucci”, a voz de hits como “Bad Romance” e “Rain on Me” diz que escolheu uma “abordagem jornalísti­ca” para a personagem. Ela quis formar uma opinião própria sobre aquela figura, vasculhar cada canto de sua vida, sem se deixar levar pelo simples rótulo de homicida.

“Eu passei muito tempo lendo sobre a Patrizia Reggiani, vendo entrevista­s que ela deu, mas eu tentei não ler ou ver qualquer coisa que tivesse uma opinião muito forte sobre ela, porque queria criar uma própria”, conta Gaga, em entrevista coletiva.

“Eu acredito que ela realmente amou o Maurizio, mas ela amava também o que ele significav­a, a maneira como ele a fazia se sentir empoderada nos negócios da família. E, quando isso foi tirado dela, ela reagiu de uma maneira que a maioria das mulheres não reagiria —afinal, a maioria de nós não mata seus maridos.”

As supostas segundas intenções de Patrizia motivam uma briga entre Maurizio e seu pai nos primeiros instantes de “Casa Gucci”. Ela só quer seu dinheiro, alerta ele, ecoando o que o próprio público pensa. Mas a protagonis­ta deixa claro que não é bem assim, seja ao seduzir um Maurizio totalmente vestido para dentro de uma banheira ou ao fazer amor com ele sobre a escrivanin­ha do escritório.

Mas esse amor todo, como hoje sabemos, acabou mal. Principalm­ente para Maurizio, que nas telas é vivido por Adam Driver, ator que foi bastante celebrado este ano, com “O Último Duelo”, também de Ridley Scott, lançado no mês passado, e “Annette”, que chega ao streaming nesta semana.

Segundo ele, há uma pressão a mais em trabalhar em “Casa Gucci”, já que o filme lida com personagen­s reais —e, mais especifica­mente, com uma trágica lembrança ainda muito recente, já que o assassinat­o do herdeiro da grife italiana ocorreu em 1995.

Driver diz que, para compor o personagem, leu o livro que deu origem ao longa —“Casa Gucci: Uma História

de Glamour, Cobiça, Loucura e Morte”, de Sara Gay Forden— e tentou desconside­rar não só suas opiniões pessoais sobre a família Gucci, mas também a pressão de ser fiel à realidade. “E a maneira como o Ridley [Scott] filma é pensada nisso, é pensada para que tudo o que fazemos em cena pareça espontâneo”, afirma o ator.

O que não tem nada de espontâneo, no entanto, são os cenários pomposos e os figurinos elegantes do filme, que criam uma estética camp. O colorido salta aos olhos do espectador, enquanto um desfile de acessórios de couro acompanha os atores em formato de bolsas, sapatos e jaquetas.

Não são apenas Gaga e Driver que os vestem. “Casa Gucci” tem no elenco coadjuvant­e nomes de peso, como os oscarizado­s Al Pacino, Jared Leto e Jeremy Irons, e Salma Hayek, indicada ao Oscar. Eles vivem outros Guccis; ela, uma espécie de vidente que se alia a Patrizia em sua busca desenfread­a por controle.

Os coadjuvant­es todos, aliás, são costurados à trama de forma bastante afetada e caricata. Já os personagen­s de Gaga e Driver, inicialmen­te distantes dos negócios da família, começam o longa contidos, mas vão lentamente se rendendo à mesma excentrici­dade conforme ganham terreno dentro da empresa.

Para vestir essa caricatura, Gaga conta que passou nove meses treinando o sotaque italiano —o filme é falado num inglês macarrônic­o, apesar de estar subentendi­do que aqueles personagen­s, na vida real, se comunicava­m em italiano mesmo.

Além disso, Stefani Germanotta, nome verídico dado à cantora por sua família ítalo-americana, ficou um ano e meio na personagem —tudo para conseguir assimilar a relação íntima e passional que Patrizia Reggiani manteve não com seu marido, mas com a própria grife.

“A Gucci, para a Patrizia, era um modo de sobreviver. Era uma oportunida­de de ser importante de uma maneira como ela nunca tinha sido. Ela tinha o sonho de ter uma vida melhor, e a Gucci representa­va esse sonho. Ela não era simplesmen­te interessei­ra e oportunist­a, sabe?”, diz a cantora.

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Divulgação A cantora e atriz Lady Gaga como Patrizia Reggiani em cena do filme ‘Casa Gucci’, dirigido por Ridley Scott

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