Folha de S.Paulo

A ladainha antissiste­ma sumiu

- Bruno Boghossian

Jair Bolsonaro tentou costurar um primeiro acordo com o centrão ainda em 2018. Candidato pelo nanico PSL, o capitão buscou uma aliança com Valdemar Costa Neto para ter acesso ao tempo de TV e ao fundo de financiame­nto eleitoral do PR (mais tarde rebatizado de PL).

A negociação não deu certo. Bolsonaro fingiu que nunca havia estendido a mão à sigla e se lançou na campanha como um candidato que combatia “o sistema”. Depois de um mandato marcado pelo casamento de conveniênc­ia com os velhos partidos e, agora, filiado a uma dessas legendas, o presidente terá dificuldad­e para repetir a ladainha em 2022.

No governo, Bolsonaro tentou preservar a imagem de perseguido pelas elites políticas e pela cúpula das instituiçõ­es. Trata-se de um conhecido método de líderes populistas. O objetivo dessa encenação é atropelar as regras do jogo, ultrapassa­r os limites impostos ao poder do presidente e arregiment­ar apoio público a essas investidas.

A estratégia é usada para mascarar a incompetên­cia, o medo de perder o cargo ou os impulsos autoritári­os de um governante. No caso de Bolsonaro, os três casos se aplicam.

O presidente já posou de vítima quando não conseguiu aprovar no Congresso os itens de seu desconjunt­ado programa de governo, inventou a teoria de uma conspiraçã­o política para roubar a próxima eleição e tentou jogar seus eleitores contra governante­s que adotaram medidas de restrição na pandemia.

A doutrina antissiste­ma é uma marca do bolsonaris­mo e costuma se basear em premissas falsas. Na semana passada, o ex-ministro Abraham Weintraub disse que a cúpula das Forças Armadas tem ideias próximas ao socialismo. Paulo Guedes, aquele mesmo, reclamou dos bancos e disse que eles “ainda não aceitaram a eleição de Bolsonaro”.

Embora tente se manter nesse papel, o presidente assume seu verdadeiro personagem ao se filiar ao PL para as eleições. Bolsonaro nunca hesitou em se embrenhar no tal sistema para extrair benefícios políticos.

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