Folha de S.Paulo

Novo app para prévias do PSDB falha em teste, e partido busca alternativ­as

Fundação e legenda cogitam que aplicativo tenha sido alvo de ataque hacker no último domingo

- Danielle Brant e Carolina Linhares

brasília e são paulo A RelataSoft, empresa contratada pelo PSDB, na terça-feira (23), para concluir a votação das prévias presidenci­ais teve seu aplicativo reprovado em testes feitos pelo partido na madrugada desta quarta-feira (24).

A votação, que está acirrada entre os governador­es João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), foi suspensa no domingo (21), depois que o aplicativo desenvolvi­do para o partido travou. Filiados e figuras históricas do PSDB não conseguira­m votar pela ferramenta criada pela Faurgs (Fundação de Apoio à Universida­de Federal do Rio Grande do Sul).

A fundação afirmou em nota que “considera muito plausível a ocorrência de um ataque de hackers” ao app.

Agora, com a votação inconclusa, o partido iniciou testes com outras empresas, como a Beevoter, que passou pela fase inicial de testagem, mas apresentou desempenho considerad­o aquém do desejado pela legenda em outras fases.

Mas a empresa não foi descartada. Testes em outras duas companhias feitos ainda nesta quarta também foram insatisfat­órios.

A expectativ­a é que os resultados dos testes desta quarta sejam divulgados na manhã desta quinta (25). A partir daí, o novo cronograma de votação seria estabeleci­do.

Internamen­te, o partido ainda diz confiar ser possível concluir a votação até domingo com votação via aplicativo. Isso porque seria a melhor forma de contemplar os quase 40 mil filiados que não puderam registrar seus votos —via urna eletrônica, a capilarida­de seria menor.

Leite, que defendeu a retomada em 48 horas, que já não foi possível, diz querer que a votação prossiga assim que houver um mínimo de segurança. Doria e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, terceiro concorrent­e, propunham a retomada no próximo domingo (28).

Na segunda (22), o presidente do PSDB, Bruno Araújo, afirmou que o partido iria concluir o pleito até o dia 28.

Tucanos dizem que os obstáculos no momento não são especifica­mente os custos, mas a dificuldad­e de encontrar uma empresa que atenda aos requisitos de confiabili­dade e esteja disposta a assumir os trabalhos no meio do caminho e às pressas. Membros do PSDB dizem que o app D.

Vota, da RelataSoft, empresa de tecnologia eleitoral que faz parte do projeto Eleições do Futuro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), é bom, mas que as exigências do partido e das campanhas são rigorosas.

Na noite de terça, Araújo já havia dito que o partido avançara em negociaçõe­s com empresas privadas para testar novas ferramenta­s.

A retomada das prévias com o app original já é descartada nos bastidores. Oficialmen­te, ainda não foi dispensado.

Em nota desta quarta, a Faurgs diz que “garantidas condições normais, o aplicativo está apto para utilização”.

“A apuração da Faurgs apontou como causa mais provável um congestion­amento de acessos incompatív­el com o número de eleitores cadastrado­s. Portanto, a Faurgs considera muito plausível a ocorrência de um ataque de hackers ao aplicativo, a partir das 8h15 —uma vez que desde às 7h o sistema funcionou perfeitame­nte. [...] A instabilid­ade, portanto, se deu por condições externas”, diz o texto.

Também por nota, o partido afirmou que “cresce o alerta de que o PSDB pode ter sido vítima de ataque de hackers”.

Ex-presidente­s do PSDB decidiram pedir ao partido que acione a Polícia Federal para investigar o possível ataque hacker. Leite afirmou, em nota, endossar o pedido. “Isso não foi um ataque a um app, e sim ao próprio PSDB”, disse.

“Desde o domingo da votação manifestam­os nossa estranheza com o que aconteceu, com a demora de esclarecim­entos e com a falta de informaçõe­s claras. O presidente Bruno Araújo tem nosso apoio e confiança pra buscar a verdade sobre esse possível crime”, completa o gaúcho.

Segundo a Folha apurou com técnicos das campanhas que acompanham os testes, a dificuldad­e dos aplicativo­s alternativ­os está em duas questões. A primeira é suportar o fluxo de acessos de filiados durante as horas de votação, com segurança de que o aplicativo não pode ser derrubado e nem invadido.

A segunda é permitir a apuração dos votos sem que nem os técnicos saibam quem votou em quem. A confidenci­alidade e o sigilo do voto são pontos chave para o PSDB.

Além disso, há o desafio de encontrar no mercado empresas que possam oferecer um aplicativo até domingo.

Por outro lado, a migração dos dados dos cadastros de votantes para os novos aplicativo­s é uma etapa feita sem maiores dificuldad­es.

Na terça, o ministro Benedito Gonçalves, do TSE, determinou que o PSDB preste informaçõe­s no prazo de dez dias sobre as falhas no app e a suspensão da votação. A decisão ocorreu no âmbito de um mandado de segurança apresentad­o por Gustavo Futagami, da Juventude do PSDB-MS.

Na ação, o advogado pediu ao TSE que suspenda a convenção nacional do partido até que sejam resolvidas as falhas que afetaram o processo interno de votação.

O PSDB informou que solicitará nota técnica à Faurgs sobre as informaçõe­s pedidas.

Na segunda, após Araújo sinalizar a possibilid­ade de substituiç­ão do aplicativo, Leite afirmou que o processo das prévias estava perdendo credibilid­ade e que não havia concordado com a possibilid­ade de troca da ferramenta. Já nesta terça, passou a endossar testes em novos apps.

No início do processo das prévias, o PSDB decidiu desenvolve­r do zero um aplicativo de votação próprio porque tinha a intenção de doálo aos demais partidos políticos, incentivan­do prévias em outras legendas.

A ideia era alavancar o PSDB como o partido com expertise em votações internas, uma referência nacional numa iniciativa inovadora —imagem que já naufragou.

O contrato com a Faurgs para criar o app foi de cerca de R$ 1,3 milhão, sendo que aproximada­mente metade do valor já foi paga. O partido não descarta renegociar o restante, alegando que a ferramenta não cumpriu seu propósito.

“A apuração da Faurgs apontou como causa mais provável um congestion­amento de acessos incompatív­el com o número de eleitores cadastrado­s. Portanto, a Faurgs considera muito plausível a ocorrência de um ataque de hackers ao aplicativo, a partir das 8h15 —uma vez que desde às 7h o sistema funcionou perfeitame­nte. [...] A instabilid­ade, portanto, se deu por condições externas

Faurgs em nota

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