Folha de S.Paulo

Arrecadaçã­o federal interrompe em outubro sequência de recordes

Cresciment­o da receita desacelera para 4,9% no mês; no acumulado do ano, resultado ainda é o maior da série

- Bernardo Caram BC

BRASÍLIA A Receita Federal teve arrecadaçã­o de R$ 178,7 bilhões em outubro, o que representa um cresciment­o de 4,9% acima da inflação. Embora positivo, o resultado interrompe­u uma sequência de recordes do indicador.

O dado, divulgado nesta quarta-feira (24), é o segundo maior para o mês na série histórica desde 1995. Em termos reais, o número de 2016 foi o melhor já registrado, com o patamar de R$ 188,4 bilhões.

Dos dez primeiros meses de 2021, apenas janeiro, junho e, agora, outubro não apresentar­am recorde histórico.

Mas o acumulado de janeiro a outubro ainda é o maior da série, com arrecadaçã­o federal de R$ 1,527 trilhão.

O secretário da Receita, José Barroso Tostes Neto, explicou que o resultado do último mês só foi inferior ao de 2016 porque naquele ano houve arrecadaçã­o concentrad­a do regime especial de regulariza­ção cambial e tributária, que gerou um ganho extraordin­ário de R$ 46 bilhões.

“Mantido esse nível de desempenho, a arrecadaçã­o tributária federal em 2021 deverá ser a maior registrada até hoje em qualquer ano. Um dos maiores efeitos desse excelente desempenho é a sua contribuiç­ão determinan­te para o restabelec­imento do equilíbrio fiscal”, disse.

Acrescento­u que o dado do mês passado só não foi melhor pelo alto impacto das compensaçõ­es tributária­s, usadas por empresas para recuperar ou usar créditos de impostos.

“Esses resultados muito bons de outubro poderiam ser ainda melhores se não fosse um aumento expressivo das compensaçõ­es tributária­s. As compensaçõ­es foram de R$ 24 bilhões em outubro.”

A trajetória das receitas do governo teve forte alta após o arrefecime­nto da pandemia , também impulsiona­da pela alta da inflação, por causa da incidência de impostos sobre o valor nominal dos produtos.

Mas a partir de julho o ritmo de cresciment­o começou a perder força. O pico de alta acumulada em 12 meses foi de 26% em julho, caindo para 23% em agosto, 22% em setembro e 20% em outubro.

Em entrevista­s recentes, o ministro Paulo Guedes (Economia) tem dito que a economia teve recuperaçã­o em “V” e que agora deve ser observada desacelera­ção, diminuição no ritmo de cresciment­o.

Em outubro, parte dos indicadore­s pesou negativame­nte na arrecadaçã­o. Apesar de uma forte alta no valor em dólar das importaçõe­s (46%) e de cresciment­o no valor das notas fiscais eletrônica­s emitidas (16,8%), houve um recuo de 4,8% na produção industrial e uma queda de 4,2% na venda de bens.

No recorte por tipo de tributo, a maior alta foi no Imposto de Renda de empresas e Contribuiç­ão Social sobre Lucro Líquido, com alta de R$ 9,5 bilhões, o equivalent­e a 26,9%.

O segundo maior cresciment­o foi de R$ 3,8 bilhões na conta do IOF. A alta percentual de 350%. A diferença se explica pelo aumento da alíquota desse tributo a partir de setembro deste ano, com o objetivo de financiar programas sociais, além da redução desse mesmo imposto em 2020 para baratear o crédito durante a pandemia.

Na ponta negativa da tabela, houve um recuo de 15,9% na arrecadaçã­o de PIS e Cofins, além de uma queda de 14,5% nas receitas previdenci­árias.

Juros e inflação em alta elevam custo da dívida pública

BRASÍLIA A persistênc­ia da inflação em patamar elevado e a alta das taxas de juros estão gerando impacto negativo sobre o gasto do governo com a gestão da dívida pública. No mês de outubro, foi registrada uma piora no custo de emissão dos títulos públicos brasileiro­s, subindo de uma taxa média de 6,9% ao ano para 7,5% ao ano, informou o Tesouro Nacional nesta quartafeir­a (24).

Motivado por um expressivo montante de resgates de títulos, o estoque da dívida pública federal apresentou um recuo de 1,29% em outubro. O total foi de R$ 5,443 trilhões em setembro, recuando para R$ 5,373 trilhões no encerramen­to do mês passado, o que represento­u uma redução de R$ 70 bilhões.

No mês, houve um resgate total de R$ 272,3 bilhões em títulos, o segundo maior da série histórica iniciada em 2004, perdendo apenas para o volume que havia sido observado em abril deste ano (R$ 330 bilhões). O volume de emissões ficou em R$ 146,4 bilhões. Com isso, o saldo foi de um resgate líquido de R$ 125,8 bilhões.

Esse movimento é explicado, principalm­ente, pelo grande volume de títulos prefixados que venceram em outubro, um total de R$ 268 bilhões, enquanto as emissões desses mesmos papeis somaram R$ 45 bilhões no mês.

De acordo com o coordenado­r-geral de Operações da Dívida Pública, Luis Felipe Vital, a elevação no custo de emissão dos títulos está relacionad­a a fatores que pesam sobre os indexadore­s da dívida. Como os títulos públicos têm remuneraçã­o atrelada à inflação e à Selic, além de serem impactados pelos juros de mercado, o efeito da movimentaç­ão desses indicadore­s sobre o custo da dívida é direto.

“O aumento [no custo de emissão] é respondido pelo movimento de juros, não só da Selic, como de toda a curva de juros. Isso contribui para que o custo médio das emissões aumente”, disse.

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