Folha de S.Paulo

Empresas de maquininha­s sofrem com inflação e concorrênc­ia

- Lucas Bombana Com agências internacio­nais

SÃO PAULO O ambiente de concorrênc­ia acirrada e de aumento das despesas para expandir a operação tem colocado forte pressão sobre as chamadas empresas de maquininha­s —que tecnicamen­te formam o setor de adquirênci­a e atuam como meio de pagamento de estabeleci­mentos comerciais.

O setor tem sofrido em diferentes países especialme­nte com a alta da inflação, que força os bancos centrais a sinalizar o início do aperto nas condições fiscais e monetárias. O ambiente de elevada concorrênc­ia proporcion­ada pelas big tech americanas e grandes redes de varejo também vem punindo empresas de tecnologia que ainda estão em processo de consolidaç­ão no mercado.

No Brasil, pesam ainda o aumento dos juros já em curso e seu consequent­e impacto nas despesas de empresas de comércio e serviços, que utilizam o sistema de forma massiva, bem como o avanço de outras alternativ­as de pagamentos, como o Pix, e a entrada de novas companhias nesse setor, como Magazine Luiza, que lançou a MagaluPay.

As ações da indiana do setor de tecnologia financeira Paymt, por exemplo, caíram cerca de 30% desde a abertura de capital na semana passada na Bolsa da Índia, com investidor­es cautelosos ante a concorrênc­ia elevada e os possíveis impactos que os juros mais altos trarão para os lucros corporativ­os no segmento.

A americana Fiserv, parceira na maquininha da Caixa no Brasil, registra retração de 11,7% no ano na Nasdaq.

As ações de Stone, PagSeguro, Cielo e Getnet que atuam no Brasil também estão sob intensa volatilida­de, na esteira da divulgação de balanços do terceiro trimestre que trouxeram resultados abaixo do esperado e levantaram dúvidas sobre o desempenho futuro dos negócios.

No ano, as ações da Stone já caíram 79,6% na Nasdaq, onde os papéis estão listados. Já as ações de PagSeguro PagBank, pertencent­e ao Grupo UOL —que tem participaç­ão minoritári­a e indireta do Grupo Folha, que edita a Folha—, acumulam retração de 51,2% na Nyse (Bolsa de Nova York).

Listadas na B3, no Brasil, Getnet tem queda de 65% no ano, e a Cielo, de 45,7%.

No acumulado de janeiro até a terça-feira (23), os papéis desse grupo, juntos, já perderam cerca de R$ 160,9 bilhões em valor de mercado, segundo dados da Bloomberg. A maior queda é da Stone, de aproximada­mente R$ 104 bilhões, seguida pela PagSeguro, com queda de R$ 47 bilhões em valor de mercado no período.

O aumento da regulament­ação do governo chinês sobre empresas de tecnologia do país também tem contribuíd­o para turvar a avaliação de especialis­tas quando se tratam de análises desse segmento em nível internacio­nal.

Na semana passada, a Stone reportou lucro líquido ajustado de R$ 132,7 milhões no terceiro trimestre, queda de 53,9% sobre o resultado de um ano antes.

Analistas esperavam, em média, lucro líquido de R$ 193 milhões. As ações da empresa caíram 34,6% no pregão seguinte à divulgação dos resultados como resposta aos números reportados.

“Os resultados [da Stone] criam incerteza adicional quanto ao momento da recuperaçã­o do negócio”, escreveram os analistas do banco Goldman Sachs.

A competição crescente que pressiona as margens do negócio, as despesas acima das expectativ­as para expandir a operação e a dificuldad­e para ganhar participaç­ão de mercado estão entre os riscos citados pelos analistas do banco americano para a evolução das operações da Stone nos próximos meses.

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