Empresas de maquininhas sofrem com inflação e concorrência
SÃO PAULO O ambiente de concorrência acirrada e de aumento das despesas para expandir a operação tem colocado forte pressão sobre as chamadas empresas de maquininhas —que tecnicamente formam o setor de adquirência e atuam como meio de pagamento de estabelecimentos comerciais.
O setor tem sofrido em diferentes países especialmente com a alta da inflação, que força os bancos centrais a sinalizar o início do aperto nas condições fiscais e monetárias. O ambiente de elevada concorrência proporcionada pelas big tech americanas e grandes redes de varejo também vem punindo empresas de tecnologia que ainda estão em processo de consolidação no mercado.
No Brasil, pesam ainda o aumento dos juros já em curso e seu consequente impacto nas despesas de empresas de comércio e serviços, que utilizam o sistema de forma massiva, bem como o avanço de outras alternativas de pagamentos, como o Pix, e a entrada de novas companhias nesse setor, como Magazine Luiza, que lançou a MagaluPay.
As ações da indiana do setor de tecnologia financeira Paymt, por exemplo, caíram cerca de 30% desde a abertura de capital na semana passada na Bolsa da Índia, com investidores cautelosos ante a concorrência elevada e os possíveis impactos que os juros mais altos trarão para os lucros corporativos no segmento.
A americana Fiserv, parceira na maquininha da Caixa no Brasil, registra retração de 11,7% no ano na Nasdaq.
As ações de Stone, PagSeguro, Cielo e Getnet que atuam no Brasil também estão sob intensa volatilidade, na esteira da divulgação de balanços do terceiro trimestre que trouxeram resultados abaixo do esperado e levantaram dúvidas sobre o desempenho futuro dos negócios.
No ano, as ações da Stone já caíram 79,6% na Nasdaq, onde os papéis estão listados. Já as ações de PagSeguro PagBank, pertencente ao Grupo UOL —que tem participação minoritária e indireta do Grupo Folha, que edita a Folha—, acumulam retração de 51,2% na Nyse (Bolsa de Nova York).
Listadas na B3, no Brasil, Getnet tem queda de 65% no ano, e a Cielo, de 45,7%.
No acumulado de janeiro até a terça-feira (23), os papéis desse grupo, juntos, já perderam cerca de R$ 160,9 bilhões em valor de mercado, segundo dados da Bloomberg. A maior queda é da Stone, de aproximadamente R$ 104 bilhões, seguida pela PagSeguro, com queda de R$ 47 bilhões em valor de mercado no período.
O aumento da regulamentação do governo chinês sobre empresas de tecnologia do país também tem contribuído para turvar a avaliação de especialistas quando se tratam de análises desse segmento em nível internacional.
Na semana passada, a Stone reportou lucro líquido ajustado de R$ 132,7 milhões no terceiro trimestre, queda de 53,9% sobre o resultado de um ano antes.
Analistas esperavam, em média, lucro líquido de R$ 193 milhões. As ações da empresa caíram 34,6% no pregão seguinte à divulgação dos resultados como resposta aos números reportados.
“Os resultados [da Stone] criam incerteza adicional quanto ao momento da recuperação do negócio”, escreveram os analistas do banco Goldman Sachs.
A competição crescente que pressiona as margens do negócio, as despesas acima das expectativas para expandir a operação e a dificuldade para ganhar participação de mercado estão entre os riscos citados pelos analistas do banco americano para a evolução das operações da Stone nos próximos meses.