Folha de S.Paulo

Pilotos e comissário­s decidem entrar em greve na próxima segunda-feira

Categoria cobra reposição inflacioná­ria e manterá 50% do efetivo; sindicato patronal não é encontrado

- Douglas Gavras

CURITIBA Os aeronautas —categoria dos profission­ais que trabalham a bordo das aeronaves, como pilotos e comissário­s— vão entrar em greve na próxima segunda-feira (29). A decisão veio de uma assembleia realizada nesta quartafeir­a (24) pelo SNA (Sindicato Nacional dos Aeronautas).

Pela decisão da categoria, no primeiro dia, metade dos trabalhado­res não vai voar. No dia seguinte, a metade que estava trabalhand­o vai parar, até que as reivindica­ções sejam atendidas.

“As atividades considerad­as serviços essenciais podem fazer greve, mas é preciso manter o serviço mínimo. Entendemos que manter 50% operando já atende ao pressupost­o da legalidade”, afirma o presidente do sindicato, Ondino Dutra Cavalheiro Neto.

Em caso de uma decisão judicial que obrigue que mais trabalhado­res fiquem em atividade, o sindicato pretende fazer ajustes posteriore­s.

De acordo com a entidade, a pauta de reivindica­ções para a renovação da CCT (Convenção Coletiva de Trabalho) dos aeronautas se refere à correção das perdas inflacioná­rias nos salários de dois anos.

Os pedidos tratam da renovação na íntegra do texto vigente, garantindo a manutenção de uma regulament­ação mínima para o exercício da profissão sem riscos para a segurança, diz o SNA.

Segundo o presidente do sindicato, a categoria passou o período da pandemia sendo obrigada a firmar acordos coletivos para suspensão de contratos, licenças não remunerada­s e redução de jornadas e salários.

“Além disso, desde o início das negociaçõe­s, o Snea [Sindicato Nacional das Empresas Aeroviária­s] não garantiu a manutenção das cláusulas atuais da convenção em caso de um novo acordo não ter sido fechado até a data-base da categoria, 1º de dezembro”, diz o SNA.

“Nos últimos meses, enfrentamo­s falências, demissão em massa, dúvidas em relação ao futuro. Queremos pelo menos uma recomposiç­ão inflacioná­ria”, diz Dutra.

“Mas vamos sair mais fortes do que entramos na crise. Representa­mos 7% do custo das empresas, e neste ano quem vai determinar o nosso valor seremos nós.”

“A categoria aceitou reduções de salários desde o início da pandemia, e as empresas estão em boa situação. A Azul tem a maior liquidez da sua história, a Gol efetuou a maior desalavanc­agem desde sua fundação, e a Latam atingiu a maior redução de custo em mais de dez anos”, diz.

Procurado, o Snea não havia comentado a decisão dos aeronautas até a conclusão deste texto.

Em nota divulgada no dia 18, o sindicato que representa as empresas disse que, após uma reunião com a entidade dos trabalhado­res, o SNA declarou não haver uma contraprop­osta, mantendo a pauta inicial, fixada na recomposiç­ão integral do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) dos últimos 24 meses.

“As empresas aéreas, por meio do Snea, mantêm-se flexíveis com relação às negociaçõe­s e continuam engajadas em encontrar a melhor solução para todos”, disse a entidade na ocasião.

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