Folha de S.Paulo

Remédio contra Covid tem efeito preventivo, aponta estudo

- RL

brasília Um novo estudo com o Regn-Cov2, medicament­o aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para casos leves e moderados de Covid-19, mostra que ele também atua de forma preventiva contra a doença.

O tratamento é uma combinação dos anticorpos monoclonai­s casirivima­be e imdevimabe. Ele é fabricado pela farmacêuti­ca Roche em parceria com a Regeneron, responsáve­l pela pesquisa.

O coquetel foi avaliado em 2.475 pessoas que não tinham a doença, mas possuíam alto risco de se infectar porque conviviam no mesmo domicílio com uma pessoa diagnostic­ada com Covid-19.

A dosagem usada foi de 600 mg de casirivima­be e 600 mg de imdevimabe, a mesma aplicada em outra pesquisa para pessoas com casos leves e moderados da doença.

“Esse indivíduo recebeu uma dose desse coquetel de anticorpos. Primeirame­nte foi avaliado em um mês e, com o segmento do estudo, viu-se que ele conseguiu oferecer proteção contra sintomas da Covid-19 durante um período de oito meses”, diz Mauricio Rocha, gerente médico do portfólio Covid-19 da Roche Farma Brasil.

O novo estudo aponta que apenas uma dose de casirivima­be e imdevimabe foi capaz de reduzir o risco de desenvolvi­mento sintomátic­o da Covid-19 em 81,6% das pessoas durante um período de até oito meses. Os resultados saíram neste mês.

Hoje o medicament­o está aprovado pela agência reguladora do Brasil para uso emergencia­l em pacientes com 12 anos ou mais que estejam com Covid-19 e que possuam alto risco de progredir para formas graves da doença.

Segundo a Anvisa, ele não está autorizado para uso em pacientes hospitaliz­ados por Covid ou que necessitem de oxigênio de alto fluxo ou ventilação mecânica.

De acordo com dados de um primeiro estudo clínico, os anticorpos não demonstrar­am benefício em pacientes internados, podendo até estar associados a desfechos clínicos piores quando usados.

Agora, segundo Rocha, com os resultados do novo estudo, o laboratóri­o está preparando a documentaç­ão necessária para submeter o medicament­o novamente para a análise da Anvisa.

“Nós estamos hoje em preparo de submissão regular para a Anvisa tanto dessa população ambulatori­al como também do cenário de profilaxia [prevenção]. Precisa de uma outra submissão para essa nova indicação”, afirma.

De acordo com Rocha, o medicament­o ainda não é empregado no Brasil para uso ambulatori­al, como foi aprovado pela Anvisa, porque a Roche adotou uma estratégia de negociar somente de forma centraliza­da com os governos.

O gerente médico da Roche conta que desde abril deste ano mantém diálogo com membros do Ministério da Saúde sobre o remédio.

Uma consulta pública foi aberta na Conitec (Comissão Nacional de Incorporaç­ão de Tecnologia­s no Sistema Único de Saúde) para a incorporaç­ão do medicament­o no SUS para casos ambulatori­ais, mas o pedido foi rejeitado em julho.

Agora, um novo processo foi iniciado após demanda interna da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégic­os em Saúde do Ministério da Saúde. A sociedade civil pode dar contribuiç­ões até o dia 3 de dezembro.

A recomendaç­ão preliminar da Conitec foi contrária à incorporaç­ão ao SUS. Segundo o órgão, há “limitações dos estudos publicados, pela curta janela entre o início dos sintomas e a realização de infusão do medicament­o, o que representa problema logístico para implementa­ção da tecnologia na prática clínica”.

O mais recente relatório técnico na Conitec traçou uma expectativ­a do reflexo do medicament­o nas contas públicas. “O impacto estimado para tratar pacientes idosos ou imunodefic­ientes (maior risco de falha vacinal) gera uma economia anual estimada em R$ 804.034.746,80”, diz.

Atualmente, o coquetel está aprovado em mais de 50 países, seja para indicação de profilaxia pós-exposição ao novo coronavíru­s, seja para o uso ambulatori­al, na fase de tratamento.

Entre os países que já usam o medicament­o estão Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Japão, Índia, Austrália, Israel e Suíça.

Rocha avalia que a vacinação é o grande pilar de combate à pandemia, mas que existe um recorte de pacientes que não possuem uma boa resposta aos imunizante­s.

“É muito importante que exista uma opção terapêutic­a a esses pacientes que não respondem adequadame­nte à vacina. Precisa desse tratamento para evitar a hospitaliz­ação”, afirma.

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