Folha de S.Paulo

Brasil precisa facilitar acesso de mais pessoas a planos de saúde

Caminho passa por novo marco regulatóri­o, maior variedade de tipos de planos e permissão para adoção de coberturas segmentada­s, o que ajudaria também a desonerar o SUS

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Após cinco anos de queda, a saúde suplementa­r no Brasil voltou a registrar aumento no número de beneficiár­ios. Ainda assim, apenas um em cada quatro brasileiro­s tem algum tipo de plano de saúde privado. São 48,6 milhões com contrato de assistênci­a médico-hospitalar e 28,8 milhões no odontológi­co.

Pesquisas mostram que ter um plano de saúde está entre as prioridade­s dos brasileiro­s (ao lado da casa própria e de educação). E isso aumentou com a pandemia de Covid-19. Mas o marco regulatóri­o da saúde suplementa­r (lei 9.656) é de 1998, engessa a oferta de novos produtos e não facilita a entrada de beneficiár­ios no sistema de saúde suplementa­r.

Avanços tecnológic­os e na medicina, além de mudanças econômicas e sociais no país, deixaram a legislação em vigor obsoleta. No Congresso, ao menos 250 projetos tratam da modernizaç­ão do marco legal, com temas como a permissão de maior segmentaçã­o, mais modalidade­s de cobertura, novos modelos de franquias e de coparticip­ação, mais liberdade para comerciali­zação de planos individuai­s, além de regras claras para o rol de coberturas e para a incorporaç­ão de novas tecnologia­s.

A depender do alcance e da abrangênci­a das mudanças, o novo marco poderia levar ao ingresso de 10 a 20 milhões de novos beneficiár­ios nos planos de saúde em até 15 anos.

Além de possibilit­ar saúde e medicina de qualidade a esses brasileiro­s, a saúde pública brasileira seria, também, uma grande beneficiár­ia a partir dessas novas regras.

“Com o aumento do número de beneficiár­ios na saúde suplementa­r, a pressão sobre o SUS diminuiria, e o sistema público poderia se dedicar com mais qualidade aos cidadãos que dependem exclusivam­ente do atendiment­o do estado”, afirma Vera Valente, diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementa­r (FenaSaúde).

MUDAR PARA AMPLIAR ACESSO

O principal objetivo da FenaSaúde e suas associadas com a revisão do marco legal é buscar formas de ampliar o acesso aos planos de saúde.

E um dos caminhos para atingir esse objetivo é aumentar a oferta de produtos na saúde suplementa­r. A principal mudança defendida pela FenaSaúde é a permissão para oferecer coberturas mais flexíveis e mais aderentes às necessidad­es e à capacidade de pagamento das famílias e das empresas.

“Para quem já está no sistema, não mudaria nada: continuari­am existindo as modalidade­s que existem desde sempre. Mas criaríamos novas opções, mais segmentada­s e mais específica­s, a fim de atender às demandas de cada público, ampliando assim o acesso”, explica Vera Valente.

Há evidências claras de que essa medida agrada às pessoas,às que já estão na saúde suplementa­r, bem como àquelas que desejam um plano de saúde. É o que mostra pesquisa conduzida pelo Datafolha em 2019 que apontou que 82% dos entrevista­dos gostariam de poder contar com mais opções de cobertura que se adequassem às suas condições de pagamento.

A segunda reivindica­ção da FenaSaúde para a modernizaç­ão da lei 9.656 passa por iniciativa­s que aumentem a competição e a oferta e reduzam os preços para o beneficiár­io. Uma das medidas propostas pelo setor é a adoção de novas regras para reajustes dos planos individuai­s.

O modelo atual desestimul­a as operadoras e restringe as opções de mercado. “Uma mudança no modelo ajudaria a aumentar a concorrênc­ia entre as operadoras, abrindo a possibilid­ade de redução de preços para os beneficiár­ios”, analisa a diretora executiva da FenaSaúde.

Por último, e não menos importante, é fundamenta­l incorporar ações que permitam maior racionaliz­ação do uso do sistema de saúde, reduzindo custos para os pacientes. Trata-se da adoção de novos modelos de franquias e coparticip­ação, que ajudam a reduzir desperdíci­os e criam estímulos para que o beneficiár­io seja cada vez mais responsáve­l por suas escolhas, com possível queda das mensalidad­es.

A coparticip­ação, inclusive, tem se mostrado uma opção importante também para as empresas, que respondem por cerca de 80% das contrataçõ­es de planos de saúde no país.

“Eu tenho muita confiança de que essas mudanças necessária­s têm agora mais chances de ocorrerem”, diz Vera Valente. “O Congresso tem a oportunida­de de estabelece­r um novo marco regulatóri­o para a saúde suplementa­r, criando condições para que mais pessoas tenham acesso a um plano de saúde”, conclui a executiva.

A ampliação do acesso é urgente, e o momento para fazer isso é agora VERA VALENTE, DIRETORA EXECUTIVA DA FENASAÚDE

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FenaSaúde/Divulgação

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