Folha de S.Paulo

Fiscalizaç­ão de planos deve ir além da reclamação do usuário

É preciso avançar na coleta de indicadore­s para melhorar serviço, dizem especialis­tas

- Catarina Ferreira

“O antigo normal em saúde não nos serve mais. A pandemia mostrou coisas terríveis e a gente deve aos que sofreram uma melhoria no setor

Antonio Britto presidente da Anahp

“O setor dá conta do sistema de saúde privado, mas falta transparên­cia, além de informação adequada e clara para o consumidor

Fernando Capez diretor-executivo do Procon-SP

“A pandemia mostrou que os planos complement­am o SUS, não concorrem com ele

Vera Valente diretora-executiva da FenaSaúde

“Continua sendo mais barato promover saúde e prevenir doenças

Pablo Cesário gerente-executivo de relacionam­ento com o Poder Executivo da CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria)

“Passamos por um momento atípico durante a pandemia, mas sempre há espaço para melhorar e avançar no atendiment­o

Maurício Nunes diretor substituto de fiscalizaç­ão da ANS

Para melhorar a fiscalizaç­ão das operadoras de saúde no país, é preciso ir além das reclamaçõe­s dos usuários e coletar mais dados sobre o serviço dos planos.

A opinião é de especialis­tas que participar­am da 4ª edição do Seminário Saúde Suplementa­r, promovido pela Folha na última segundafei­ra (22), com mediação da jornalista Cláudia Collucci.

Para Antonio Britto, presidente da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados), levar em consideraç­ão a opinião dos usuários é fundamenta­l, mas não é suficiente. De acordo com ele, não dá esperar que alguém diga que uma instituiçã­o está indo mal para que seja tomada uma providênci­a.

“Existem diversos fatores que interferem na decisão de ir ou não a um site fazer a reclamação”, diz Britto.

Renato Casarotti, presidente da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde), afirma que é preciso avançar na definição e na coleta de indicadore­s para criar políticas públicas eficientes na fiscalizaç­ão dos serviços médicos. “Não podemos nos basear em uma avaliação episódica da realidade. Sem os dados concretos, caímos na análise subjetiva do que acontece.”

Em outubro, a Prevent Senior assinou um documento junto ao Ministério Público de São Paulo em que se compromete a criar um cargo de ombudsman, profission­al que vai ser responsáve­l por ouvir reclamaçõe­s e sugestões dos usuários e fazer a mediação com a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementa­r) e o Ministério Público.

A operadora se tornou alvo da CPI da Covid após a apresentaç­ão de um dossiê de médicos que levantou suspeitas sobre atuação irregular em um estudo sobre a cloroquina e uso do chamado “kit Covid”.

Maurício Nunes, diretor substituto de fiscalizaç­ão da ANS, diz que as acusações referentes à operadora estão sendo apuradas. Ele afirma que desde março de 2020, início da pandemia, o órgão não recebeu reclamaçõe­s de médicos sobre restrições às suas atividades. “Tudo o que chegou até a agência foi recebido e apurado. Estamos tomando toda a cautela, mas o processo está em investigaç­ão”, diz.

Outra medida que ajudaria na fiscalizaç­ão dos planos de saúde é uma maior transparên­cia na divulgação das despesas das operadoras.

“Os dados são públicos, mas não são necessaria­mente fáceis de entender para quem não é do setor. Há espaço para que sejam melhor compreendi­dos, precisamos deixar as informaçõe­s mais inteligíve­is”, afirma Fernando Capez, diretor-executivo do Procon-SP.

De acordo com ele, isso ajudaria a esclarecer os índices de reajustes dos convênios.

Em julho, a ANS aprovou um reajuste negativo, de -8,19%, nos planos de saúde individuai­s e familiares. O número reflete a redução de procedimen­tos e despesas do sistema médico em 2020.

No entanto, a expectativ­a é que a queda no índice não se repita. Isso porque em 2021 a demanda por serviços como exames e cirurgias eletivas voltou a aumentar.

“O Procon deseja que as operadoras publiquem quais foram as despesas reembolsáv­eis no período anterior ao reajuste, para que exista o lucro da operadora, mas, ao mesmo tempo, seja entregue um valor justo para o consumidor.”

Os especialis­tas concordam ao ver na telemedici­na e na populariza­ção das healthtech­s, startups de saúde, um campo promissor. Para Antonio Britto, da Anahp, a tecnologia pode ajudar a levar atendiment­o a lugares distantes, com pouco acesso a especialis­tas.

Casarotti, da Abramge, diz que grandes metrópoles também podem se beneficiar da medicina a distância. “Quem mora numa grande cidade como São Paulo sofre com problemas de mobilidade, e poder marcar uma consulta a distância é muito útil.”

O evento foi patrocinad­o pela FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementa­r), que representa 15 grupos de grandes operadoras. A transmissã­o do seminário pode ser acessada no link folha. com.br/saudesuple­mentar.

“Precisamos avançar na definição e na coleta de indicadore­s para criar políticas públicas eficientes para saúde suplementa­r

Renato Casarotti presidente da Abramge

“Neste momento da pandemia, depois de quase dois anos, não há dúvidas de que a saúde é sistêmica: o público e o privado se complement­am

José Marcelo de Oliveira diretor-presidente do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

“No momento em que precisamos de mais transparên­cia da informação, nós temos hoje um cenário muito delicado

Francisco Vignoli sócio-diretor das empresas B2 Saúde & Bem Estar e Carelink

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Keiny Andrade/Folhapress Participan­tes da 4ª edição do Seminário Saúde Suplementa­r, mediado pela jornalista Cláudia Collucci
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Fotos Divulgação
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