Folha de S.Paulo

Após aumento na pandemia, preços de insumos hospitalar­es começam a cair

Queda na demanda por remédios usados no cuidado de pacientes com Covid explica desvaloriz­ação

- Philippe Scerb

A pandemia levou a uma elevação expressiva dos preços de medicament­os comprados por hospitais. Com a abertura de milhares de leitos, a demanda e o valor dos remédios necessário­s para a intubação de pacientes, por exemplo, explodiram.

Mas a redução nos de casos de Covid e nas internaçõe­s pela doença deve reaproxima­r os preços daqueles praticados antes da crise sanitária.

No acumulado dos últimos 12 meses, a evolução do valor dos insumos hospitalar­es foi menor do que o IPCA: 9,2% contra 10,2%. Na esteira de uma redução de 2,3% em agosto, o preço médio dos medicament­os comprados por hospitais no Brasil caiu 1,3% em setembro, o quarto mês seguido de queda.

É o que mostram os últimos dados divulgados pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisa Econômica) para o índice IPM-H (Índice de Preços de Medicament­os para Hospitais). Desenvolvi­do em parceria com a empresa Bionexo, a medida é calculada com base nas transações realizadas pela plataforma entre fornecedor­es e hospitais no país.

“A história do índice no último período é a história da pandemia”, afirma Bruno Oliva, coordenado­r de pesquisas da Fipe.

Os valores dos insumos hospitalar­es evoluíam, desde 2015, ao mesmo passo que o IPCA. Em meados de 2020, porém, o IPM-H se descolou da inflação. Em parte, em função da desvaloriz­ação cambial e do seu efeito sobre a formação de preços de produtos transacion­ados no mercado internacio­nal. Contudo, a pandemia foi determinan­te.

“Quando você olha a oscilação do índice, você identifica claramente as ondas de contágio pela Covid-19. A cada momento de alta da hospitaliz­ação, observávam­os um grande aumento da demanda por remédios associados ao cuidado dos pacientes e a elevação dos preços”, diz Oliva.

“Vemos agora a desvaloriz­ação dos grupos de medicament­os cujos preços mais subiram. E isso deve se verificar ainda nos próximos meses”, completa.

No pico da pandemia, houve um aumento expressivo do valor do chamado kit intubação. E, embora os últimos meses registrem queda dos preços médios dos insumos hospitalar­es, o forte aumento ao longo da crise sanitária faz com que os valores continuem bem acima daqueles praticados no período anterior.

Um estudo da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementa­r) mostrou que, entre 2019 e os três primeiros meses de 2021, o preço do relaxante muscular rocurônio, utilizado em pacientes sob ventilação mecânica, subiu 216%. Já o Midazolan, anestésico usado no processo de intubação, teve aumento de 524%.

Segundo Vera Valente, diretora-executiva da entidade, 2021 tem sido uma tempestade perfeita para as operadoras de planos de saúde. Se em 2020 muitos procedimen­tos eletivos foram cancelados, neste ano elas tiveram que lidar com as consequênc­ias do represamen­to dessas consultas e cirurgias ao mesmo tempo em que a segunda onda da Covid lotava os hospitais.

“Tivemos um grande aumento do número de pacientes internados e do custo dessas internaçõe­s. Os hospitais entraram em desespero com a falta do kit intubação e foram atrás de fornecedor­es em todas as partes do mundo”, diz ela.

Uma das causas da alta expressiva dos preços de insumos hospitalar­es foi, justamente, gargalos de oferta. Para o economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvi­mento Industrial) Rafael Cagnin, o problema teria sido ainda maior se as empresas nacionais não tivessem reagido aos primeiros sinais da crise e acumulado estoques de insumos importados.

Quando esses estoques acabaram, porém, a capacidade limitada de produção da cadeia global e dificuldad­es logísticas impostas pela pandemia agravaram o quadro. O que revelou, segundo Cagnin, a vulnerabil­idade de um sistema produtivo nacional que perdeu a capacidade de competir com os fabricante­s de insumos chineses e indianos.

“O acúmulo de estoque foi uma alternativ­a pontual, mas ela é onerosa e não resolve o problema da vulnerabil­idade da nossa cadeia produtiva”, afirma ele.

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