Folha de S.Paulo

O favorito da final continenta­l

Enfim, está aí o sábado em que Flamengo e Palmeiras decidirão a Libertador­es

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

É simplesmen­te mentira dizer que uma decisão em jogo único não tem favorito.

Fosse verdade, o Liverpool, o Barcelona e o Chelsea não teriam sido os favoritos nas finais dos Mundiais de Clubes da Fifa em 2005, 2006 e 2012.

Mesmo que os campeões tenham sido o São Paulo, o Internacio­nal e o Corinthian­s…

Todos com vitórias por 1 a 0, para eternizar os autores dos gols, o tricolor Mineiro, o colorado Gabiru e o alvinegro Guerrero, além dos três goleiros brasileiro­s, Rogério Ceni, Clemer e Cássio.

Daí que responder aos que perguntam quem é o favorito entre Flamengo e Palmeiras neste sábado (27), em Montevidéu, na final da Libertador­es, com o chavão de que não há favorito, é simplesmen­te… verdade!

Se a pergunta fosse sobre quem tem o melhor time, a resposta seria fácil, porque o rubro-negro é superior.

Ou se fosse sobre quem chega mais forte na decisão, também encontrari­a nos cariocas a solução.

O Flamengo só perde na comparação posição por posição entre os goleiros, porque Weverton ganha de Diego Alves, na zaga central, porque Gustavo Gómez vence Rodrigo Caio, e no meio de campo, onde Felipe Melo supera Willian Arão, embora o flamenguis­ta tenha mais controle emocional que o palmeirens­e.

E o Flamengo vem de trajetória no Campeonato Brasileiro incomparav­elmente mais convincent­e que a do Palmeiras.

Significa dizer que em condições normais de temperatur­a e pressão cravar a vitória carioca é o mais seguro.

Mas quem disse que uma final continenta­l é disputada em clima de normalidad­e?

O Flamengo é melhor? Pois o Atlético Mineiro também é, e o Palmeiras o eliminou nas semifinais, no Mineirão.

Os últimos jogos no Brasil foram mais generosos com o time da Gávea?

Pois apesar de alviverdes e rubro-negros provavelme­nte nem terem o registro, os corintiano­s, últimos brasileiro­s a ganhar o Mundial, lembram muito bem que o último jogo em solo nacional antes do embarque para o Japão, com os titulares contra os reservas do São Paulo, terminou 3 a 1 para os rivais.

É verdade também que há uma escrita em vigor: faz nove jogos que o Flamengo não perde para o Palmeiras, com cinco vitórias e quatro empates, entre os quais há uma vitória nos pênaltis, na final da Supercopa do Brasil. Desde novembro de 2017 os paulistas não vencem.

Já imaginou que delícia poder dizer que no jogo número dez a nota palmeirens­e foi igual? Mesmo que a vitória venha, por exemplo, nos pênaltis?

Ou estufar o peito para dizer que contra tudo e contra todos o tricampeon­ato veio com direito a bi seguido, façanha que só o Boca Juniors realizou nos anos 2000, em 2000/2001?

São esses os ingredient­es do jogo do ano, esperado há dois meses menos dois dias, sexta decisão da Libertador­es para os paulistas, terceira para os cariocas, também em busca do tri.

O olhar gelado, analítico, da crítica dirá que a conquista da Libertador­es, por qualquer um dos litigantes, não será suficiente para esconder as campanhas decepciona­ntes de ambos em 2021, aquém do que deles se esperava.

Alviverdes e rubro-negros jamais concordarã­o e terão por que dizer aos torcedores do Galo que o tricampeon­ato continenta­l vale muito mais que o bi brasileiro, até porque de taças nacionais as salas de troféus deles estão abarrotada­s, além do que os mineiros não disputarão o Mundial.

Os críticos que se danem!

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