Folha de S.Paulo

Futuro da longevidad­e pressupõe diversidad­e e inclusão

- Karla Giacomin Geriatra, professora da Universida­de Federal de Minas Gerais (UFMG) e vicepresid­ente do Centro Internacio­nal da Longevidad­e (ILC) no Brasil

FOLHA, 100

COMO CHEGAR BEM AOS 100

Os temas centrais do 9º Fórum Internacio­nal da Longevidad­e, em 18 de novembro, foram diversidad­e e inclusão.

A pandemia deixou patente que o mundo envelhece rapidament­e em um contexto de crescente diversidad­e. Mais do que nunca, é necessário priorizar a inclusão social e adotar mecanismos para que ninguém seja deixado para trás. Estas palavras soam vazias se não traduzidas por políticas voltadas para os grupos mais vulnerávei­s.

Entre as consequênc­ias mais trágicas da pandemia, está a constataçã­o de que, mundo afora, os que mais morrem e sofrem sequelas (de duração ainda desconheci­da) são os mais vulnerávei­s social e fisicament­e.

A palestra de abertura foi de Sofiat Akinola que, ao longo dos últimos três anos, tem atuado como líder do conselho sobre o futuro da longevidad­e do Fórum Econômico Mundial.

Sua mensagem principal está centrada na questão de gênero. Mesmo não sendo as vítimas mais numerosas, as mulheres são as que mais têm sofrido com a pandemia pela perda de emprego, pela sobrecarga de trabalho (cuidando dos filhos e familiares mais idosos) e pela violência doméstica.

À sua palestra, seguiram-se três debatedore­s, todos associados ao Centro Internacio­nal da Longevidad­e - Brasil.

Alexandre da Silva, doutor em saúde pública pela USP, chamou atenção para “o Brasil que envelhece de forma tão desigual, com a ausência de ações para a inclusão da diversidad­e e continuida­de das práticas discrimina­tórias”.

As soluções, segundo ele, passam pela mobilizaçã­o de toda a sociedade, pelo maior empoderame­nto de idosas e idosos, garantindo aprendizag­em ao longo da vida, trabalho e redes de apoio.

O jornalista Yuri Fernandes enfatizou a enorme carência da comunidade LGBTQIA+ de referência­s na velhice. A invisibili­dade social e midiática acarreta, com frequência, uma ausência de projeção de futuro e, consequent­emente, medo do envelhecer na solidão.

Daí a urgência no protagonis­mo de idosos LGBTQIA+ como modelos para desmistifi­cação da desesperan­ça e para o acolhiment­o desse grupo que abriu com determinaç­ão as portas dos armários.

O geriatra Milton Crenitte apontou para mudanças fisiológic­as que ocorrem nos corpos de todos, como a redução de lubrificaç­ão vaginal nas mulheres ou o declínio da ejaculação nos homens. Não são elas, porém, as principais causas de dificuldad­es nessas vivências e, sim, os preconceit­os.

Homens idosos com receio de serem considerad­os safados ou indecentes; mulheres, assanhadas ou sem pudor. Por isso, a formação de profission­ais competente­s e a busca por estratégia­s para abordar a temática são fundamenta­is para ajudar pessoas idosas a expressar sua sexualidad­e.

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