Guerra do streaming tira astros do berço da Globo
Executivos da indústria veem com bons olhos o desmantelamento do velho ‘star system’, que fortalece o audiovisual
são paulo
Angélica e Camila Pitanga deixaram a Globo e foram para a HBO Max. Lázaro Ramos e Ingrid Guimarães assinaram contrato de exclusividade com o Amazon Prime Video. Na Netflix, exastros do canal, como Bruna Marquezine, Rodrigo Sant’Anna, Reynaldo Gianecchini e Leandro Hassum, participam de séries e filmes da plataforma.
Notícias como essa têm surgido com frequência. Talentos que se firmaram na TV aberta migram para o streaming. Há quem diga que todo o “star system” montado pela Globo está se desmantelando. Mas quem é do ramo vê a mudança com bons olhos —o audiovisual brasileiro está crescendo.
Esse novo cenário tem duas causas principais. A primeira é a reestruturação da Globo, que começou há pelo menos sete anos. As alterações incluem a consolidação das diversas empresas do grupo —projeto conhecido internamente como “Uma Só Globo”—, a simplificação do organograma, a venda da gravadora Som Livre para a Sony Music e a reformulação da maneira como a empresa se relaciona com suas estrelas e equipes.
Este último item significa o fim de quase todos os contratos a longo prazo, substituídos pelos por obra certa. De dois anos para cá, deixaram a Globo medalhões como Antonio Fagundes, Vera Fischer, Tarcísio Meira e Glória Menezes, entre dezenas de outros. Então, uma grande quantidade de famosos está disponível.
A segunda causa foi a chegada ao Brasil dos gigantes do streaming. Todas essas plataformas sabem que precisam produzir conteúdo no país se quiserem atrair e manter o espectador brasileiro. O resultado é que esses serviços têm quase uma centena de projetos nacionais em desenvolvimento, entre longas, séries, reality shows e até novelas.
“Este é o melhor momento da TV brasileira”, afirma Elisabetta Zenatti, vice-presidente de conteúdo da Netflix para o Brasil —com exceção dos filmes, que ficam a cargo de Adrien Muselet. “Agora, produtores podem pensar grande. O mercado é muito maior do que quatro anos atrás.”
Historicamente, o Brasil adotou o chamado modelo vertical de produção para a TV —a própria emissora faz quase tudo o que exibe. Nenhum outro grande mercado, dos Estados Unidos à Argentina, faz coisa semelhante. Lá, os canais só costumam produzir seus telejornais. Todo o resto é encomendado a produtoras externas.
Hoje a própria Globo está abandonando o modelo vertical, apesar de ainda produzir muito. Por outro lado, as plataformas de streaming vêm montando equipes de criação, contratando não só atores, como roteiristas e executivos que vieram da TV aberta.
Monica Albuquerque, exdiretora de desenvolvimento e acompanhamento artístico da Globo, agora é “head” de talentos artísticos da WarnerMedia para a América Latina, dedicada em especial à HBO Max. Uma das primeiras medidas que tomou foi contratar Silvio de Abreu, autor de inúmeras novelas e ex-diretor de dramaturgia da Globo, para fazer telesséries — neologismo que faz mais sentido em espanhol, pois combina as palavras “telenovela” (os folhetins) e “série”. Na prática, serão novelas mais curtas, com cerca de 50 capítulos.
“É um desafio grande”, diz Albuquerque. “Estamos criando um gênero híbrido, com melodrama e ritmo de série. Temos a primeira história brasileira, escrita por Raphael Montes, de ‘Bom Dia, Verônica’, da Netflix, e até o fim do ano escolheremos a primeira do México.”
Quer dizer que o streaming está se aproximando da TV aberta? “Nós queremos atingir um público maior, mas também oferecer programas que você não encontra em outro lugar”, responde Malu Miranda, diretora de originais para o Brasil do Amazon Prime Video. “A TV aberta continua existindo, então você tem que trazer outras coisas.”
Zenatti acrescenta que, a partir do momento em que há uma base grande de assinantes, é necessário produzir conteúdo que interesse a todos.
Em geral, o mercado oferece três tipos de contrato. Há os que contemplam uma obra e não exigem exclusividade —a Netflix trabalha muito com esse. É o caso de Tainá Müller e Reynaldo Gianecchini —que farão “Bom Dia, Verônica”—, Bruna Marquezine e Manu Gavassi —da série “Madlivas”— e Rodrigo Sant’Anna —que roda a sitcom “A Sogra que te Pariu”, com plateia.
Já Camila Pitanga e Angélica assinaram contratos “first look” com a HBO Max. Elas têm de oferecer primeiro à plataforma qualquer projeto em que estejam interessadas, mas podem bater em outras portas se ouvirem um “não”.
Há ainda os contratos de exclusividade, como os que Lázaro Ramos e Ingrid Guimarães firmaram com a Amazon. Durante três anos, todos os projetos deles têm de ser com a plataforma. Ramos, inclusive, já começou a dirigir um longa.
“Discordo que haja uma migração em massa”, diz Ricardo Waddington, diretor de entretenimento da Globo. “A quantidade de contratações feitas em 2021 é enorme. Temos 321 atores sob contrato, 292 autores, 154 diretores. Produzimos 94 títulos diferentes este ano nos Estúdios Globo. Somos a maior produtora de audiovisual em língua portuguesa.”
Waddington lista quem teve os contratos renovados recentemente —Fernanda Montenegro, Lima Duarte, Chay Suede, Tatá Werneck, Taís Araújo, Tony Ramos, Mariana Ximenes, Marina Ruy Barbosa. Também lembra os casos de Renato Góes e Caio Castro, que saíram e depois voltaram.
O fato de o streaming se aventurar a fazer novelas tampouco o assusta. “Existe uma dificuldade para repetir o modelo da Globo, construído durante anos. Eles vão ter que descobrir novas maneiras.” Mas também vê com bons olhos. “Está surgindo um ambiente saudável. Com isso, a indústria toda sai fortalecida.”
são paulo A Pinacoteca de São Paulo começa neste mês as obras da Pina Contemporânea, o novo anexo da instituição dedicado à arte contemporânea, e deve finalizar os trabalhos em dezembro de 2022. A previsão é que abra para o público no mesmo mês.
Com esse que será o terceiro espaço da instituição, o acervo deve ser ampliado de 10,5 mil obras para 13,5 mil nos próximos anos. A instituição também pretende aumentar os comissionamentos, que já são feitos num local conhecido como octógono do prédio principal da Pinacoteca na Luz.
O anúncio das obras foi feito em entrevista coletiva nesta terça e contou com a presença dos secretários de Cultura estadual e municipal — Sérgio Sá Leitão e Aline Torres, nesta ordem— e do diretor do museu, Jochen Volz.
Sérgio Sá Leitão reforçou durante o anúncio que o projeto é “aberto e convidativo para a população”. “Este edifício”, disse ele sobre o prédio principal da Pinacoteca, “é voltado para dentro”. “A Pina Contemporânea será voltada para fora, para que as pessoas entrem e se apropriem dela.”
Segundo ele, a inauguração do anexo reforça a perspectiva da “cultura como um dos vetores de revitalização do centro” da capital paulista.
O projeto ainda integrará um conjunto de ações para pessoas em situação de vulnerabilidade que vivem na região, envolvendo cursos educativos e gratuidade das mostras.
O Jardim da Arte, espaço do parque da Luz, será inclusive cedido pela prefeitura para a Pinacoteca, que deve usar o local para exibir obras de arte de grandes proporções.
“O que vai ser possível com o novo espaço é reforçar o programa de comissionamento e desenvolver programas que talvez não sejam só expositivos, que envolvem outras formas de interação com o público”, afirmou Jochen Volz, reforçando o caráter experimental das obras que devem chegar ao espaço no parque.
Ainda não se sabe que artistas devem integrar a programação do novo edifício quando ele for inaugurado.
Sá Leitão afirmou ainda que a gestão tem feito um programa intenso de aumento do acervo nos últimos anos, tanto em comodatos de coleções privadas quanto com aquisições. A expansão do acervo com a nova reserva técnica na Pina Contemporânea acontecerá com esses dois modelos, ainda segundo o secretário.
Foram investidos R$ 85 milhões na obra do edifício —R$ 55 milhões vieram do governo do estado de São Paulo e os outros R$ 30 milhões de doadores privados.
Além da área expositiva, o espaço terá uma nova reserva técnica, dois ateliês para projetos educativos, auditório, mirante, biblioteca e área com café e restaurante.
A Pinacoteca se soma a outros museus tradicionais que têm aumentado os espaços expostivos com novos anexos. É o caso do Masp, que anunciou neste ano projeto de anexo no edifício que ficou anos em disputa e será ligado à sede por um túnel sob a avenida Paulista. O Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, conseguiu aumentar o número de obras do acervo exibidas para o público em sua reforma mais recente.
Com esse novo anexo, que amplia a área total da Pinacoteca de 16,2 mil metros quadrados para 22 mil, a perspectiva da instituição é receber 1 milhão de pessoas por ano.